Indefinição da sucessão presidencial trava os rumos da sucessão mineira

Número de candidatos é proporcional ao tamanho da indefinição do quadro sucessório

As articulações não pararam, mas estão em um ritmo mais lento; consequentemente, as definições ficam adiadas no campo sucessório eleitoral. Uns culpam a Copa do Mundo na Rússia; outros veem nela momento de liberdade maior para ação nos bastidores. Mais do que a Copa ou os prazos eleitorais, o maior atraso na sucessão estadual é causado pela indefinição da sucessão presidencial. Afinal, todos têm um candidato presidencial, por opção ou estratégia, e não podem tomar decisões sem um mínimo de vinculação. A operação é casada.

Junto das novas regras, que ainda confundem, a pré-campanha nacional é formada por um quadro inusitado. São onze pré-candidatos, um número sem igual na história, sendo que um deles, o que está em primeiro lugar nas pesquisas, o ex-presidente Lula (PT), está preso em Curitiba, e ainda não se sabe, com segurança, se conseguirá viabilizar sua candidatura. Muitos dos pré-candidatos estão no páreo para valorizar mais seus partidos na hora de negociar a retirada e apoio. Enquanto o quadro vai clareando, as definições irão acontecendo naturalmente.

Quem puder esperar mais, claro, negocia melhor – essa é uma das lições de ouro para quem sabe usar os prazos. O PT do governador Fernando Pimentel, por exemplo, aguarda a posição do PR, que, se ficar coligado, poderá indicar o empresário Josué Alencar (filho do ex-vice-presidente José Alencar) para ser o candidato a vice, mas o partido ainda não definiu seu rumo nacional. Tradicional aliado dos petistas, o PC do B poderia entrar na chapa, mas, até o momento, tem pré-candidata presidencial, Manoela D’Ávila. Até o momento, a chapa de reeleição de Pimentel só tem duas definições: a dele próprio e uma das duas vagas ao Senado: a ex-presidente Dilma Rousseff (PT).

As alianças do presidenciável tucano, Geraldo Alckmin, também repercutem em Minas em favor do pré-candidato a governador Antonio Anastasia (PSDB). Enquanto espera e vai negociando, Anastasia definiu o vice, mas deixou abertas as duas vagas para senador em sua chapa. Seu futuro candidato a vice é o deputado federal Marcos Montes, que vem do Triângulo Mineiro, região que detém um dos maiores eleitorados do estado. Para esses postos, está pensando em atrair o pré-candidato a governador, Rodrigo Pacheco (DEM), Dinis Pinheiro (Solidariedade), ou ainda, o MDB de Antônio Andrade. Dinis já está quase certo. Por fora, ainda corre o jornalista Carlos Viana (PHS).

Principais duelistas na disputa estadual, Pimentel e Anastasia brigam também pelo apoio do rachado MDB mineiro. Por quê? Mais importante nessa adesão não é a unidade partidária nem a penetração no interior dos emedebistas, mas o tempo de TV eleitoral que eles detêm. O MDB diz, hoje, que tem dois ou três pré-candidatos a governador, mas, se somados, os três juntos não têm votos necessários que lhe deem competitividade.

O PT é aliado do MDB desde 98, quando trocaram apoio. As bancadas estadual e federal querem a manutenção da aliança, mas o presidente da Assembleia Legislativa, deputado Adalclever Lopes (MDB), não concorda mais com isso. Ao decidir romper com Pimentel, Adalclever se aproximou do rival interno no partido, Toninho Andrade, atual presidente regional, para defender a candidatura própria e manter distância do petista. Querem novas alianças, mas também dependem da direção nacional. O MDB deverá ter candidato presidencial ou se aliar a uma candidatura de centro.

MDB vive situação inusitada

Em nota pública, a bancada federal do MDB pressionou a direção regional do partido para que defina os rumos do partido e coligações até o dia 15 de julho. O ultimato foi assinado pelos cinco deputados federais. “Queremos uma candidatura com apoio forte. A aliança com o PT seria o melhor, é o que todo mundo quer. Só depende de uma rapidez do MDB em Minas”, disse o deputado federal Fábio Ramalho (MDB), que assina o manifesto junto com os deputados Mauro Lopes, Newton Cardoso Júnior, Saraiva Felipe e Leonardo Quintão (que também é pré-candidato ao governo). A bancada federal é a instância mais influente de um partido pelo fato de ser, a partir dela, que se define o tempo de televisão da legenda e o tamanho dos recursos do fundo partidário e fundo eleitoral.

Caso a bancada não seja atendida, ela poderá recorrer à direção nacional para que promova a intervenção no partido. Um fato inédito na história dele.

Assediados pela polarização petista e tucano, os pré-candidatos a governador Rodrigo Pacheco (DEM) e Marcio Lacerda (PSB) resistem às ofensivas. Pacheco já teria sido convidado para integrar a chapa de Anastasia como senador; Lacerda recebeu também a proposta de senador para a chapa de Pimentel e de vice na chapa presidencial de Ciro Gomes (PDT). Ambas as propostas fazem parte de articulações nacionais para aproximar o PT do PSB. Já Pacheco avança. Decidiu, na segunda (25), anunciar que terá como vice a primeira-dama de Uberlândia, Ana Junqueira (PP), para conquistar o apoio do prefeito Odelmo Leão e reafirmar a aliança com o partido dele.

Novatos saem na frente

Ao contrário dos partidos tradicionais, os partidos novatos e menores já escalaram o time. O Partido Novo, por exemplo, já tem definido os seus pré-candidatos, confirmando os nomes de João Amoêdo (presidente), Romeu Zema (governador), Paulo Brant (vice-governador) e Rodrigo Paiva (senador).

“Vários partidos estão nessa dança de cadeiras, na indefinição pela escolha, olhando para o próprio umbigo, para seus próprios interesses e nas coligações que trarão mais benefícios. Em contrapartida, o Novo já nasceu com a filosofia de colocar o cidadão e suas necessidades à frente  do governo”, criticou o presidente regional do Partido Novo, Bernardo Santos.

O PSOL mineiro será representado na disputa ao governo pela professora de Economia da UFMG Dirlene Marques e pela professora da rede estadual Sara Azevedo, como vice. Para o Senado, lançaram Duda Salabert, a primeira mulher trans a disputar, no Brasil, a vaga, e o professor Túlio Lopes (PCB). O Rede Sustentabilidade terá, como candidato a governador, o professor João Batista Mares Guia; para vice, o nome apontado é o do empresário Eduardo Lucas e, a senador, o pré-candidato é Kaka Menezes, porta-voz do partido em Minas.

(*) Jornalista político; leia mais no www.blogdoorion.com.br

Orion Teixeira[email protected]

Jornalista político, Orion Teixeira recorre à sua experiência, que inclui seis eleições presidenciais, seis estaduais e seis eleições municipais, e à cobertura do dia a dia para contar o que pensam e fazem os políticos, como agem, por que e pra quem.

É também autor do blog que leva seu nome (www.blogdoorion.com.br), comentarista político da TV Band Minas e da rádio Band News BH e apresentador do programa Pensamento Jurídico das TVs Justiça e Comunitária.

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