Ronaldo: um grande negócio ao pegar o Cruzeiro, gastando pouco

Ronaldo: um grande negócio ao pegar o Cruzeiro, gastando pouco

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Cruzeiro voltou a usar a camisa celeste (Foto /twitter.com/Cruzeiro)

Na quinta-feira escrevi aqui sob o título “Oba-oba para a chegada de Ronaldo que poderá confirmar Autuori no lugar de Pepa”

O leitor Aroldo Geraldo Filogonio Dias, a quem agradeço e por quem tenho todo o respeito, não gostou e me cobrou: “Caramba! Chico, tenho tanto apreço por sua conduta no jornalismo que n quero acreditar que Vc pegou birra do Ronaldo Fenômeno. Não é só em BH que ele chega e é tratado com tal reverência. Agora qto a jornalista que se deixam levar por este caminho de questionar é outra coisa. Vc só tem olhado e criticado essa parte do oba-oba com a presença dele. A presença dele em qualquer parte do mundo é assim mesmo. E ele tem feito muito esforço pra tirar o Cruzeiro da lama que se encontra e não é o Salvador da pátria não.”

Em consideração especial ao Aroldo, volto ao assunto, pois neste caso não se trata de birra com o Ronaldo. É constatação que SAF é uma faca de dois gumes e cada clube que optar por este tipo de condução correrá riscos e circunstâncias.

Ronaldo fez um grande negócio ao pegar o Cruzeiro, gastando uma mixaria, entrando apenas com o nome mundial que tem como um extraordinário jogador que foi.

Com a articulação do então presidente Sérgio Santos Rodrigues a tramitação do processo de transformação de associação para a SAT foi tipo rolo compressor. A torcida, apaixonada, não queria nem saber, pois via no Ronaldo a única esperança de “salvação” da Raposa, que amargava dois anos na Série B.

Convenientemente por diver$o$ intere$$e$, grande parte da imprensa embarcou e levou o povão na mesma conversa.

Ótimo de marketing pessoal, Ronaldo saiu pelo mundo dizendo que o Cruzeiro “ia fechar” e que ele tinha dó, por isso “pegou”. Um papo dele falando isso com o Zidane circula até hoje na internet.
Pura conversa fiada, pois o Cruzeiro não acabaria e nem quebraria, assim como nenhum grande clube brasileiro, porque as leis do país facilitam a vida deles para evitar a quebra ou extinção.

Qualquer empresa comum, devidamente constituída, quebraria, caso fosse tocada como a maioria dos clubes de futebol do Brasil é.

Essa bela camisa azul-celeste foi lançada hoje como parte de nova coleção do Cruzeiro. Amanhã, milhares de unidades serão comercializadas nas lojas e pela internet mundo afora. Milhões de consumidores cruzeirenses estão sempre ávidos por produtos do clube, seja o que for.

Mesmo na situação em que o time se encontra na tabela, 29.417 cruzeirenses pagaram para vê-lo no Mineirão e deixaram uma ótima grana nos bares e lojas do estádio neste empate com o Bragantino, com percentual considerável entrando nos cofres da empresa que pertence ao Ronaldo.

A marca Cruzeiro é forte demais, tem consumidores demais. Como todos os grandes clubes, cujo passado glorioso foi agregando torcedores até chegar aos milhões de hoje.

A criação da SAF veio para entregar os grandes clubes a grandes empresários, com esse papo mentiroso de que são “salvadores da pátria”, “única solução” e bla, bla, bla…

Sugiro a quem não tem opinião formada sobre o tema que assista o documentário “Sunderland – Até morrer”, desde 2018 na Netflix. Mostra como funciona um dos maiores e mais tradicionais clubes da Inglaterra, como empresa.

Ronaldo nunca teve consideração pelo Cruzeiro, nunca deu entrevistas exaltando a importância que o clube teve na vida dele e nunca manifestou nenhuma gratidão por nada nem ninguém em Belo Horizonte.

Com a SAF aprovada pelo Congresso Brasileiro, em processo facilitado e agilizado pelo brilhante advogado mineiro e presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, foi levada ao ex-atacante a fantástica oportunidade de aumentar a fortuna pessoal dele.

Negócio fechado, ele instalou seus executivos em Belo Horizonte e deixa a abóbora alastrar, para ver no que vai dar, até onde vai tocar. De vez em quando, aparece, faz uns acenos, não dá entrevistas e volta para uma de suas residências no mundo. Já vendeu 20% para o Pedrinho BH.

Possivelmente aguarda a oportunidade para vender mais uma parte para alguém ou para o próprio Pedrinho. Se tivesse vendido 100%, aí sim seria ótimo para a torcida, pois Pedrinho além de cruzeirense, mora na capital mineira e se preocuparia verdadeiramente em colocar gente competente para comandar o futebol, dentro e fora de campo. Além, obviamente, de botar a cara e encarar os questionamentos da imprensa e torcedores.

Ronaldo e sua turma demitiram o técnico Pepa na terça-feira, sem nenhuma entrevista, nenhuma satisfação. Na sexta-feira ele apareceu na capital mineira, foi à Toca da Raposa, assistiu treinos da base e não falou nada sobre o Pepa nem sobre o substituto. Nem escalou ninguém do seu pessoal para falar.

Para o jogo de hoje contra o Bragantino incumbiu o técnico do júnior Fernando Bezerra para comandar o time. Empate sem gols, oitavo jogo sem vencer e o goleiro Rafael Cabral eleito o melhor em campo.
Depois da partida, só o técnico interino à disposição da imprensa, coitado. Nenhum diretor, ninguém do Ronaldo pra falar nada. Ele, nem pensar.

Então, é isso que cobro, caro Aroldo: tratamento de dirigente ao Ronaldo, pois agora ele é dono dos destinos de um dos maiores clubes do país. Com oba-oba ele é recebido em qualquer país do mundo, merecidamente, pela bola que jogou. Mas em Belo Horizonte é diferente. Ele é dono do Cruzeiro e tem satisfações a dar. Não joga mais futebol, não vai mais entrar em campo.