CCBB de Belo Horizonte tem exposição em homenagem aos 100 anos da Semana de 22

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Exposição no CCBB tem como tematica ‘Brasilidade Pós-Modernismo’ (Divulgação/Jaime Acioli + Nelson Leirner)

Em homenagem à Semana de Arte Moderna de 1922, o CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil) de Belo Horizonte recebe, a partir desta quarta-feira (29), a exposição “Brasilidade Pós-Modernismo”. A iniciativa apresenta obras inéditas e trabalhos emblemáticos de 51 artistas mineiros, e já chegou a passar por outras três capitais brasileiras. A exposição ficará até o dia 19 de setembro no espaço.

A mostra celebrará o centenário da Semana de 22, exibindo as conquistas e marcos que o movimento trouxe à arte contemporânea brasileira nos últimos 100 anos, e convidando à reflexão a partir da atualidade. Com passagem por São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, e exposição fecha a temporada em Belo Horizonte.

Com curadoria de Tereza de Arruda, a mostra aborda as diversas características da arte contemporânea brasileira, cujo legado artístico é proposto pelo Modernismo. Dentre os artistas que farão parte da exposição, estão Adriana Varejão, Anna Bella Geiger, Arnaldo Antunes, Cildo Meireles, Daniel Lie, Ernesto Neto, Ge Viana, Jaider Esbell, Rosana Paulino e Tunga.

‘Exposição focada na realidade’

“Esta exposição não é idealizada com o olhar histórico, mas sim focada na atualidade, com obras produzidas a partir de meados da década de 1960 até o dia de hoje, sendo algumas inéditas, ou seja, já com um distanciamento histórico dos primórdios da modernidade brasileira”, explica a curadora.

Ela explica que a iniciativa “não é uma mostra elaborada como um ponto final, mas sim como um ponto de partida, assim como foi a Semana de Arte Moderna de 1922, para uma discussão inovadora a atender a demanda de nosso tempo, conscientes do percurso futuro e guiados por protagonistas criadores”.

A exposição está organizada em seis núcleos, que são Liberdade; Futuro; Identidade; Natureza; Estética e Poesia, a apresenta pinturas, fotografias, desenhos, esculturas, instalações e novas mídias. “A brasilidade se mostra diversificada e miscigenada, regional e cosmopolita, popular e erudita, folclórica e urbana”, explica Tereza de Arruda.

Praga, 2003, Beatriz Milhazes (Divulgação/Manuel Águas & Pepe Schettino)

Ao longo do período da exposição, o Espaço de Convivência do Programa CCBB Educativo pomoverá atividades gratuitas para aproximar o público ainda mais da Semana de 22. Será disponibilizado, também, um QR code com um conjunto compreensivo de conteúdos da mostra, a fim de garantir a acessibilidade de todos, e que pode ser acssado através deste link.

Sobre os núcleos

Liberdade

Abrindo a exposição, o núcleo Liberdade reflete sobre as inquietações e questionamentos remanescentes do colonialismo brasileiro do período de 1530 a 1822, além de suas consequências e legado histórico. São fatores decisivos para a formação das características do contexto sociopolítico-cultural nacional, que se tornaram temas recorrentes em grande parcela da produção cultural brasileira.

Em 1922, os modernistas buscavam a ruptura dos padrões eurocentristas na cultura brasileira e hoje, os contemporâneos que integram esse núcleo – Adriana Varejão, Anna Bella Geiger, José Rufino, Rosana Paulino, Farnese de Andrade, Tunga, Ge Viana e José De Quadros – buscam a revisão da história como ponto de partida de um diálogo horizontal, enfatizando a diversidade, a visibilidade e inclusão.

Futuro

Brasília tem um lugar de destaque nesse núcleo da exposição. O grupo da vanguarda modernista brasileira buscava o novo, o inovador, o desconhecido, de ordem construtiva e não destrutiva.  E um exemplo de futuro construtor é Brasília, a capital concebida com uma ideia utópica e considerada um dos maiores êxitos do Modernismo do Brasil. 

“Sua concepção, idealização e realização são uma das provas maiores da concretização de uma ideia futurista”, comenta Tereza de Arruda. Com foco em Brasília como exemplo de utopia futurista, este núcleo reúne gravuras e desenhos dos arquitetos Lina Bo Bardi, Lúcio Costa e Oscar Niemeyer, obra da artista Márcia Xavier, e registros captados pelo fotógrafo Joaquim Paiva e pelo cineasta Jorge Bodanzky.

Identidade

A busca por um perfil, uma identidade, permeia a história da nação brasileira. É a partir desta busca que se forma o conjunto exibido no núcleo Identidade. As obras de Alex Flemming, Berna Reale, Camila Soato, Daniel Lie, Fábio Baroli, Flávio Cerqueira, Glauco Rodrigues e Maxwell Alexandre apresentam uma brasilidade com diversas facetas da população brasileira.

