Fracasso do Ano Novo no Inhotim prejudica, mais uma vez, a imagem de Brumadinho

Dynelle Coelho/MECA/Divulgação + Regina Perillo/Arquivo Pessoal

A expectativa de uma virada de ano com bebida, o “melhor da gastronomia mineira” e música boa foi quebrada já no início da festa de Ano Novo MECANewYear, realizada no Inhotim, em Brumadinho, na região metropolitana de BH. Com ingressos de até R$1900, o fracasso do evento e a falta de organização da produção podem manchar, mais uma vez, o nome do município.

Comparado na internet com o Fyre Festival, evento que prometia luxo em uma ilha paradisíaca nas Bahamas e não entregou metade, o MECANewYear deixou faltar comida, bebida e até mesmo água em certos momentos do evento. Nas redes sociais, os relatos de quem pagou caro pelo ingresso deixam explícito que a qualidade do evento estava muito aquém do esperado. “1000 reais jogados no lixo! Para onde foi todo esse dinheiro?”, questionou um dos comentários na página do evento.

A proposta da festa era agitar o Inhotim de 28 de dezembro a 1º de janeiro. Os ingressos eram vendidos como passaportes para três dias de evento, ou para o Réveillon sozinho. As entradas para um só dia iam de R$96 a R$240, o segundo lote do passaporte para todos os dias ia de R$700 a R$1900 e o segundo lote para a noite do Ano Novo custava entre R$640 a R$1600.

A postagem da jornalista Regina Perillo em um grupo do Facebook detalhou as falhas do evento na noite de Réveillon: “O evento começou às 20h e chegamos 21h , tinha uma fila de quase 100 pessoas para servir um pratinho de plastico de coxinha algumas coisas árabes, pão de queijo velho e uns salgados. Desistimos. Antes da meia noite a comida acabou!!! Voltaram a servir as duas da manhã um penne à bolonesa ou com molho branco. Imaginem um bandejão”.

Regina Perillo/Arquivo Pessoal

Em contato com o BHAZ, Regina, de 65 anos, contou que o filho e a nora dela vieram de São Paulo para passar o Ano-Novo com a família na festa. “Pagamos, cada, 750 reais no pacote de três dias, que incluía festas no sábado, domingo e no Réveillon, mais 50 de taxa. Fomos no domingo, foi ótimo, música boa e público bacana. Não tiro o mérito do festival, o problema foi o Ano-Novo”, explicou ela.

Regina contou que a decepção já começou no início da noite. Antes do evento, a jornalista havia entrado em contato com a produção para saber se haveria espumante no evento e foi dito que sim. Ao chegar, por volta das 21h, procurou pela bebida e foi informada de que ela não seria servida.

“A partir daí foi decepção atrás de decepção. Nós não tínhamos comido à tarde, para aproveitar o open food. Fomos dar uma olhada na comida e parecia um bandejão: a mesa de frutas só tinha maçã, o pão de queijo era ruim e a coxinha tinha gosto de estragada. Quando deu 23h30, já tinha acabado praticamente tudo. Não tinha nem amendoim mais”, contou.

As opções vegetarianas e veganas, prometidas pela organização do evento, eram duas: amendoim e maçã. Regina chegou a questionar a produção sobre a falta de comida e recebeu uma resposta inesperada. “Eles falaram que estavam surpresos e o buffet também, não esperavam que o pessoal fosse comer tão cedo”.

Regina Perillo/Arquivo Pessoal

As reclamações na internet confirmam o relato. Além da comida, que foi insuficiente e teve a qualidade questionada, a bebida também foi alvo de críticas. “Nem são 1h da manhã e já acabou o gin, o refri, o rum!!!! Cadê a comida? 2020 começou no tapa no buffet”, diz uma reclamação na página evento, feita ainda durante a festa.

A ceia, que prometia oferecer o melhor da gastronomia mineira, só começou a ser servida depois das 2h. As opções eram penne à bolonhesa, com molho branco ou ao sugo. “Me senti desrespeitada. Você pensa no Inhotim e associa a algo bacana, eu esperava uma comida mineira ‘revisitada’. Doce ilusão, cheguei e era aquela gororoba”, contou a jornalista.

Apesar da decepção, Regina não planeja acionar a produção judicialmente ou pedir o dinheiro de volta. “Não questiono o preço, acharia justo se tudo que foi prometido tivesse sido cumprido. Foi um descuido total, não há preço que pague minha decepção. Sou apaixonada pelo Inhotim, acho que precisamos de eventos culturais assim, mas eles têm que aprender com os erros”, completou.

Em nota, a organização do MECA se desculpou pelas falhas e garantiu que levará os erros como aprendizado. O Inhotim, procurado pelo BHAZ, também se posicionou e afirmou estar averiguando os problemas com o MECA, que foi responsável por toda a produção do evento. O Buffet Pichita Lanna, que serviu a comida na noite de Ano-Novo, ainda prepara um posicionamento oficial. Leia as notas na íntegra abaixo.

