Agosto Lilás: Quase 400 mulheres são violentadas por dia em Minas

25/08/2022 às 13h26 - Atualizado em 05/09/2022 às 12h41
agosto lilás
Agosto Lilás é campanha em homenagem à sanção da Lei Maria da Penha (Abraão Bruck/CMBH)

Levantamento da Polícia Civil aponta que Minas Gerais registrou, de janeiro de 2020 a julho de 2022, 370.058 casos de violência doméstica – ou seja, cerca de 400 ocorrências por dia em um intervalo de 1 ano e meio. Somente no ano passado, segundo o Anuário de Segurança Pública 2022, foram 154 feminicídios registrados em território mineiro.

Os dados evidenciam que tratar a violência contra a mulher se faz cada vez mais urgente. E o Agosto Lilás reforça a necessidade de enfrentamento nas mais diversas camadas da sociedade. Nesta matéria, o BHAZ explica o que é o Agosto Lilás e como a iniciativa se propõe a coibir as diferentes formas de violências que atingem mulheres brasileiras diariamente.

O que é Agosto Lilás?

No Brasil, o Agosto Lilás faz alusão à sanção da Lei Maria da Penha (Lei n 11.340/06), que completa 16 anos em agosto deste ano. Com isso, entidades de todo o país se mobilizam em prol do combate à violência contra a mulher.

A Lei Maria da Penha, que nasceu de uma história real, atua efetivamente no combate à violência contra a mulher no Brasil. Sancionada em 7 de agosto de 2006 pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ela cria mecanismos para prevenir e coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher.

O Art. 2º da Lei, que leva o nome de sua precursora, afirma que “toda mulher, independentemente de classe, raça, etnia, orientação sexual, renda, cultura, nível educacional, idade e religião, goza dos direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sendo-lhe asseguradas as oportunidades e facilidades para viver sem violência, preservar sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual e social”.

A Lei Maria da Penha atua em conformidade com a Constituição Federal, além dos tratados internacionais ratificados pelo Estado brasileiro. Além de promover o combate à violência, o código estabelece medidas de assistência e proteção às mulheres em situação de violência doméstica e familiar.

Novas formas de violência crescem

O Anuário de Segurança Pública 2022 traz dados relevantes sobre como a violência contra mulher se manifesta de diferentes formas.

Uma estatística aponta que, em relação a 2020, praticamente todos os indicadores relativos à violência contra mulheres cresceram no último ano em território brasileiro. Houve um aumento de 3,3% na taxa de registros de ameaça, e crescimento 0,6% na taxa de lesões corporais dolosas em contexto de violência doméstica.

Já os registros de assédio sexual e importunação sexual cresceram 6,6% e 17,8%,
respectivamente. A violência letal entre os dois períodos analisados caiu 3,8%, por 100 mil mulheres, considerando os homicídios femininos.

No caso dos feminicídios, em que a mulher é morta pela condição de ser mulher, a queda foi de 1,7%. Nos últimos dois anos, 2.695 mulheres foram mortas pela condição de serem mulheres – 1.354 em 2020 e 1.341 em 2021.

O agravante racial também é sentido nos números: em 2021, 37,5% das vítimas de feminicídio eram brancas e, 62%, negras. Nas demais mortes violentas intencionais, contudo, 70,7% eram negras e apenas 28,6% eram brancas. Os dados indicam que há uma possível subnotificação das negras enquanto vítimas de feminicídio, o que demonstra a necessidade de considerar a interseccionalidade entre raça e gênero.

Violência contra a mulher não é uma só

Quando pensamos em violência contra a mulher, as principais agressões que vêm à mente são a sexual e a física. Apesar dessa crença disseminada, vale lembrar que a violência contra essa minoria se manifesta de múltiplas formas: a Lei Maria da Penha também visa a proteger mulheres contra violência psicológica, patrimonial e moral.

Física: “qualquer conduta que ofenda a integridade ou saúde corporal”;

Sexual: “qualquer conduta que constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos”;

Patrimonial: “qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades”. Um exemplo é quando o responsável legal, que detém os recursos financeiros, deixa de pagar pensão alimentícia para a mulher;

Moral: “qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria”. Por exemplo, acusar a mulher de traição ou rebaixá-la por meio de xingamentos.

Ponto de Acolhimento e Orientação

Em 2022, a CMBH (Câmara Municipal de Belo Horizonte) adere à campanha Agosto Lilás, pelo enfrentamento à violência doméstica contra a mulher. Quem passa pela sede do Legislativo logo vê que o apoio, além de simbólico, é literal; a fachada está completamente iluminada pela tonalidade roxa.

Além de iluminar a casa em homenagem ao Agosto Lilás, a CMBH oferece, desde o ano passado, o Ponto de Acolhimento e Orientação à Mulher em Situação de Violência, instalado no Núcleo de Cidadania, na sede do Legislativo. O intuito é assegurar medidas efetivas de proteção às mulheres.

A unidade oferece serviços como registro de ocorrência, medidas protetivas, orientação jurídica, acolhimento social e solicitação de investigação para apuração de denúncias, de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h.

Se você sofre algum tipo de violência ou conhece alguém que está precisando de apoio, procure ajuda e não disfarce a sua dor. Para mais informações e agendamento, ligue para (31) 3555-1394 ou envie um e-mail para [email protected].

Moradoras de Belo Horizonte também podem denunciar via telefone, discando 181, 197 ou 190. Assim, veja outros mecanismos de denúncia em Minas Gerais:

  • Delegacia Especializada em Atendimento à Mulher: av. Barbacena, 288, Barro Preto | Telefones: 181 ou 197 ou 190;
  • Casa de Referência Tina Martins: r. Paraíba, 641, Santa Efigênia | 3658-9221;
  • Nudem (Núcleo de Defesa da Mulher): r. Araguari, 210, 5º Andar, Barro Preto | 2010-3171;
  • Casa Benvinda – Centro de Apoio à Mulher: r. Hermilo Alves, 34, Santa Tereza | 3277-4380;
  • Aplicativo MG Mulher: Disponível para download gratuito nos sistemas iOS e Android, o app indica à vítima endereços e telefones dos equipamentos mais próximos de sua localização, que podem auxiliá-la em caso de emergência. O app permite também a criação de uma rede colaborativa de contatos confiáveis que ela pode acionar de forma rápida caso sinta que está em perigo.

Nicole Vasques

Jornalista formada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), escreve para o BHAZ desde 2021. Participou de reportagem premiada pela CDL/BH em 2022.

Nicole Vasques

Email: [email protected]

Jornalista formada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), escreve para o BHAZ desde 2021. Participou de reportagem premiada pela CDL/BH em 2022.

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