Belotur corre atrás de patrocínio para minimizar gastos públicos e garante Carnaval 2023

Gilberto Castro, presidente da Belotur
Gilberto Castro, presidente da Belotur, confirma Carnaval de 2023 mesmo sem patrocínio (Jonas Rocha / BHAZ)

Mesmo sem patrocínio até o momento, o Carnaval de 2023 em Belo Horizonte está confirmado. É o que afirma Gilberto Castro, presidente da Belotur (Empresa Municipal de Turismo de Belo Horizonte), em entrevista ao BHAZ.

Durante a conversa, Castro explica que não sabe o motivo das grandes marcas, como a Ambev, não terem abraçado o Carnaval deste ano. Ele também comenta sobre a expectativa para a folia, segurança, dinheiro para os blocos, Covid, geração de empregos na festa e muito mais.

BHAZ: Quando a Belotur vai divulgar as datas dos desfiles?

Gilberto Castro (Belotur): Os blocos se cadastram, colocando todas as informações básicas, onde sai, dia, horário, etc. Depois, a Belotur faz uma reunião presencial com cada bloco, junto aos órgãos de mobilidade e segurança para que a gente aprove aquele trajeto. Já foram feitas mais de 250 reuniões. O processo está acontecendo, mas, como são mais de 500 desfiles, a gente só consegue encerrar isso mais próximo do Carnaval. Existe uma força-tarefa para terminar isso o quanto antes.

Este ano são esperados 5 milhões de pessoas no Carnaval. O que o folião pode esperar de novidade?

Temos uma série de blocos novos, acho que essa é a maior novidade. O Carnaval de Belo Horizonte tem uma diversidade, desde o seu surgimento. Ele permanece tendo essa cultura de rua, de todas as formas, todos os ritmos. Continuamos muito focados em oferecer o melhor Carnaval do país. Quando falo melhor, digo no sentido de ser o mais seguro, com processo de mobilidade que gera um menor impacto. São mais de 30 órgãos trabalhando para essa grande festa.

Hoje o Carnaval é o principal evento da Belotur no ano. Por que a prefeitura de BH tem tido tanta dificuldade em conseguir patrocínio para o Carnaval?

Para nós, está sendo ainda uma incógnita. Foi um fim de ano complexo, houve eleição e depois Copa do Mundo. A gente sabe que as grandes cervejarias são as que fazem o maior aporte financeiro nos Carnavais, está aí Rio de Janeiro e São Paulo para mostrar isso. Não estamos entendendo exatamente se foi um acúmulo de gastos dessas cervejarias durante esse período, mas permanecemos no esforço. A gente entende o Carnaval como uma excelente oportunidade para as marcas, e existe o trabalho da Belotur de seguir em busca desses patrocínios da iniciativa privada, para minimizar os gastos públicos. Estamos conversando com várias marcas, mas ainda aguardando fechar um grande patrocínio. Essa é a nossa expectativa para até o fim deste mês.

Pelo novo edital, se todas as cotas forem preenchidas, o Carnaval de BH vai receber R$ 21,5 milhões. É inferior à cota de São Paulo. O problema tá com o empresariado ou na captação de recursos? 

Se eu soubesse onde estava o problema, a gente traria a solução. Como eu disse, a gente acredita muito no nosso Carnaval. É uma manifestação espontânea, com esses atores, essa diversidade, algo ímpar para o nosso país. Entendemos que Belo Horizonte tem de tudo para de fato ser o melhor Carnaval. Cabe às empresas te dar essa resposta, eu não sei. O que existe do lado de cá é um esforço em busca desses patrocinadores, para que a gente consiga viabilizar isso.

A última edição do Carnaval de BH colocou a festa mineira como uma das maiores do país. Em que a prefeitura tem ajudado a fomentar e organizar essa festa?

Antes de mais nada, é importante frisar que o Carnaval está garantido. Nosso papel, enquanto gestores, e o prefeito Fuad bate muito nessa tecla, é que obviamente a gente tenta buscar a iniciativa privada, para minimizar os impactos nos gastos públicos. Isso não vale só para o turismo e cultura, mas para todas as outras pastas. Já fizemos um edital no segundo semestre do ano passado para escolas de samba, blocos caricatos e blocos de rua. Já vínhamos há quase três anos sem Carnaval, então esses atores estavam muito desmobilizados. Esse aporte, que é oriundo da prefeitura, para esses atores, esse não está em risco, na estrutura que a gente precisa para realizar o Carnaval. Está tudo sendo planejado e organizado. O que estamos fazendo agora é buscar parceiros para pagar essa conta e minimizar os gastos da prefeitura.

Uma das reclamações mais frequentes dos foliões é em relação aos banheiros químicos, principalmente nos megablocos. Como é feita essa distribuição?

Fazemos um reunião pontual com cada bloco. Cada um deles tem o seu trajeto, e obviamente os banheiros químicos são proporcionais ao número de foliões que o cadastro nos informa. Existe, normalmente, banheiros químicos no início, no meio e no final do trajeto. Eu costumo fazer a seguinte conta para que todo mundo consiga entender a complexidade. Estamos falando mais ou menos de 500 desfiles. Cada desfile tem, em média, um quilômetro. Então são 500 quilômetros de trajeto. Se eu tivesse que colocar banheiro em 500 quilômetros, a qualquer hora que tivesse foliões, nem se eu tivesse todos os banheiros da região Sudeste daria conta. A gente coloca uma quantidade de banheiros no início, no meio e no final do trajeto. Cabe ao folião procurar esses banheiros e tentar minimizar esse impacto de usar a rua como banheiro público. São mais de 10 mil diárias de banheiros químicos usados nesse período de Carnaval. É um valor substancial, e vamos aperfeiçoando essa lógica a cada ano.

