Seis fatos que prejudicaram a popularidade de Bolsonaro nos últimos 10 dias

Rafael Carvalho/Equipe de Transição

O resultado da pesquisa CNT\MDA , divulgado no último dia 26, revelou que o governo de Jair Bolsonaro é visto como bom ou ótimo para 38,9% da população brasileira (relembre aqui). Esse é o pior desempenho para início de mandato de um presidente desde 2003 no país. Se a popularidade de Bolsonaro já não era grande até a última semana, como ela ficará após o Carnaval? Os seis fatos a seguir mostram que possivelmente a popularidade do presidente despencou. Vamos a eles:

1 – O Golden Shower

Na Quarta-feira de Cinzas, o Presidente Jair Bolsonaro publicou em sua conta oficial do Twitter uma cena pornográfica, de teor escatológico, gravada no Carnaval de São Paulo, no qual um homem coloca o dedo no ânus e, em seguida, se abaixa para outro homem urinar nele (veja aqui). A publicação repercutiu internacionalmente, ganhando destaque no jornal americano “The New York Times”, no britânico “The Independent”, no paraguaio “Última Hora”, entre outros suportes midiáticos. A repercussão negativa da postagem foi tamanha que ela figurou entre os assuntos mais comentados e ridicularizados mundialmente no Twitter. A hashtag #impeachmentBolsonaro ocupou a primeira posição no Twitter mundial. Por meio dela, milhares de brasileiros alegaram que o presidente cometeu um crime de improbidade administrativa por proceder de modo incompatível com a dignidade e o decoro do cargo.

2 – A Vitória da Mangueira

O desfile da Mangueira (relembre aqui), no Carnaval carioca, trouxe para a passarela a resistência de indígenas, de negros e de heróis populares, cujas histórias foram silenciadas por um discurso historiográfico eurocentrado, elitista e excludente. Entre as figuras populares exaltadas estava Marielle Franco, ex-vereadora do PSOL, brutalmente assassinada em 2018. Após a vitória, o carnavalesco Leandro Vieira, autor do enredo, criticou o Presidente Bolsonaro em uma entrevista que viralizou nas redes sociais. No vídeo da entrevista, o sambista afirma “é um recado político também para o Presidente mostrar que o Carnaval é isso aqui. O Carnaval é a festa do povo. O Carnaval é cultura popular. O Carnaval não é o que ele acha que é. O Carnaval é isso. E ele deveria mostrar para o mundo o Carnaval da Mangueira”.

3 – O grito das ruas no Carnaval

Nunca na história do Carnaval brasileiro um presidente foi tão xingado e vaiado como Bolsonaro (veja aqui). Com apenas dois meses de mandato, o presidente foi lembrado por incontáveis foliões e blocos carnavalescos em todo o país. Fizeram parte da identidade visual e sonora do Carnaval deste ano “fantasias de laranja”, marchinhas satíricas e xingamentos coletivos contra o presidente eleito. Esses xingamentos, gravados e divulgados em vídeos, viralizaram nas redes sociais, descortinando uma insatisfação popular em relação ao governo e um desconforto nacional em relação às denúncias de corrupção envolvendo o PSL, partido de Bolsonaro.

4 – A “cegueira ideológica” do filho do Presidente

Na véspera do carnaval, o filho do Presidente, Eduardo Bolsonaro, escreveu em seu Twitter que o ex-presidente Lula queria “posar de coitado” no enterro de seu neto Arthur, de sete anos, vítima de uma meningite (relembre aqui). O comentário infeliz e insensível repercutiu negativamente em vários setores da sociedade. O Pastor evangélico Silas Malafaia, por exemplo, repreendeu o deputado, acusando-o de falta de compaixão. Em seu Twitter, o pastor escreveu “O filho do presidente Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro, perdeu uma ótima oportunidade de ficar com a boca fechada”. Essa lamentável polêmica respinga no mandato do Presidente Bolsonaro, pois é conhecida publicamente a influência dos filhos no governo eleito.

5 – Bolsonaro diz que país investe muito em educação

Na segunda-feira de Carnaval, o Presidente escreveu em seu Twitter que “o Brasil gasta mais em educação em relação ao PIB que a média de países desenvolvidos”. Esse comentário está em sintonia com o pensamento da deputada federal do PSL, Joice Hasselmann, indicada para líder do governo no Congresso, que afirmou ser contra aumentar os investimentos na educação. No entanto, Bolsonaro e Joice Hasselmann não publicizaram que de acordo com estudo da “Education at Glance 2017” a média anual de investimentos por aluno dos países desenvolvidos é de 10.759 dólares, enquanto o Brasil investe, em média, apenas 4.240 dólares anuais. Nesse sentido, é fundamental, para o avanço social, investimentos mais substanciais na educação brasileira. A posição de Bolsonaro, dessa maneira, desagradou diretamente professores e sindicatos que lutam pela melhoria educacional no país.

6 – A gravação do hino nas escolas

Na semana passada, o Ministério da Educação enviou um texto a diretores de escolas públicas e privadas, pedindo que executem o hino nacional e que façam a leitura de uma carta do ministro Ricardo Vélez Rodríguez, a qual se encerra com o slogan da campanha eleitoral do presidente Jair Bolsonaro: “Brasil acima de tudo. Deus acima de todos” (relembre aqui). Além disso, o texto pedia que o momento cívico fosse filmado e enviado ao governo. O pedido repercutiu negativamente e gerou polêmica entre educadores e estudantes. O Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Educação (Consed), por exemplo, alegou que a ação do MEC fere não apenas a autonomia dos gestores, mas dos entes da Federação: “o ambiente escolar deve estar imune a qualquer tipo de ingerência político-partidária”. O “Movimento Escola sem Partido” também criticou a postura do MEC em suas redes sociais.

Esses 6 fatos ocorreram nos últimos 10 dias e, com certeza, devem resultar na perda de popularidade da figura do Presidente. É importante lembrar que as críticas não vieram apenas de opositores do governo, mas também de eleitores que votaram em Bolsonaro. A perda de popularidade, no atual contexto político, é péssima para o presidente, pois pode atrapalhar a votação de pautas consideradas fundamentais e estruturantes para o sucesso do governo, como a Reforma da Previdência. Dessa maneira, observando essas 6 últimas polêmicas, quem tem se mostrado como maior oposição à figura de Bolsonaro não é a esquerda, mas sim o próprio Bolsonaro.

Duda Salabert[email protected]

Duda Salabert é professora de literatura, ambientalista e acadêmica de Gestão Pública pela UEMG. Ativista no campo da educação popular, idealizou e preside a Transvest: ONG que oferece há quatro anos cursos gratuitos para travestis e transexuais de BH. Vegana há sete anos, desenvolve projetos e ações de conscientização ambiental e de defesa dos direitos dos animais.

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