Médicos infectologistas que integram o comitê de enfrentamento à Covid-19 da PBH (Prefeitura de Belo Horizonte) fizeram um alerta, na tarde desta sexta-feira (12), para a situação crítica do avanço da doença que precisa ser enfrentada na capital mineira. “Vamos nos unir, se não essa situação vai piorar. O serviço vai colapsar. Estamos no pré-colapso, que vai depender da ação cidadã de cada um de nós”, afirmou o especialista Estevão Urbano. O alerta foi feito durante a entrevista coletiva em que o prefeito Alexandre Kalil (PSD) anunciou novas medidas de restrição em BH (veja mais aqui).
“Nós já comentamos que certamente não tínhamos visto a pior face da pandemia, e estamos começando a ver essa face agora. Qualquer coisa significa colapso no sistema, e colapsando o sistema, não adianta ter plano de saúde. Não vai conseguir internar. Estamos vendo no interior que as pessoas precisam ser assistidas em casa. O que vimos em Manaus está chegando muito perto da gente”, complementou o infectologista Carlos Starling.
O médico chamou atenção para a disseminação das novas variantes do SARS-CoV-2, que, segundo estudos, podem ser mais letais do que as já conhecidas. “Isso afeta outras faixas etárias, pessoas mais jovens, isso é de gravidade extrema. O momento atual é de muita reflexão e muita atenção por parte de toda população. É momento de ficar em casa e circular o mínimo e, se tiver que fazer isso, seja com máscara, distanciamento e todas medidas de higiene. É um apelo”, afirmou Starling.
Mais crianças internadas
O secretário Municipal de Saúde de Belo Horizonte, Jackson Machado, também alertou para o maior número de crianças infectadas pela Covid-19 nos últimos tempos. De acordo com ele, cada vez mais casos de crianças internadas com síndromes respiratórias são registrados em BH. “Estamos fazendo um acompanhamento dos leitos pediátricos. Em dezembro de 2020, tivemos 35 casos de síndrome respiratória, dos quais 20% [ou 7] eram infectados pela Covid-19. Em janeiro [de 2021], foram 60 casos da síndrome, e 8 eram Covid-19”, afirmou.
Ainda de acordo com o secretário, em fevereiro, o número mais do que dobrou e atingiu 132 casos da síndrome. Dentre essas crianças, 15 testaram positivo para Covid-19. Em março, já são 109 casos, com 16 positivos para a infecção pelo SARS-CoV-2. “Ou seja, esse surto novo que estamos experimentados é por essa cepa, P1, que acomete pessoas mais jovens. Nossa faixa etária caiu para 41 anos de vida, pessoas mais jovens estão sendo acometidas e ficando internadas mais tempo. São casos graves, que demandam internação em UTI”, completou Jackson Machado.
Indicadores no vermelho
De acordo com o boletim epidemiológico divulgado pela PBH hoje, a cidade tem 89,2% dos leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) destinados ao tratamento da Covid-19 com pacientes, e a ocupação dos leitos de enfermaria está em 75,6%. O número médio de transmissão por infectado também subiu e está em 1,25, o que deixa todos os indicadores no nível vermelho e máximo de alerta. Quando Kalil decretou a volta à estaca zero, na sexta-feira passada, as UTIs estavam 81% ocupadas e os leitos de enfermaria, 61,9%.
Em entrevista realizada ao BHAZ ontem, o médico infectologista Unaí Tupinambás, integrante do comitê de enfrentamento à Covid-19 da PBH, já adiantava a preocupação com o cenário do sistema de saúde. “A situação do Brasil todo está preocupante, estamos tendo recordes de mortes diárias. O sistema funerário de algumas regiões do país pode colapsar, tem lugar que já não tem leito mais. Mesmo em BH, pode ter um colapso do sistema de saúde”, afirmou o especialista.
Tupinambás disse, ainda, que o ideal seria um movimento nacional para brecar o avanço da Covid. “Se fizéssemos um lockdown de 21 dias, no Brasil, o prejuízo econômico seria muito menor do que o que vamos ter com o enfrentamento inadequado da pandemia. Também precisaríamos de um auxílio emergencial decente, porque R$ 200 são para morrer de fome”, afirmou. “Um prefeito não teria o poder que um presidente tem de decretar um lockdown, acho que só mesmo um presidente poderia decretar medidas mais duras assim. Na prefeitura, a gente chama, solicita que as pessoas entendam o momento e colaborem”, finalizou o médico infectologista.