LUTO

Saí agora para entregar para os meus colegas da UPA as máscaras faciais que recebemos por doação da Fiocruz. Estava animada até sair na minha rua e ver o comércio reabrindo, as filas nos bancos, as pessoas aglomeradas nos pontos de ônibus e a vida seguindo como em dias normais. Uma parte significativa da população perdeu o medo.

É isso que dá cada autoridade falando uma coisa e divulgando números que certamente estão de 10 a 15 vezes menores que os números reais. Eles venceram.

Sem testes, não temos a dimensão do problema e, assim, chegamos com dois baldes de água para apagar o incêndio de um prédio de vinte andares.

Sem renda, o trabalhador informal uma hora ia sair de casa. Se o presidente não paga, esta é a consequência óbvia. Entre morrer de fome e de vírus, eles pelo menos vão arriscar comer. Essa é a política de morte. Acode bancos e desampara o povo mais pobre.

Enquanto isso, atentos às previsões catastróficas de um futuro, que é logo ali, gestores das unidades de pronto-atendimento constroem tendas, ampliam leitos, capacitam equipes, fortalecem a rede de assistência para receber os milhares de doentes que chegarão.

Eu sinto muito. Esta foto aqui em destaque na coluna aparecerá em muitos perfis daqui pra frente. Talvez mais de um milhão deles. Profissionais de saúde que estão arriscando suas vidas pra que o menor número de mortes ocorra, já perderam grande parte de suas forças. Eu nem sei mais o que escrever.

Júlia Rocha[email protected]

Júlia Rocha é médica de família e comunidade, cantora, doula e ativista. Às voltas com os desafios da maternidade, concilia o samba, a medicina e a luta por direitos sexuais e reprodutivos das mulheres, pela humanização da assistência ao pré-natal, parto e puerpério, por saúde pública e universal de qualidade e a luta contra o racismo.

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