Crítica: ‘A Lenda de Tarzan’ agrada ao público adolescente em uma produção cheia de efeitos especiais

Divulgação/Warner Bros.

O épico grito do Tarzan vem tarde demais. Longínquo e fora de tempo, já nos últimos atos de um filme que mais parece tratar-se de super-heróis da Marvel do que da epopeia do filho da selva. “A Lenda de Tarzan” estreou nos cinemas brasileiros na quinta-feira (21) em uma produção cheia de efeitos especiais, muita ação e descomprometida com a narrativa clássica do escritor-norte americano Edgar Rice Burroughs, que criou um dos personagens mais emblemáticos da literatura de ficção no início do século 20 — o Tarzan.

Neste longa, Tarzan — ou melhor, Lord Clayton (Alexander Skarsgård) — é apresentado como um lorde inglês totalmente civilizado e longe das árvores. Entre flashbacks desconexos e rápidas tomadas perdidas no tempo, o passado selvagem de Tarzan e a sua história com Jane vão sendo reconstruídos aos poucos, sem grandes cerimônias.

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Lord Clayton (Alexander Skarsgård) é o Tarzan Imagem: Warner Bros.

O enredo toma fôlego quando o enviado norte-americano George Washington Williams (Samuel L. Jackson), reporta à corte britânica os descalabros da escravidão praticada no Congo, no seio do continente africano — selva onde Tarzan cresceu e foi criado por uma família de primatas.

De volta ao coração da África, muita ação, efeitos gráficos e selvageria tomam a atenção do espectador — predominantemente formado pelo público adolescente, é claro, já que Tarzan é Alexander Skarsgård, o galã da série de tevê True Blood. Ainda com um investimento alto no que toca aos efeitos gráficos, a selva e os animais não têm a vivacidade do cenário de “Mogli: O Menino Lobo” (2016).

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Em detalhe: todos os animais representados ao longo do filme são produtos de computação gráfica Imagem: Warner Bros.

Ademais, Alexander Skarsgård passa ao largo de construir um Tarzan que chegue aos pés do memorável Johnny Weissmuller, em “O Filho das Selvas”, de 1932. Aqui, o selvagem é um produto demasiadamente comercial, sem o mistério, a maldade e a pouca humanidade que envolvem a construção original do personagem — o qual era conhecido pelo obscuro apelido de o “espírito maligno da selva” pelas tribos africanas que o temiam.

Afora que, ao lado de um elenco que conta com Samuel L, Jackson, como seu parceiro de aventura, e com Christoph Waltz, como um vilão odioso, Alexander Skarsgård fica totalmente ofuscado. O ponto para o galã vai pela expressão corporal que imprime nas passagens nas quais contracena com animais concebidos por computação gráfica — sobretudo em uma cena que retrara a luta corportal entre Tarzan e um gorila. É de tirar o fôlego.

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Luta corporal entre um gorila e o Tarzan (Alexander Skarsgård) em uma passagem de tirar o fôlego Imegem: Warner Bros.

Ainda assim, Alexander Skarsgård não convence na pele de Tarzan. Relembre o clássico grito de Tarzan, por Johnny Weismuller, em 1932:

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É de causar surpresa o fato de “A Lenda de Tarzan” ser dirigido pelo ótimo David Yates, que tem quatro filmes da saga Harry Potter no currículo. Neste longa, a sua assinatura também está apagada.

O trunfo (algo raro) de “A Lenda de Tarzan” está no roteiro. Acertadamente, os roteiristas acentuaram a questão racial e da exploração cruel dos colonizadores —que, embora esteja presente na estória original de Edgar Rice Burroughs, ao ser trazida em cena, corrobora com um tema bastante atual. Há cenas fortes de congoleses amarrados, escravizados, sendo transportados em vagões de trens como animais encarcerados.

Um prato cheio para Samuel L. Jackson, que em “Django Livre (2012)” e em “Os Oito Odiados” (2015) deu vida à personagens preponderantes no que toca ao tema escravagista.

George Washington Williams (Samuel L. Jackson) encurralado por uma tribo de selvagens Imagem: Warner Bros.
George Washington Williams (Samuel L. Jackson) encurralado por uma tribo de selvagens Imagem: Warner Bros.

Em “A Lenda de Tarzan” as melhores passagens, os tons de humor e os pontos altos do filme estão fora do alcance do protagonista que dá nome ao filme. O abolidor da escravidão George Washington Williams, interpretado por Samuel L. Jackson, carrega nas costas a metade do que o longa tem a oferecer de bom. A outra metade está nas costas do ambicioso vilão Leon Rom, criado pelo excepcional Christoph Waltz.

“A Lenda de Tarzan” decepciona os fãs de cinema por investir em uma megaprodução que chega perto de afrontar o clássico “Tarzan, O Filho da Silva”. Contudo, o público adolescente sai da sala de cinema com os olhos ludibriados pela excessiva computação gráfica e pela beleza do ator britânico Alexander Skarsgård.

Divulgação/Warner Bros.
Tarzan (Alexander Skarsgård) e George Washington Williams (Samuel L. Jackson), em segundo plano, em uma cena de ação e Imagem: Warner Bros.

Confira o trailer legendado de “A Lenda de Tarzan”, que está em cartaz em todos os cinemas de Belo Horizonte:

Guilherme Scarpellini

Guilherme Scarpellini é redator de política e cidades no Portal BHAZ.

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