Crítica: ‘Esquadrão Suicida’ desperdiça ótimos personagens em enredo raso

Divulgação/DC Comics

Uma megaprodução envolvendo um time de supervilões dos quadrinhos, elenco de estrelas e orçamento milionário não poderia alçar outro resultado senão o sucesso, certo? Errado. “Esquadrão Suicida”, a principal estreia da semana, é apelativo, confuso e um tanto superficial.

Os nove ótimos personagens da DC Comics — vilões da mais alta periculosidade encarcerados pelo governo dos Estados Unidos da América — se veem diante da chance de ter suas penas reduzidas quando a chefe do serviço de inteligência norte-americano, Amanda Waller (Viola Davis), os escala para encabeçar uma missão suicida: pôr fim aos malfeitos de um grupo terrorista de meta-humanos. O problema é que o time de grandes nomes dos quadrinhos o qual o diretor David Ayer tem à mão é desperdiçado. Cada um deles é apresentado de forma rasa, sem estabelecer os arcos dramáticos que merecem.

Nesse sentido, os primeiros 30min do longa são reservados para a apresentação dos supervilões em um trabalho de edição tão didática que chega a beirar o infantil: cada supervilão é apresentado por meio de uma ficha de atributos, uma música e um curto videoclipe — como em jogos de videogame. (Oras, isso aqui é cinema, portanto espera-se histórias e construções minimamente aprofudadas dos personagens). Há ainda apelações à passagens clássicas do cinema que funcionam somente com o público adolescente. Exemplo: a cena em que Arlequina corre em direção às grades da prisão e bate com a cabeça, forçando um desmaio é bem melhor na passagem original. (Uma reprodução da memorável cena protagonizada pela prodígio Juliette Lewis em ‘Assassinos Por Natureza’, filmasso de Oliver Stone, de 1994). Veja:

O recurso sonoro é outra apelação em detrimento de uma construção aprofundada dos personagens. Clássicos como “House of Rising Sun”, do The Animals, e “Fortunate Sun”, do Creedence Clearwater Revival podem ser ouvidos logo na introdução do longa — para aguçar a curiosidade do público adolescente, o qual, garanto, jamais os ouvidos foram tocados por tais notas.

Contudo, os únicos personagens que são razoavelmente aprofundados por meio de flashbacks e que trazem algo de complexidade em suas psychés são os ótimos Arlequina (Margot Robbie), Pistoleiro (Will Smith) e El Diablo (Jay Hernandez). Antes que sintam falta, é claro: o Coringa (Jared Leto), sobre o qual não se deve gastar linhas quando se tem como referência o magistral Coringa de Heath Legder, em “Batman – O Cavaleiro das Trevas”, de 2008, e de Jack Nicholson, em “Batman”, de 1989.

Voltemos aos pontos altos de “Esquadrão Suicida”. A maravilhosa Margot Robbie cria de forma triunfal a personagem Arlequina, ou Haley Quinn — antiga psicóloga do manicômio Arkahn, a qual acabou se apaixonando pelo Coringa com quem travou uma relação obsessiva. Margot Robbie, além de linda, entendeu completamente a personagem e, sem dúvida, é o grande trunfo de “Esquadrão Suicida”.

Arlequina (Margot Robie) é o grande trunfo de 'Esquadrão Suicida' (Reprodução/DC Comics)
Arlequina (Margot Robie) é o grande trunfo de ‘Esquadrão Suicida’ (Reprodução/DC Comics)

O Pistoleiro, personagem que nunca errou um tiro sequer, por si só já traz uma história interessante. Interpretado por Will Smith é outro ponto alto que faz valer o ingresso do cinema, protagonizando as melhores cenas do longa.

Will Smith, em Pistoleito, personagem central da trama (Divulgação/DC Comics)
Will Smith, em Pistoleito, personagem central da trama (Divulgação/DC Comics)

A grande surpresa, portanto, está em El Diablo ­— um latino pirotécnico extremamente poderoso. O ator Jay Hernandez é quem dá vida a um personagem complexo com um passado de arrepiar. Sua história, seus poderes e a postura enigmática que imprime ao longo do filme, fazem com que El Diablo seja o personagem mais interessante do longa.

El Diablo (Jay Hernandez), o personagem mais complexo do filme (Divulgação/DC Comics)
El Diablo (Jay Hernandez), o personagem mais complexo do filme (Divulgação/DC Comics)

Contudo, o enredo peca ao propor uma exploração rasa de grandes personagens retirados das páginas de ouro da DC Comics. No entanto, acerta ao inovar em uma estética completamente diferente. Ao mesmo tempo que evoca uma miscelânea de paletas de cor, consegue imprimir uma obscuridade, tensão e baixa luminosidade em cenas absolutamente tenras. Algo que lembra, ainda que de longe, as produções de Frank Miller.

Ademais, as cenas de batalha conseguem tirar o fôlego com boas passagens em slow-motion as quais cativam pela riqueza de detalhes e um excelente acabamento de arte.

Não obstante, “Esquadrão Suicida” passa ao largo de honrar a sétima arte relegando elementos do enredo que não podem faltar em um bom filme. É apenas diversão.

Traileir oficial do “Esquadrão Suicida” legendado em português:

Guilherme Scarpellini

Guilherme Scarpellini é redator de política e cidades no Portal BHAZ.

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