A segurança também preocupa quem frequenta os blocos, com furtos de celulares, carteiras e outros pertences. Como a PBH vai se organizar junto à PM e Guarda Municipal para coibir esse tipo de crime?

Para os que estão reclamando, posso dizer que temos o Carnaval de grande capitais mais seguro de todos. É uma das melhores notas, tanto de percepção do morador e também do turista. Claro, essa é uma preocupação nossa, e trabalhamos para melhorar ainda mais. Não consigo falar do efetivo da Polícia Militar, mas existe um esforço muito grande de integração, que é realizado entre a PM e a Guarda Municipal. Vale a pena chamar a atenção que o cuidado de cada folião precisa ser feito. Não dá para o cara colocar um celular no bolso de trás, no meio de uma multidão, num bloco de rua. O cuidado pessoal é intransferível. Mas temos um planejamento e uma integração acontecendo, e com certeza a PM está trabalhando num efetivo proporcional ao Carnaval que teremos.

Quanto a prefeitura arrecada por ano com o Carnaval? Quanto gera de receita? O saldo final é vermelho ou depende de patrocínio?

Não temos esse dado do que gera para a cidade, até porque é muito difícil da gente conseguir entender exatamente o que foi oriundo do Carnaval ou não. Estou falando de lojas, supermercados, da cidade como um todo. O que eu posso dizer é que o Carnaval tem uma importância cultural, que, por si só, acho que tem um valor incalculável. É uma excelente oportunidade para a cidade na geração de emprego e renda. Em 2020, foram 13 mil ambulantes, então foram empregos indiretos para pessoas que precisam trabalhar e tiveram oportunidade de vender suas bebidas e adereços. Antigamente, a gente tinha todas as lojas fechadas, shoppings, bares e restaurantes. Hoje, temos a cidade totalmente aberta. Sem sombra de dúvidas, o Carnaval trás para a cidade uma nova realidade, na qual você ficava uma semana com seu estabelecimento fechado, e hoje não é assim.

Menos da metade dos blocos que se inscreveram para receber apoio da PBH vai receber dinheiro em 2023. A que se deve o número tão baixo? A Prefeitura não podia ter dado maior auxílio a esses blocos?

Na verdade, o número não é baixo. Belo Horizonte é a única cidade que tem um edital para blocos de rua. Rio não tem, nem São Paulo, Recife ou Olinda. Somos a única cidade que faz esse apoio aos blocos, entendemos bem essa necessidade. No último Carnaval oferecemos apoio, entendendo que eles precisavam se reerguer. E agora fizemos de novo, um apoio de fomento, no qual conseguimos contemplar mais de 100 blocos de rua, e tivemos um investimento 50% maior que em 2020. É claro que não temos recurso suficiente para apoiar todos os blocos. Existe um edital para que isso aconteça. Para que a gente tenha isonomia, existe uma pontuação, para que esse blocos sejam contemplados. O investimento foi alto, e BH é a única que faz isso, e ficamos orgulhosos disso. Cabe também aos blocos buscarem outras fontes de recurso para que os desfiles possam acontecer. Sabemos das dificuldades.

A prefeitura de BH reabriu o prazo para o cadastro de ambulantes que pretendem trabalhar no Carnaval de 2023. Quantos ambulantes já se cadastraram? O número é maior ou menor que o de 2020?

Ainda estamos fechando esses dados. Estamos tentando entender, de todos os cadastros que foram feitos, se estão corretos, com foto, certinhos. Já conseguimos perceber que foi um número inferior a 2020, que foram 13 mil. Reabrimos esse cadastro, entendendo a necessidade de oferecer essa possibilidade a mais pessoas. O prefeito Fuad vem pedindo um olhar especial para as ações que geram emprego e renda. Entendemos que essa é uma oportunidade. O edital de ambulantes foi feito no final do ano, com muita informação, muitas festas, por isso resolvemos abrir de novo.

A PBH ainda não repassou o dinheiro do edital para os blocos. Isso dificulta e encarece o planejamento. Já que a prefeitura vai arcar com os gastos mesmo se não tiver patrocínio, não poderia já ter disponibilizado a verba? Quando vai ser liberada a verba?

Esses contratos estão sendo vencidos. As pessoas às vezes têm entendimento equivocado. Existe um esforço muito grande da Belotur, mas temos um número limitado de profissionais. São mais de 500 contemplados, somando blocos caricatos, blocos de rua, escolas de samba. Esses contratos todos já estão sendo feitos, estamos correndo muito para minimizar esses prazos. Rapidamente já vamos começar a pagar todos os blocos de rua, mas é importante dizer que também não depende só da gente. Depois que eles ganham, tem uma documentação a ser entregue, tem que ir assinar contrato, tem que ter conta aberta, para esse recurso ser depositado. Fica parecendo que a responsabilidade é só da PBH, mas cabe também a todos esses atores que ganharam fazer a sua parte num tempo hábil, para que a gente consiga viabilizar o mais rápido possível. E existe um esforço, obviamente, para que isso aconteça.

Vitor Fernandes[email protected]

Sub-editor, no BHAZ desde fevereiro de 2017. Jornalista graduado pela PUC Minas, com experiência em redações de veículos de comunicação. Trabalhou na gestão de redes do interior da Rede Minas e na parte esportiva do Portal UOL. Com reportagens vencedoras nos prêmios CDL (2018, 2019, 2020 e 2022), Sindibel (2019), Sebrae (2021) e Claudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados (2021).

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