Prefeitura de BH não consegue patrocínio para Carnaval e blocos grandes dizem que farão cortejos a duras penas

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Em falta do patrocínio, PBH deve retirar dinheiro do tesouro municipal para realizar o Carnaval 2023 (Amanda Dias/BHAZ)

Faltando um mês para o Carnaval BH 2023, alguns dos grandes blocos que desfilam no Centro enfrentam dificuldades financeiras para colocar o trio nas ruas. Organizadores dos blocos Faraó e Funk You temem não poder seguir o padrão dos anos anteriores na folia deste ano. Enquanto isso, a Prefeitura de Belo Horizonte segue sem conseguir patrocínio para a grande festa.

Reinaldo Proença, um dos fundadores do bloco Faraó, contou ao BHAZ que os próprios integrantes costumavam contribuir, mas, com a pandemia, a ajuda acabou diminuindo. “Os custos do Carnaval estão lá nas alturas e o dinheiro que a prefeitura disponibiliza não dá para pagar o trio elétrico”, conta Reinaldo.

Outro grande bloco que está enfrentando dificuldades financeiras é o Funk You. Conforme o fundador Lucas Moraes, o cenário sempre foi ruim, mas acabou piorando para o Carnaval de 2023. “Temos um certo apoio do poder público, mas, financeiramente, é distante do que consideramos essencial”, declara.

Carnaval 2023 será maior de todos os tempos

O Carnaval BH 2023 está previsto para ser o maior já visto na capital mineira. Segundo a PBH (Prefeitura de Belo Horizonte), serão mais de 500 atrações espalhadas pela capital, e cerca de 5 milhões de foliões festejando nas ruas.

Diante da expectativa, os organizadores alguns blocos famosos no Carnaval de BH estão preocupados com a qualidade do desfile por causa da falta de recursos financeiros.

A conta não fecha

Neste ano, a PBH disponibilizou entre R$ 7 mil e R$ 20 mil para cada bloco que participou do edital para o desfile no Carnaval de 2023. Embora o valor do patrocínio público tenha crescido em relação ao último Carnaval de BH (máximo de R$ 12 mil), os custos para colocar um grande bloco na rua também aumentaram.

O edital é dividido entre as categorias A (R$ 20 mil), B (R$ 12 mil) e C (R$ 7 mil), e cada bloco escolhe em qual delas deseja concorrer. O requisito para receber os recursos vai conforme a pontuação obtida pelos blocos, que considera a história, aspectos culturais, trabalho com a sustentabilidade, entre outros.

Dos 479 blocos cadastrados para o Carnaval BH 2023, 196 se inscreveram no edital e apenas 71 foram aprovados pela prefeitura para receber o recurso financeiro.

Lista de gastos

Segundo um levantamento feito pelo BHAZ, um bloco de porte grande (público aproximado de 300 mil pessoas) tem custo de aproximadamente R$ 70 mil para conseguir desfilar com estrutura completa. Confira a lista de gastos:

  • Trio Elétrico
  • Carro de Apoio
  • Equipe de apoio e cordeiro
  • Alimentação e hidratação
  • Efeitos visuais
  • Plotagem do trio elétrico
  • Músicos e técnicos de som.
  • Microfonação de instrumentos
  • Fotografia
  • Filmagem
  • Material de consumo e pulseiras
  • Ambulância

Robson Abreu, presidente da AbraBH (Associação dos Blocos de Rua de Belo Horizonte), relata a alta nos preços. “Em 2020, um trio elétrico era R$ 5 mil, e hoje estão cobrando R$ 10 mil, fora as camisas que pagávamos R$ 9,90 cada e o pessoal está cobrando R$ 29,90 a R$ 40. Brigadista era na faixa de R$ 120 e hoje está em torno de R$ 190”.

“Todo mundo está querendo tirar o atraso, quem aluga o trio elétrico quer tirar o atraso, então o custo está muito maior. Todos os nossos custos ficaram muito altos”, conta Fernanda Honorato, outra fundadora do bloco Faraó.

De acordo com Reinaldo, as contas não estão fechando. “Não tem como contratar o trio elétrico, não consigo contratar a equipe de segurança, nem pensar na pirotecnia. A gente contrata músicos, a bateria tem dificuldade, o pessoal tem dificuldade até para investir em fantasia”.

‘Se a gente diminui a qualidade, temos dificuldade de desfilar’

“Impacta bastante na segurança dos ritmistas, na ala de dança e na qualidade do som. Se a gente diminui a qualidade do trio, temos dificuldade de desfilar porque estamos na área central de BH, precisamos de um som potente, de muita gente tocando e de um volume sonoro que não é qualquer trio que dá”, diz Fernanda.

Lucas Moraes, do Funk You, também se preocupa com o som e com o espetáculo em si, que podem ser prejudicados com a escassez do recurso.

