por Andréia de Jesus, deputada estadual da Gabinetona pelas Muitas/PSOL
Ninguém fala “o Minas Gerais”. Nosso Estado é um dos poucos, dentre os 26 Estados do Brasil, que é sempre endereçado em sua forma feminina. Mas, infelizmente, as mulheres de Minas ainda ocupam um espaço secundário nos registros históricos e nos espaços de poder do Estado. Na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, por exemplo, somente em 1962 uma mulher foi eleita para o cargo de deputada estadual, 102 anos após a fundação desse órgão legislativo.
Quando fazemos o recorte de raça, isso é ainda mais grave. Somente em 2018, a primeira leva de mulheres negras conseguiu ocupar esse espaço pela primeira vez em 185 anos de história. Se sou hoje a presidenta da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher, é porque, antes de mim, Marília Campos, junto ao movimento de mulheres, lutou pela instalação dessa comissão dentro da casa legislativa e pela transformação desse espaço institucional em uma Comissão Permanente. Esse foi um importante passo para abrir os caminhos para nós dentro de uma casa legislativa que, até o ano passado, nunca precisou pensar em licença-maternidade para deputadas.
Com as aberturas que estamos construindo nesse Estado ainda extremamente masculino e branco, precisamos fazer ecoar as vozes de muitas outras mulheres que não podem continuar a ser excluídas da história de Minas Gerais. Neste ano, o Estado completa 300 anos, e, como uma forma de fortalecer a história de resistência das mulheres que abriram caminhos para as lutas de hoje, vamos realizar o “Sempre Vivas: Mulheres, história e resistência”, evento com várias ações da ALMG para a semana do dia 8 de março.
Na sexta-feira (6), vamos fazer um grande ato para homenagear 42 mulheres que fizeram história em Minas Gerais, e que se transformará em audiência pública em um complexo de eventos em uma tenda armada na Praça Sete, em Belo Horizonte, a partir das 13h. A ideia é que possamos levar para o coração da cidade a discussão sobre os direitos das mulheres e sobre os problemas estruturais que estamos enfrentando com mais intensidade nos últimos anos, como o feminicídio, a violência obstétrica e os ataques ao direito à moradia e o encarceramento em massa das mulheres e da juventude negra.
Falar sobre esses temas, principalmente o feminicídio, na atual conjuntura é extremamente importante. Segundo dados do Atlas da Violência 2018, diariamente, 13 mulheres são assassinadas, e a maior parte delas são negras; o número de feminicídios contra mulheres negras aumentou mais de 60% na última década, enquanto o de mulheres não negras aumentou 1,7%. Com essa variação, a taxa de homicídios de mulheres negras chegou a 5,6 para cada 100 mil, enquanto a de mulheres não negras terminou 2017 em 3,2 por 100 mil. Enquanto isso, o poder executivo estadual e federal divulgam dados sobre a redução no número de crimes violentos no país, ignorando que as mulheres estão morrendo dentro de seus próprios lares!
Vamos juntas nos fortalecer e pensar em formas de enfrentarmos coletivamente, com a força das ruas e das instituições criadas para garantir a defesa dos direitos das mulheres, essas questões. Espero a todas as mulheres – quilombolas, indígenas, faveladas, das ocupações, servidoras públicas – na sexta-feira, aqui no Palácio da Inconfidência e na Praça Sete, para participar da programação do Sempre Vivas, para escrever comigo uma outra história das minas, das gerais e de Minas. É tempo de lembrar de Carolina Maria de Jesus, Helena Greco, Dona Tiana da Silva, Dona Fininha, Dona Valdete e tantas outras que fazem deste Estado a potência que é.