Empresário não responde mais de 90 perguntas na CPI da BHTrans

CPI BHTrans
Empresário ficou em silêncio durante os questionamentos (Bernardo Dias/CMBH)

A CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da BHTrans recebeu o empresário Roberto José Carvalho, dono da Rodopass, nessa quarta-feira (7). O convidado a prestar depoimento ficou o tempo todo calado e optou por não responder aos 95 questionamentos realizados pelos vereadores da CMBH (Câmara Municipal de Belo Horizonte).

O silêncio do empresário foi orientado pelo advogado dele, Leonardo Bandeira. O presidente da CPI, vereador Gabriel Azevedo (sem partido) vai convocar Carvalho, desta vez como testemunha. “Nesse caso ele não poderá permanecer em silêncio e caso se recuse a participar será conduzido coercitivamente a esta comissão, e se desacatar algum membro terá a sua prisão decretada de imediato”.

A postura de Carvalho, que é proprietário de uma empresa das concessionários do transporte coletivo de BH, não agradou os integrantes da CPI. O vereador Wanderley Porto (Patriota) lamentou o silêncio que perdurou em todas as quase 100 perguntas realizadas.

“Respeito o direito ao silêncio, outorgado por nossa legislação, mas lamento que ele tenha sido usado como fuga diante das evidências de práticas criminosas que afetam o transporte em BH. É desrespeitoso com nossa população e com esta Comissão, que o dono de uma empresa, que presta serviço público essencial, negue-se a esclarecer fatos tão controversos”.

O parlamentar Reinado Gomes (MDB), o Preto do Sacolão, também se manifestou sobre a sessão de ontem. “A CPI da ‘caixa preta da BHTrans’, foi palco de um silêncio sepulcral. Ouvimos por repetidas vezes a seguinte frase: ‘Conforme orientação do meu advogado, vou permanecer em silêncio’. O sr. Roberto José Carvalho, dono da Rodopass, desrespeitou de forma deplorável e vergonhosa a nossa cidade, os vereadores e você cidadão”.

A sessão

Mesmo diante do silêncio do empresário, os vereadores seguiram com as perguntas e trouxeram à CPI diversos documentos que apontam que embora o depoente não tenha confirmado, Roberto José Carvalho é também dono das empresas Trancid e Valadarense, que concorreram pelo mesmo consórcio que a Rodopass no processo licitatório feito pela prefeitura para a concessão dos serviços de transporte público da cidade, em 2008.

Os parlamentares também apresentaram documentos públicos que integram o inquérito civil instaurado pelo Ministério Público de Contas/MG, após investigações realizadas durante a operação Mar de Lama, conduzida pela Polícia Federal em Governador Valadares e BH para investigar uma organização criminosa suspeita de desviar mais de R$1 bilhão da Prefeitura de Valadares.

Dentre a documentação disponível estão planilhas e notas fiscais que demonstram diversos pagamentos da Valadarense realizados na contabilidade da Rodopass, o que inflava as contas da Rodopass, impactando diretamente os cálculos para a definição do valor da tarifa das passagens na capital mineira.

Também foi apresentada pela CPI cópia de nota fiscal de aluguel de espaço para festa faturada em nome da empresa no valor de R$ 45 mil, além de relatórios com hiperdimensionamento nos custos de operação do transporte público na cidade.

Escola x propina

Os gastos apontados pela documentação do MP de Contas mostram ainda pagamentos atípicos nomeados nas planilhas como “escola”, com o somatório de mais de R$ 2,7 milhões em uma delas, e a suspeita do órgão é de que se trata de propina.

A CPI apresentou um vídeo que integra o inquérito e mostra uma gravação feita de forma sigilosa pelo próprio Roberto José Carvalho, onde o empresário repassa ao menos dois pacotes cheios de notas de R$ 100 e R$ 50. O dinheiro entregue ao presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Transporte de Governador Valadares seria para o favorecimento das atividades da Valadarense na cidade.

Em BH, a Rodopass também parece ser favorecida pelo Setra/BH (Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de BH). Cópia de ofício apresentado pela CPI mostra que em determinado momento o sindicato teria orientado a empresa sobre quais linhas seriam alvo de fiscalização por parte da BHTrans.

Arquivamento e financiamento de campanha

Após o insistente silêncio do empresário diante das perguntas feitas e a vasta documentação apresentada pela CPI, a vereadora Bella Gonçalves (PSOL) manifestou sua perplexidade diante do arquivamento de inquérito aberto no Ministério Público de Minas Gerais sobre a licitação realizada em 2008.

“Como estas informações não seguiram no Ministério Público. Que tipo de conluio existe entre o Judiciário e os empresários do transporte? São provas robustas, como isso foi arquivado?”, questionou.

Antes de encerrar as perguntas, o presidente da CPI apresentou cópia de duas portarias editadas pelo então prefeito à época, Fernando Pimentel, que alteram o sistema de tributação das empresas de transporte coletivo da cidade de forma a favorecer os empresários do setor.

Questionado se conhecia o ex-prefeito e ex-governador e se já fez doações ao político ou financiou campanhas do Partido dos Trabalhadores (PT), Roberto José Carvalho silenciou-se mais uma vez. O dono da Rodopass foi agraciado por Pimentel com a Medalha JK, em 2016.

Com CMBH

Edição: Vitor Fernandes
Vitor Fórneas[email protected]

Repórter do BHAZ de maio de 2017 a dezembro de 2021. Jornalista graduado pelo UniBH (Centro Universitário de Belo Horizonte) e com atuação focada nas editorias de Cidades e Política. Teve reportagens agraciadas nos prêmios CDL (2018, 2019 e 2020), Sebrae (2021) e Claudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados (2021).

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