O nome de Brumadinho

Em meio às reclamações no Instagram do evento, um comentário se destacou. A página da pousada Casa de Abrahão deixou sua indignação registrada e trouxe luz a mais um problema causado pela falta de organização da festa.

“Nossaaa! Nossos hóspedes que vieram para o evento foram maravilhosos! Desde o desastre não tínhamos tantos turistas e tantas pessoas bacanas reunidas em Brumadinho!!!! Investiram uma grana pesada em hospedagem, comida e transporte e o que a organização fez? Jogaram o nome de Inhotim e do próprio evento no lixo!”, dizia o recado.

Antônio Abrahão, de 60 anos, é proprietário da pousada e contou ao BHAZ que teme pela reputação de Brumadinho depois do fracasso do MECANewYear. Conversando com os hóspedes depois da festa, ele ficou sabendo dos problemas no evento e não sabe quais serão as consequências disso.

“A turma que a gente hospedou era jovem, bacana, trouxe um alívio enorme pra gente. Pela primeira vez desde a catástrofe, a região não ficava movimentada assim. Veio gente do Rio, de São Paulo, até da Europa e dos Estados Unidos. Aí eles chegam e fazem isso, justo quando Brumadinho está precisando tanto reerguer seu nome”, contou ele.

Para ele, a sensação foi de que o Inhotim entregou as chaves para a organização do MECA e foi viajar. “O nome de Brumadinho já está prejudicado pela VALE. Agora acontece isso, cada hora é uma coisa que atrapalha. Queria mesmo era ter a Brumadinho que eu tinha no dia 24 de janeiro [de 2019, um dia antes do rompimento da barragem], mas essa não terei nunca mais. Agora teremos que conviver com as consequências”, contou Abrahão, que está fechando a pousada e o restaurante por causa da falta de movimentação no turismo local.

Posicionamento do MECA

“Gostaríamos de nos desculpar pelas intermitências no serviço de operação de bar e ceia ocorridos durante a noite da virada no dia 31/12. Estamos mapeando todas as falhas e aprendizados na operação do evento para que seja sempre garantido um serviço de qualidade para o nosso público, para o qual realizamos festivais com muito carinho há 10 anos.

Este foi o nosso primeiro festival de Ano Novo, com open bar e ceia. Temos o compromisso e a responsabilidade de melhorar e evoluir a cada edição, superando desafios e aprendendo sempre, em respeito e gratidão ao nosso público tão querido e parceiro.

Contratamos produtoras, empresas e profissionais com grande experiência de mercado, que foram surpreendidas pelas projeções e se esforçaram para corrigir todos os problemas. E, certamente, todos também levarão para o futuro esses aprendizados.

Destacamos que o Instituto Inhotim serviu com excelência e sem contratempos a alimentação do festival nos dias 28 e 29, não sendo responsável pelos serviços de alimentação e bebida e nem por quaisquer procedimentos operacionais no dia 31.

Por último, gostaríamos de agradecer ao público e a todos os parceiros e pessoas envolvidas na realização desse projeto tão sonhado e especial.

Foram cinco dias de festival com um total de 45 atrações culturais e musicais, que respeitamos e admiramos muito, ao longo de 65 horas de programação, em três locais diferentes e especiais: o MECABrumadinho, um evento sem fins lucrativos dedicado à cidade de Brumadinho, que contou com a magnitude da cantora Gal Costa; uma festa na locação incrível do mirante Topo do Mundo, além dos três dias integrais de festival no Instituto Inhotim, um dos lugares mais inspiradores que existem no mundo, nos dias 28, 29 e 31.

Contamos com a compreensão de todos e pedimos mais uma vez desculpas por quaisquer infortúnios. Todas as críticas construtivas são bem-vindas para que possamos evoluir sempre.

Com carinho,
MECA”

Posicionamento do Inhotim

“O Inhotim recebe, desde 2015, os festivais realizados pela plataforma MECA, que também são sucesso em outras cidades como Porto Alegre, Recife e São Paulo.

No réveillon, o formato foi o mesmo: o Inhotim recebeu o evento MECANewYear no dia 31 de dezembro de 2019, realizado pela primeira vez no Instituto.

O Inhotim reitera que sempre estará de portas abertas para eventos culturais relevantes no cenário nacional. No caso do MECA, toda a produção é de responsabilidade do próprio MECA. Da parte do Instituto Inhotim, estamos averiguando diretamente com o MECA os problemas ocorridos de forma que uma próxima edição proporcione boas experiências para todo o público.”

Sofia Leão[email protected]

Repórter do BHAZ desde 2019 e graduada em jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Participou de reportagens premiadas pelo Prêmio Cláudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados, pela CDL/BH e pelo Prêmio Sebrae de Jornalismo em 2021.

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