Crítica: ‘Café Society’ sintetiza o que há de melhor em Woody Allen

Divulgação/Film Nation Entertainment

“A vida é uma comédia escrita por um humorista sádico”, reflete a apaixonada Vonnie (Kristen Stewart), sobre as reviravoltas, encontros e desencontros que afligem o relacionamento com Bobby Dorfman (Jesse Eisemberg). Esse roteirista trágico-cômico a quem se refere (obviamente) não poderia ser outro senão o prórpio Woody Allen, que entrega o seu “Café Society”, no auge dos 80 anos, em uma volta aos melhores tempos do diretor.

Seu 47º longa-metragem — o primeiro no qual abandona a película para assumir de vez o cinema digital — abriu o Festival de Cannes, em maio último, chegando aos cinemas brasileiros somente nesta semana. A espera valeu: “Café” traz a elegância impecável do cinema alleniano em um enredo nostálgico e delicioso, que muito lembra o seu filme de maior sucesso, “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa” (1977).

Ambientado na década de 1930, o jovem nova-iorquino Bobby (Jesse Eisemberg) parte para Hollywood, em Los Angeles, na esperança de ser acolhido pelo tio Phil Stern (Steve Carell) — um bem-sucedido agente das grandes estrelas de cinema —, a quem pede emprego.

Trabalhando para Phil, Bobby se apaixona pela secretária Vonnie — interpretada pela atriz (sem sal) Kristen Stewart, da saga “Crepúsculo” (2008). Ocorre que Vonnie é amante do tio Phil, que decide acabar com o casamento de 25 anos para assumir a relação com a secretária. Bobby, incomodado ao fechar a ponta desse triângulo amoroso, decide retornar a Nova York. Lá, ele retoma a vida com sua família judia e conhece outra mulher, com quem se casa e tem filho. Anos mais tarde, o casal Phil e Vonnie, de passagem por Nova York, vai ao encontro de Bobby. Como era de se esperar, os antigos amantes dão o perdido em Phil e se reaproximam.

Vonnie é amante de Phil, tio e chefe de Bobby (Divulgação/Film Nation Entertainment)
Vonnie (Stewart) é amante de Phil (Carell), tio e chefe de Bobby (Divulgação/Film Nation Entertainment)

Temas dicotômicos caros ao diretor como o judaísmo e cristianimso, culpa e indulgência, encontros e desencontros e, claro, Nova York (a que ama) e Los Angeles (a que detesta), permeiam todo o enredo de “Café”, filme iluminado sob a ótica do icônico Vittorio Storaro — um dos maiores diretores de fotografia da história do cinema, responsável pelos Oscars de “Apocalypse Now” (1971), “Reds” (1981) e “O Último Imperador” (1987).

A primeira metade do longa, passado na ensolarada Hollywood, a dupla Allen e Storaro opta por rodar o filme todo em tons de sépia, invocando sensações nostálgicas, as quais remetem aos filmes Technicolor da década de 1930. Tons beges e amarelados tornam as cenas douradas, imergindo o espectador em uma viagem no tempo. Da segunda metade adiante, quando as cenas são rodadas em Nova York, o longa adquire uma textura mais sóbria, predominando tons frios — o que remete ao estado de espírito do protagonista, agora mais maduro, sensato e moderado.

Em Hollywood, os apaixonados Vonnie (Stewart) e Bobby (Eisenberg) Reprodução/Film Nation Entertainment)
Em Hollywood, os apaixonados Vonnie (Stewart) e Bobby (Eisenberg) Reprodução/Film Nation Entertainment)

Se o padrão estético é divido em duas partes distintas, a excelência nos enquadramentos e nas composições de cena são absolutas durante os 96 minutos de longa. Allen e Storaro executaram um trabalho de arte magistral, fazendo de “Café” o longa mais bonito desde “Meia-Noite em Paris” (2011).

“Café” é um filme sobre a vida — escrita e dirigida por Woody Allen. Sendo assim, salpicada com muito jazz, humor negro e belíssima fotografia.

Neste domingo (29), em cartaz no Belas Artes, às 14h30; 16h40; 19h e 21h10. Nos shoppings Boulevard, às 17h20 e 21h10; Del Rey, às 16h30 e 21h; no Diamond, às 13h30, 16h, 18h30 e 21h10; no Ponteio, às 14h40, 16h50, 19h e 21h10; e no Pátio Savassi, às 12h30, 15h, 17h30 e 20h15.

Guilherme Scarpellini

Guilherme Scarpellini é redator de política e cidades no Portal BHAZ.

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