“Falamos aqui do ‘Brasil profundo’, enfatizado já em obras literárias emblemáticas e pré-modernistas como o livro Os sertões, de Euclides da Cunha (1866-1909), publicada em 1902. Já neste período, o Brasil estava dividido em duas partes que prevalecem até hoje: o eixo Rio-São Paulo, e o sertão, desconhecido, acometido pela precariedade e desprezo de seu potencial”, reflete Tereza de Arruda.

Natureza

O território brasileiro é demarcado por sua vastidão, pluralidade de biomas e importância de caráter global. Neste núcleo, as obras dos artistas Armarinhos Teixeira, Caetano Dias, Gisele Camargo, Luzia Simons, Marlene Almeida, Paulo Nazareth, Rosilene Luduvico e Rodrigo Braga norteiam questões de enaltação, sustentabilidade e alerta quanto à natureza e o relacionamento do ser humano como corpo imerso no legado da “terra brasilis”.

Estética

Este núcleo surge a partir da reflexão sobre movimentos como o antropofágico, ação fundamental para o entendimento da essência da Brasilidade e um marco na história da arte do Brasil. Foi através dele que a identidade cultural nacional brasileira foi revista e passou a ser reconhecida.

E, segundo explica a curadora, isso se deu em 1928 com a publicação do Manifesto Antropófago publicado por Oswald de Andrade na Revista de Antropofagia de São Paulo. No texto, o poeta fazia uma associação direta à palavra “antropofagia”, em referência aos rituais de canibalismo nos quais se pregava a crença de que após engolir a carne de uma pessoa seriam concedidos ao canibal todo o poder, conhecimentos e habilidades da pessoa devorada.

Poesia

A Semana de Arte Moderna e o movimento modernista em si pleitearam a independência linguística do português do Brasil do de Portugal. Os modernistas acreditavam que o português brasileiro haveria de ser cultuado e propagado como idioma nacional.

Neste núcleo, são exibidas obras de poesia concreta, poesia visual e apoderamento da arte escrita – a escrita como arte independente, a escrita como elemento visual autônomo, a escrita como abstração sonora – dos artistas André Azevedo, Arnaldo Antunes, Augusto de Campos, Floriano Romano, Júlio Plaza, Lenora de Barros, Rejane Cantoni e Shirley Paes Leme.

Confira a lista completa de artistas

Adriana Varejão, Alex Flemming, André Azevedo, Anna Bella Geiger, Armarinhos Teixeira, Arnaldo Antunes, Augusto de Campos/Júlio Plaza, Barrão, Berna Reale, Beatriz Milhazes, Camila Soato, Caetano Dias, Cildo Meireles, Daiara Tukano, Daniel Lie, Delson Uchôa, Ernesto Neto e Emmanuel Nassar.

Fábio Baroli, Farnese de Andrade, Flávio Cerqueira, Floriano Romano, Francisco de Almeida, Ge Viana, Glauco Rodrigues, Gisele Camargo, Jaider Esbell, Joaquim Paiva, Jorge Bodanzky, José De Quadros, José Rufino, Judith Lauand, Júlio Plaza, Lenora de Barros, Lina Bo Bardi, Lúcio Costa e Luiz Hermano.

Luzia Simons, Márcia Xavier, Marlene Almeida, Maxwell Alexandre, Mira Schendel, Nelson Leirner, Oscar Niemeyer, Paulo Nazareth, Rejane Cantoni, Rodrigo Braga, Rosana Paulino, Rosilene Luduvico, Shirley Paes Leme e Tunga.

Sobre a curadora

Tereza de Arruda é mestre em História da Arte, formada pela Universidade Livre de Berlim, e vive desde 1989 entre São Paulo e Berlim. Em 2021, tornou-se bolsista da Fundação Anna Polke em Colônia para pesquisa da obra de Sigmar Polke.

Como curadora, colabora internacionalmente com diversas instituições e museus na realização de mostras coletivas ou monográficas, entre outras. Desde 2016 é curadora associada da Kunsthalle Rostock. Curadora convidada e conselheira da Bienal de Havana desde 1997 e cocuradora da Bienal Internacional de Curitiba desde 2009.

Anota aí:

Mostra coletiva “Brasilidade Pós-Modernismo”

Data: de 29 de junho a 19 de setembro

Horário: todos os dias, das 10h às 22h, exceto às terças

Local: Centro Cultural Banco do Brasil Belo Horizonte | Praça da Liberdade, 450 – Funcionários

Curadoria: Tereza de Arruda

Ingressos gratuitos: retirados pelo site bb.com.br/cultura ou pela Eventim www.eventim.com.br

Edição: Roberth Costa
Andreza Miranda[email protected]

Graduada em Jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e repórter do BHAZ desde 2020. Participou de duas reportagens premiadas pela CDL/BH (2021 e 2022); de reportagem do projeto MonitorA, vencedor do Prêmio Cláudio Weber Abramo (2021); e de duas reportagens premiadas pelo Sebrae Minas (2021 e 2023).

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