Há três dias, usuários do metrô de Belo Horizonte tomaram um susto com a notícia de que o valor da passagem iria sofrer um aumento de 88,9% a partir desta sexta-feira (11). Ao longo dos últimos dias, vários foram os apelos para que isso não ocorresse. Algumas insinuações em sentido contrário – de que o aumento seria escalonado – chegaram a vir a público. No entanto, foram sepultadas na noite de ontem pela confirmação do aumento, que tornou-se lei e já está valendo. Assim, quem precisa usar o metrô, e pagava R$ 1,80, agora paga R$ 3,40.
O governo federal, que é responsável pela operação do metrô de Belo Horizonte, via Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), alega que o reajuste é necessário porque a tarifa ficou congelada nos últimos 12 anos. À primeira vista, o argumento pode até convencer. Mas apenas aos mais incautos.
OK que durante todo esse tempo, a população foi beneficiada com o não reajuste das tarifas. Foi uma decisão de governo, tomada nas gestões de Lula e Dilma. Porém, justo não é a corda arrebentar para o lado mais fraco quanto se muda a diretriz de governo. Porque ao cidadão, de forma autoritária, de uma hora para outra, é dada a obrigação de pagar essa conta?
A explicação de que é necessário recompor os custos é insuficiente para dar legitimidade à pretensão da CBTU. Por uma razão muito simples: ela não responde às perguntas que há anos estão sendo feitas em relação ao metrô de BH. Ela não informa porque há 17 anos não foi aplicado um centavo sequer em obras físicas que resultassem na implantação de novas linhas. Por onde andam os planos de implantação de uma linha subterrânea que cortaria o Centro de BH e terminaria na Savassi? Por onde anda o projeto do ramal do Barreiro? Por onde anda o projeto do ramal que correria paralelamente à avenida Amazonas e chegaria até a região dos hospitais? Como está o projeto de estadualização do metrô de BH?
Estas são perguntas para as quais o Bhaz tentou, sem sucesso, obter resposta nos últimos dias. Lamentavelmente, chegamos ao final do dia de ontem sem elas. O que se sabe é que há um projeto de estadualização do metrô de BH. Para isso foi até criada uma empresa – a Metrominas –, em 1997, portanto há 21 anos. Do governo do Estado, a informação recebida é de que ninguém iria falar sobre o assunto. Na prefeitura de Belo Horizonte, o silêncio sobre o metrô de BH também impera, ainda que o município, junto com a Prefeitura de Contagem, também seja acionista da Metrominas.
Nos últimos três dias, o Bhaz também tentou identificar, na PBH, uma fonte que pudesse informar em que pé andam estão os planos de ampliação do metrô que estavam sendo levados a cabo pela gestão anterior, de Márcio Lacerda. Lamentavelmente, não conseguimos retorno. Tal situação nos leva a, legitimamente, concluir que a ampliação do metrô de BH não é prioridade da atual administração.
O governo do Estado e a Prefeitura de BH podem alegar que a operação do metrô de BH é do governo federal, não sendo, portanto, de sua responsabilidade, definir tarifas ou prioridades de investimento. No mundo da política, porém, é sabido que o racionalismo não é o fator determinante. Havendo interesse, a prefeitura e o governo do Estado poderiam ter utilizado seu poder político para barrar o aumento, ou mesmo escaloná-lo. Esse poder político é, por exemplo, o que vem sendo utilizado pelo prefeito Alexandre Kalil para tentar municipalizar o Anel Rodoviário, cuja operação, tal como o metrô, é de responsabilidade do governo federal.
O Ministério das Cidades, em cuja órbita está a CBTU, também precisa ser transparente e informar ao cidadão em que pé estão os projetos para ampliação do metrô de BH. Precisa informar, também, como estão os entendimentos, se é que eles existem, para sua estadualização. Do jeito que o assunto vem sendo tratado, é legítimo o cidadão passar a crer que o metrô de BH é uma caixa preta. É como se a ele estivesse sendo imposto o pagamento de uma conta sem que lhe seja dado o que seria de praxe: o recibo.
