O vereador Professor Juliano Lopes (PTC) tirou a máscara do rosto para falar durante uma sessão na Câmara Municipal de Belo Horizonte (CMBH), nessa terça-feira (9). No vídeo, o político pede ao presidente da reunião para retirar a máscara, por avaliar estar numa distância segura dos demais presentes. Além disso, Juliano Lopes disse que estava gripado no dia anterior. O registro do momento está circulando nas redes sociais, e os internautas desaprovaram a atitude do vereador, ressaltando que os protocolos sanitários de segurança contra a Covid-19 deveriam ser seguidos pelos parlamentares.
Durante a sessão, o vereador pede autorização para retirar a máscara antes de começar a falar no palanque. “Boa tarde aos vereadores presentes. Presidente, vou pedir, se possível, para retirar a minha máscara. Estou numa distância confortável dos demais vereadores, se o senhor me autoriza a tirar a máscara?”. O comandante da reunião autoriza que Juliano Lopes tire o acessório de proteção, e o professor revela que estava com sintomas de gripe. “Melhor para poder falar e me expressar melhor. Bom, presidente, ontem eu estava incapacitado de falar devido a uma gripe”, revelou o político.
Cena na Câmara de BH
— Lucas Ragazzi (@LRagazzi) March 9, 2021
– Presidente, posso tirar a máscara para falar melhor? Estou a uma distância confortável dos outros vereadores
– Autorizado, vereador
– Obrigado. Ontem eu estava incapacitado de falar devido a uma gripe… pic.twitter.com/N3soCmk53l
‘Onde estão os protocolos sanitários?’
A repercussão do vídeo nas redes sociais foi bastante negativa, e os internautas questionaram se os vereadores de Belo Horizonte não estariam seguindo os protocolos sanitários de segurança contra a Covid-19. “Pior é a Presidente da Câmara de BH autorizar o vereador a tirar a máscara para discursar dentro do plenário fechado. Onde estão os protocolos sanitários que parece não estão sendo seguidos pelos vereadores?”, perguntou uma pessoa. Uma outra respondeu dizendo que a presidente da CMBH utilizava uma máscara de acrílico, ao que a primeira rebateu dizendo que eles estão “dando um mal exemplo danado nessa pandemia”.
Meu Deus….graças a pessoas assim que digo igual ao “Sid do filme a Era do gelo”: a gente vai morrer… pic.twitter.com/svEwPCsKkg
— Renata Leal Martins?? (@RenataLealMarti) March 9, 2021
Sinceramente, não consigo fechar o diagnóstico… ignorância, má fé, sem noção, burrice…
— Líla #vacinajá????? (@LiliaMartins14) March 9, 2021
É muita falta de noção.
— Marco Galo – Vacina Já. (@marcobhdias) March 9, 2021
Isso é falta de entendimento do motivo de usar máscara,ignorância pura e disseminada com a maior velocidade. As pessoas recebem ordens, mas não recebem treinamento,conhecimento…
— Maryelle Faria ? (@MaryelleFaria) March 10, 2021
Fui ao mercado e o rapaz tirou a máscara para ASSOPRAR a luva pra pegar o queijo. De quem é a culpa?
Transmissão por gotículas de saliva
O BHAZ entrevistou o médico infectologista Leandro Curi para falar sobre a atitude do vereador. Ele disse que a tal “distância confortável” para ficar sem máscara não é segura, e explicou o porque. “A pessoa que fala emite partículas, e a gente tem que lembrar que parte da infecção é assintomática, então ‘ah, eu vou tirar a máscara’, mas se eu estou assintomático eu vou transmitir. Quem está falando e usa a máscara filtra mais do que quem vai receber aquela conversa ali, ou seja, é muito mais importante quem está emitindo a fala utilizar a máscara, do que o outro que está só ouvindo. Na verdade é importante os dois utilizarem, mas o emissor de fala, de partículas, ele tem que utilizar a máscara pois é o filtro que a gente tem”.
“Quando a pessoa fala, além de emitir as gotículas que ficam ali próximas, pois elas caem no chão e no emissor, ela emite aerossóis, que são partículas ainda menores que ficam horas e horas em suspensão no ar. Então a pessoa fala alto, ri, grita ou canta, as partículas ficam em suspensão no local por horas, e pode vir alguém horas depois e se contaminar, ainda mais se a troca de ar for débil”, disse o infectologista. Ele ainda ressaltou que o problema torna-se ainda mais grave dentro da Câmara Municipal, uma vez que a circulação de ar é feita por meio de ar condicionados, que oferecem uma troca aérea ruim.
Leandro Curi relembrou as principais formas de contaminação da Covid-19, sendo uma de forma indireta, que é por meio dos aerossóis que ficam em suspensão no ar por horas antes de cair no chão. “A forma mais direta é por gotículas, ou seja, eu estou falando perto de você, estou emitindo particulazinhas de saliva que podem cair nas suas vias aéreas, que é nariz e boca, e aí te contamina”. O médico infectologista ainda chamou a atenção para o fato do vereador Juliano Lopes estar gripado, porque hoje está sendo identificado pelos profissionais de saúde como suspeita de Covid-19.
“A pessoa teve gripe ou qualquer sintoma gripal, procure assistência médica. Porque, de repente, nesse caso, ele poderia inclusive ter sido afastado de um modo médico para ser testado. Então fica a lição, além do uso da máscara, procure um médico, o momento agora pede isso para sintomas gripais. Qualquer sintoma gripal merece afastamento e investigação”, reforçou. O infectologista Leandro Curi também ponderou sobre o mau exemplo dado pelo representante político ao dispensar a máscara para falar em local cheio. “A pessoa que está vendo aquilo vai acreditar que realmente a máscara para falar em alguma tribuna e em algum lugar é uma opção, e nesse momento ela não é uma opção”.
Câmara possui protocolos sanitários
Em março do ano passado, a presidente da Câmara Municipal de Belo Horizonte, Nely Aquino (Pode), anunciou medidas de prevenção e orientação a serem seguidas dentro da Casa. Segundo a CMBH, ficou disponível nas portarias e em outros locais do prédio álcool em gel, e informações sobre os sintomas e dicas para evitar o contágio foram distribuídas em todos os canais de comunicação. Além disso, a Câmara informou que a Seção Médica da Casa recebeu equipamentos para identificar e encaminhar eventuais casos suspeitos de Covid-19 e, caso necessário, o servidor poderia ser dispensado do dia de trabalho.
À época, Nely Aquino ressaltou a importância da colaboração do poder público e da sociedade civil para conter a disseminação da Covid-19. De acordo com a fala da presidente “é fundamental que a Câmara Municipal faça a sua parte, contribuindo nesse esforço coletivo e preservando a saúde de vereadores e vereadoras, colaboradores e colaboradoras e também do cidadão que participa de eventos, promove manifestações, acompanha reuniões, utiliza os serviços oferecidos ou visita a Casa”. O BHAZ entrou em contato com o vereador Juliano Lopes, questionando o motivo de ele não ter ficado em casa, uma vez que o político apresentou sintomas suspeitos de Covid-19. Entretanto, a reportagem não obteve respostas até a publicação desta reportagem. Caso o vereador queira se manifestar, a matéria será atualizada.
Com CMBH