Bolsonaros descobrem que pimenta nos olhos dos rivais não era colírio

Bolsonaro faz a defesa de seu filho em conversa com a imprensa no Palácio da Alvorada (Isac Nóbrega/PR)

Nas entrevistas que o presidente Bolsonaro concedeu, neste final de semana, um dos assuntos mais comentados foi o da alta exposição de seu filho mais velho. Chamado de ‘01’, o senador Flávio Bolsonaro (também sem partido) é alvo de investigações contra ele feitas pelo Ministério Público do Rio de Janeiro. E com aval da Justiça estadual.  

Flavio Bolsonaro é acusado de chefiar organização criminosa que desviaria dinheiro público. E por suposta lavagem de dinheiro em transações imobiliárias e com sua loja de chocolates Kopenhagen.

O presidente classificou a ocorrência como abuso de autoridade na atuação do Ministério Público. Disse que não interfere nas investigações, mas defendeu uma forma de controle sobre o Ministério Público. Afirmou ainda que há vazamentos na investigação para desgastar o filho e atingir a ele próprio.

Interferência “sem querer querendo”

As declarações dele por si só sugerem interferência. “Sem querer querendo”, claro. Ainda acusa um ex-aliado, o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), de interferir no inquérito por motivos eleitorais. Witzel estaria interessado, segundo ele, em concorrer à Presidência em 2022. E disse mais: “Se eu não tiver a cabeça no lugar, eu alopro”.

Vira e mexe, surgem aí as discussões de interesse político, abusos de autoridade, investigação e julgamento para todos, que ninguém estaria acima da lei. É aquele velho ditado “pimenta nos olhos dos outros é colírio”. A família Bolsonaro aplaudiu lá atrás esse método policialesco, do estado policial no qual se condena publicamente para depois ouvir o outro lado e julgar.

Estado policialesco foi intensamente aplaudido

Os diversos adversários de Bolsonaro foram alvos desse método amplificado pelo ex-juiz Sério Moro, então na 13ª Vara de Curitiba (PR), onde ele recorreu a prisões preventivas, condução coercitiva, delações premiadas, vazamentos e outros excessos do tipo revelados por outros vazamentos, os do site Intercept Brasil.

O site ‘Antagonista’, por exemplo, se projetou com os vazamentos de Curitiba, quando anunciava prisões antes mesmo de elas serem efetivadas.

Bolsonaro não só aplaudiu tudo isso, como dele foi beneficiado, quando se elegeu nesse contexto de combate à corrupção, quando impediram de disputar e prenderam o ex-presidente Lula (PT) e quando ainda levou para o seu governo o mesmo Sérgio Moro.

Hora de pensar e fazer mea-culpa

Os excessos do modelo já foram reprovados até pela Suprema Corte e confirmam agora que não tem limites. Agora, arde nos olhos de quem aplaudiu lá atrás e dizia ser a favor do combate à corrupção. Se assim for, não pode reclamar de interesses políticos nem do modelo policialesco adotado e aprovado por eles contra seus adversários.

Será que irão fazer mea-culpa, repensar a respeito ou a coisa saiu do controle? “Se era bom é porque não era comigo”. E agora?

PS- Para quem não acredita em Papai Noel

Desejo que todos invistam na alegria de viver e em um clima de paz neste Natal junto aos familiares e amigos (e também, por que não?, com os colunistas). Eu volto na próxima sexta, para avaliarmos as expectativas do ano novo, o 2020, e a influência que as eleições municipais terão sobre ele. Até lá.

Orion Teixeira[email protected]

Jornalista político, Orion Teixeira recorre à sua experiência, que inclui seis eleições presidenciais, seis estaduais e seis eleições municipais, e à cobertura do dia a dia para contar o que pensam e fazem os políticos, como agem, por que e pra quem.

É também autor do blog que leva seu nome (www.blogdoorion.com.br), comentarista político da TV Band Minas e da rádio Band News BH e apresentador do programa Pensamento Jurídico das TVs Justiça e Comunitária.

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