Mestre do choro de BH, Bolão morre aos 96 anos

Bolão (D), ao lado do saudoso Seu Mozart, é uma referência para as novas gerações de choro (Pedro Silveira/Choro Livre)

O choro de Belo Horizonte amanheceu triste com a partida do violonista de sete cordas, Raimundo José dos Reis, o querido Bolão, de 96 anos. Além de exímio instrumentista (também tocava saxofone), ele era o dono do Bar do Bolão, que mantém a tradição de oferecer ao público uma roda de choro todas as quintas-feiras, desde 1992.

Nascido em 28 de maio de 1922, em Diamantina, veio trabalhar em Belo Horizonte a convite de Juscelino Kubistchek, tornando-se uma das referências do choro na capital mineira e tinha no currículo o fato de ter acompanhado o poeta Cartola. Bolão faleceu vítima de insuficiência respiratória, por volta das 5h desta quarta-feira (19) no bairro Padre Eustáquio, região Oeste da capital.

“Meu pai teve uma passagem bem tranquila, na casa onde mora, ao lado dos filhos e da família”, disse Haroldo Ilen dos Reis, um dos cinco filhos de Bolão.

Pelas redes sociais, vários amigos e músicos lamentaram a morte do mestre. “Muito obrigado por tudo, seu Raymundo, muito obrigado por tudo, meu amigo e professor, Bolão!”, postou o cavaquinista Warley Henrique, um dos principais talentos da nova geração do choro, que durante anos fez parte da roda do Bar do Bolão, às quintas-feiras.

O violonista Silvio Carlos conheceu Bolão ainda na década de 1980. “O apelido que ele tinha era de infância, porque era grande jogador de futebol. O Bolão sempre foi uma pessoa amável, carinhosa e disponível. Tocava o violão sete cordas sem inverter as cordas uma vez que era canhoto. Tinha uma forma peculiar de tocar violão”, afirma Sílvio.

Ele conta que a roda de choro no Padre Eustáquio nasceu, no início da década de 1990, de um convite de Bolão para que ele e Ausier Vinicius, dono do Pedacinhos do Céu, fizessem uma reunião de chorões no bar recém-inaugurado. Alaíes (pandeiro) Ildeu Vilanova (bandolim), Zito (pandeiro), Seu Mozart (violão), José Carlos (cavaquinho), Jonas Cruz (bandolim), Sampaio (Trombone de vara), entre outros, eram frequentes nas rodas.

“Bolão foi muito importante para o movimento do choro. O bar era um ponto de encontro de várias gerações de chorões, tendo ele como o mais velho. Os jovens que hoje tocam choro pelos bares da cidade iam aprender com a gente lá. Foi no Bolão também que criamos o Clube do Choro de Belo Horizonte. Somos a terceira capital do choro no país, tanto em número, como pela qualidade e importância dos músicos, e sem dúvida o Bolão tem sua contribuição nisso”, garante Sílvio.

“Outro fato marcante era que Bolão presenteou todos os amigos com instrumentos musicais, pandeiros, violões, cavaquinhos, maioria dos músicos ligados a ele receberam presentes musicais”, completa.

Na década de 1970, Bolão conheceu o sambista Cartola, que segundo o próprio mineiro, chegou a frequentar sua casa, na rua Vila Rica. “O Bolão sempre foi amigo dos músicos”, atesta Sílvio Carlos. Em 2008, Bolão recebeu homenagem do projeto Choro Livre, ao lado de outras grandes figuras do gênero, como Paulo Moura, Ausier Vinícius, Seu Mozart, entre outros.

O velório está previsto para às 16h, na Funerária Metro Paz (avenida do Contorno, 3.000, Praça Floriano Peixoto, Santa Efigênia) até a meia-noite. Depois, o corpo sairá direto para Diamantina onde será enterrado às 10h.

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