“A gente acaba tendo que fazer um desfile mínimo e a duras penas sem poder entregar o que realmente gostaríamos. Temos uma imaginação muito fértil para o Carnaval, poderíamos estar trabalhando com empresas de decoração, de fogos de artifício, todos poderiam estar ganhando se os recursos fossem mobilizados”.

Prefeitura de BH ainda não conseguiu patrocínio para o Carnaval

Além das dificuldades financeiras dos blocos em particular, o Carnaval de BH 2023 também sofre como um todo, pois a PBH ainda não conseguiu patrocínio para a folia. Para manter a festa de pé, a Belotur adiantou, em nota ao BHAZ, que utilizará recursos do tesouro municipal para viabilizar o evento, caso seja necessário (leia a nota na íntegra abaixo).

Robson Abreu, da AbraBH, enxerga a solução no investimento privado. Empresas de entrega de refeições estão fora da rodada de patrocínios ao Carnaval de BH 2023, e pretendem ficar apenas no eixo Rio-São Paulo.

“Antes da pandemia, BH foi vista com o terceiro maior Carnaval do Brasil, ganhamos até de São Paulo. E como a capital mineira não consegue patrocínio? Já é o terceiro edital que a Belotur solta, mas mesmo assim não se conseguiu empresas para patrocinar a festa”, aponta Robson.

Prefeitura lança 3 editais de captação de patrocínio para o Carnaval de BH

Em dezembro do ano passado, a prefeitura de BH publicou um novo edital para captação de patrocínio para financiar o Carnaval de 2023. O novo modelo conta com cotas de investimento financeiro, com cinco chancelas que totalizam 18 cotas, da seguinte forma

a) APRESENTA: 1 cota disponível, no valor mínimo de R$ 10 milhões;
b) PATROCÍNIO MASTER: 1 cota disponível, no valor mínimo de R$ 5 milhões; 
c) PATROCÍNIO: 2 cotas disponíveis, no valor mínimo de R$ 1 milhão cada;
d) APOIO: 4 cotas disponíveis, no valor mínimo de R$ 500 mil cada;
e) COLABORAÇÃO: 10 cotas disponíveis, no valor mínimo de R$ 250 mil cada. 

“Eu faço um clamor à rede hoteleira e aos supermercados, que poderiam muito bem começar a ajudar a gente. Eles lotam durante o Carnaval e, desses milhões que recebem, poderiam ajudar com 5%. Porque já são 10 anos que o Carnaval de rua pegou em BH e ainda não temos essa ajuda”, reclama Robson Abreu.

O integrante da associação de blocos destaca que fez contato com as empresas para propor patrocínio em setembro do ano passado, mas não obteve respostas concretas. “A gente enquanto bloco se sente frustrado por ter esse marketing todo do Carnaval de BH, e a Belotur ainda não conseguiu patrocínio aos 45 do segundo tempo”.

Blocos estão ‘a duras penas’

Diante do cenário, os blocos avaliam se irão desfilar no Carnaval deste ano ou fazer um cortejo menor do que o esperado. Segundo o fundador do bloco Faraó, existe o risco do grupo não sair neste Carnaval com a mesma qualidade dos anos anteriores.

“Estamos tendo que repensar, estamos a poucos dias do Carnaval e temos que ver o tamanho da festa que queremos fazer”, afirma Fernanda, a outra fundadora. Lucas Moraes, do Funk You, diz que vai sair com o bloco este ano, mas com a mesma questão de queda da qualidade.

“A gente já assinou um compromisso com o pessoal da ala de dança, estamos ensaiando há dois meses, então estamos mobilizando e juntando dinheiro da forma como pode, vendendo shows e tirando cachê dos músicos para pagar o desfile, mas estamos a duras penas”.

Nota da Belotur na íntegra

A Belotur informa que não está medindo esforços na busca de possíveis patrocinadores para o Carnaval de Belo Horizonte 2023. No entanto, é importante ressaltar que boa parte dos serviços necessários para a realização da festa já são desempenhados regularmente pelos órgãos municipais, tais como limpeza urbana, segurança, transporte público, etc. Por isso, a edição deste ano acontecerá normalmente e já tem seu período oficial divulgado: 4 a 26 de fevereiro. O Carnaval de Belo Horizonte é um dos principais produtos turísticos da cidade. Para além da sua importância cultural e de entretenimento, a festa gera emprego e renda para vários setores da sociedade. Caso seja necessário, o recurso para viabilização do evento será proveniente do tesouro municipal.

Edição: Pedro Rocha Franco
Andreza Miranda[email protected]

Graduada em Jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e repórter do BHAZ desde 2020. Participou de duas reportagens premiadas pela CDL/BH (2021 e 2022); de reportagem do projeto MonitorA, vencedor do Prêmio Cláudio Weber Abramo (2021); e de duas reportagens premiadas pelo Sebrae Minas (2021 e 2023).

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