Cidade Jardim? BH tem 30 árvores completamente eliminadas todos os dias e apenas 10% é replantada

Thiago Ricci/BHAZ

Você está com a sensação de que BH está perdendo suas emblemáticas árvores, com um ritmo frenético de cortes? De fato, está. Apenas nos 100 primeiros dias deste ano, a capital que já foi conhecida como Cidade Jardim teve 3 mil árvores suprimidas – além de mais de 10 mil podas – pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) – e apenas 362 plantios. Ou seja, a cada 10 árvores eliminada, uma é replantada. Além do evidente impacto estético, a ação desenfreada resulta em dias mais quentes e secos.

“Em tempos de aquecimento global e de ilhas de calor não podemos nos dar o luxo de perder árvores. Muitas árvores, aparentemente, não apresentam problemas e riscos, mas são cortadas. Não vejo fiscais da PBH fazendo a devida fiscalização”, afirma ao BHAZ o professor Fernando Augusto de Oliveira, do departamento de Botânica da UFMG. Somados os 100 primeiros dias de 2019 com todo o ano passado, foram eliminadas ou podadas mais de 70 mil árvores na capital mineira (veja mais detalhes abaixo).

Em 2019, três mil árvores já foram suprimidas em BH (Thiago Ricci/BHAZ)

Todos os dias, cerca de 30 árvores são completamente eliminadas da paisagem belo-horizontina. Segundo a Secretaria de Obras, as práticas são feitas em árvores condenadas ou que “possam representar riscos de causar danos humanos ou materiais”. A pasta informa ainda que laudos indicando a supressão, por conta de risco iminente de queda, são avaliados antes do serviço ser realizado.

Para Oliveira, o corte das árvores traz “muito prejuízo” para a cidade. “Quando ocorre a supressão de árvores grandes, que são aquelas de raízes profundas, o impacto é ainda maior. Pois elas conseguem ter acesso às camadas mais profundas e retiram água, armazenam e transpiram para a atmosfera”, disse. Conforme conta Fernando, isso contribui para o “ar mais úmido, e temperatura baixa”.

Pedaços de árvores suprimidas na avenida do Contorno (Thiago Ricci/BHAZ)

O número de supressões é apontado pelo professor como “excessivo”. “Se continuar nesse ritmo, certamente vamos ultrapassar 10 mil supressões neste ano. Não podemos precisar em quantos graus serão acrescidos, mas estudos apontam que locais onde temos cobertura vegetal a temperatura é de 2ºC mais frio do que outros”, analisa. “Pode não parecer muita coisa, mas, para efeito de comparação, é o aumento de temperatura mundial esperado para o fim deste século”, explica o docente da UFMG.

Questionada, a secretaria de Obras ressalta que nenhuma árvore é suprimida sem laudos, pois, caso contrário, é caracterizado crime ambiental. Para que podas e supressões aconteçam, a pasta municipal esclarece que, além das solicitações dos cidadãos, são realizadas vistorias espontâneas e demandas repassadas pelo Centro Integrado de Operações (COP-BH).

Em 2018, a regional Oeste concentrou o maior número de supressões, com 1504. Confira na tabela abaixo as podas e cortes nas demais regiões:

2018
REGIONALPODASSUPRESSÕES
BARREIRO4.596910
CENTRO SUL3.393893
LESTE4.3581.464
NORDESTE4.0161.609
NOROESTE5.9751.326
NORTE6.860601
OESTE3.0001.504
PAMPULHA4.271741
VENDA NOVA11.4011.074
TOTAL47.87010.122

Para 2019, o orçamento da PBH para esses serviços passou de R$ 11 milhões, no ano passado, para R$ 15 milhões. O aumento de R$ 4 milhões foi motivado por conta da alta demanda, conforme explicou a secretaria.

Plantio de árvores

Se os números de espécimes suprimidas surpreendem pela grande quantidade, o de plantadas é pela baixa – 362. Na capital mineira, essa prática é feita em conjunto pelas secretarias de Obras e Meio Ambiente e o número citado é com relação aos plantios da primeira pasta, visto que a segunda informou ao BHAZ que não tem os dados.

Além da óbvia discrepância entre o número de supressões e plantios (3 mil versus 362), há um outro fator relevante nesse processo. “Ao fazer o plantio, a prefeitura não substituiu a função ecológica da espécime retirada. Esse plantio vai surtir efeito somente daqui uns 10, 15 anos. Por isso destaco que não podemos continuar nesse ritmo de muitos cortes”.

Em 2018, pouco mais da metade de árvores suprimidas foram replantadas: 5.856 ante 10.122 eliminações. A secretaria de Obras esclarece que o plantio das novas mudas não acontecem, necessariamente, onde ocorreu a supressão. “Tem que ser analisado o tipo de calçamento ou a espécie de árvores mais adequadas para o local”, informa.


Plantio de mudas de árvores no Parque Fernando Sabino, localizado na Serra do Engenho Nogueira (Divulgação/PBH)

Para reverter o quadro, Fernando sugere que a PBH faça um planejamento estratégico de plantios. “Já que são feitos estudos, dá para estimar quando será preciso cortá-la e com isso antecipar o plantio. Precisamos de planejamento a longo prazo e parar de pensarmos em políticas de quatro em quatro anos”, concluiu.

Inventário das Árvores

Apesar de já conhecida como Cidade Jardim, Belo Horizonte nunca conheceu a fundo suas árvores. O Inventário das Árvores, que se propõe a fazer exatamente esse trabalho fundamental para a definição de políticas públicas, foi anunciado na década passada e, até hoje, ainda não foi concluído completamente.

A PBH estima-se que a cidade tenha 500 mil árvores, sendo que 300 mil estão catalogadas nas regiões Centro-Sul, Leste, Oeste, Noroeste e parte da Pampulha. As demais serão catalogadas assim que ocorrer uma licitação para a conclusão do processo de inventário.

A região Centro-Sul é a que tem o maior número de árvores catalogadas: 90.700, e também a com mais espécimes de grande porte.

A sibipiruna é a com maior incidência 19 mil, enquanto a quaresmeira, árvore símbolo de Belo Horizonte, é a quarta, com cerca de 10,5 mil.

A região Oeste apresenta o maior percentual de árvores floríferas com quase 25 mil, e a região Noroeste apresenta mais árvores frutíferas, com cerca de 11,4 mil árvores.

Quaresmeira, árvore símbolo de BH (Rodrigo Clemente/PBH)

ServiçoP

O cidadão que desejar solicitar os serviços de poda e supressão deve utilizar os serviços por meio do aplicativo PBH APP, clicando neste link ou pelo telefone 156.

Ao fazer o pedido, um número de protocolo será emitido para que a demanda seja acompanhada.

Vitor Fórneas[email protected]

Repórter do BHAZ de maio de 2017 a dezembro de 2021. Jornalista graduado pelo UniBH (Centro Universitário de Belo Horizonte) e com atuação focada nas editorias de Cidades e Política. Teve reportagens agraciadas nos prêmios CDL (2018, 2019 e 2020), Sebrae (2021) e Claudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados (2021).

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