Lentidão para caminhar faz BHTrans alterar tempo de sinais; trânsito pode ter impacto, diz especialista

Pedestre de BH está caminhando mais lentamente (Divulgação/BHTrans + Henrique Coelho/BHAZ)

Quem circula pela área hospitalar de Belo Horizonte deve ter percebido que os semáforos da região estão abrindo e fechando mais vezes. Uma pesquisa realizada pela Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte (BHTrans) em setembro de 2018 apontou que o caminhar da população da capital está mais lento do que as medições usadas em todo o mundo.

Belo Horizonte tem 1.037 intercessões semaforizadas, sendo que 879 têm semáforo para pedestres. “A mudança no tempo do semáforo está relacionada ao aumento da expectativa de vida”, afirma ao BHAZ, José Carlos Mendanha, diretor de Sistema Viário da BHTrans.

A pesquisa acompanhou a travessia de 100 pessoas na avenida Augusto de Lima, uma das mais movimentadas do Centro da cidade, sendo 70 idosos e 30 jovens/adultos. “Percebemos que o pedestre está andando mais devagar: 0,9 metros por segundo (m/s), enquanto os padrões internacionais indicam 1,2 m/s”, conta Mendanha.

Com a pesquisa concluída, a BHTrans decidiu alterar o ciclo dos semáforos, que é a volta completa – vermelho, amarelo e verde. Apesar de a empresa garantir que a mudança não afetará o trânsito da capital, um especialista de trânsito acredita que impactos negativos podem ocorrer (veja abaixo).

Novo ciclo já está em funcionamento em alguns pontos de BH                                                                    (Breno Pataro/PBH)

“Antes da alteração, o ciclo básico era de 120 segundos, o equivalente a dois minutos, e isso possibilitava 30 oportunidades de travessia. Agora, estamos passando para 90 segundos, um minuto e meio, o que proporcionará 40 ciclos em uma hora”, afirma o diretor de Sistema Viário.

O fato de a área hospitalar concentrar um número maior de pessoas idosas e debilitadas fez com que ela fosse a primeira a receber a alteração no final de dezembro. Os corredores do Move também terão o novo ciclo semafórico. “Os 58 semáforos nos corredores do Move estão com a nova programação trazendo mais segurança para todos”, diz Mendanha.

Dos 1.037 semáforos espalhados por BH, 351 deles estão na área interna da avenida do Contorno. Desses, 134 equipamentos já operam com o ciclo de 90 segundos. A expectativa é que até o primeiro trimestre de 2020 o novo ciclo seja implementado nos semáforos restantes espalhados pela avenida.

Indagada sobre um possível impacto negativo em pontos onde concentram mais veículos com o “abre e fecha” dos semáforos, a BHTrans afirma que isso não acontecerá. “No princípio, parece que está abrindo e fechando toda hora, mas na verdade o que está acontecendo são mais oportunidades, tanto para o pedestre como para o motorista”, informa a BHTrans, via assessoria.

Possíveis impactos

O especialista em trânsito, Silvestre de Andrade acredita que o teste real virá depois do Carnaval, e com possíveis impactos na cidade. “Agora não adianta fazer alguma avaliação. A área hospitalar não é de tráfego intenso, logo não pode tomar como base”, diz.

Pontos da região do Hipercentro como outros mais movimentados da Contorno podem ser travados quando o novo ciclo for implementado, na visão do especialista. “Diminuir pode dar problema, pois não vai liberar um grande número [de veículos], pois o tempo é curto. O pedestre vai esperar menos e o motorista mais. Algumas regiões da avenida do Contorno em áreas como Santo Agostinho, Barro Preto, Savassi e Hipercentro são mais movimentados e requerem mais cuidados. Estudos precisarão ser feitos e acredito que eles [BHTrans] estão fazendo isso”, afirma.

Sobre o estudo de impacto nos pontos citados por Silvestre, a BHTrans informou que “com exceção do Hipercentro, a mudança não foi implantada” nos bairros citados. “A alteração nos tempos semafóricos é para oferecer mais segurança aos pedestres, nossa prioridade. Toda alteração feita pela BHTrans é acompanhada para aferir seus resultados, que foram satisfatórios”, diz a empresa.

Apesar de o tempo de abertura dos semáforos não ser padronizado em toda a cidade, Silvestre Andrade conta que a definição é determinada pela extensão da via. “A conta é simples: em uma pista de 10 metros, você precisará de 10 segundos para atravessar. Quanto maior a via, mais tempo”.

CTB

Silvestre ainda explica que pelo Código de Trânsito Brasileiro (CTB), mesmo com o semáforo aberto para o motorista, ele deve esperar caso alguém esteja atravessando a via.

O descumprimento da lei conforme o artigo 170 do CTB é infração gravíssima e as penalidades são multas e suspensão do direito de dirigir. O veículo também é retido e a Carteira Nacional de Habilitação (CNH), recolhida.

Após a avenida do Contorno, a BHTrans pretende reduzir o ciclo dos 56 semáforos espalhados pelas avenidas Pedro I, Antônio Carlos e Cristiano Machado. Nos demais, ainda não há definição de quando a mudança ocorrerá.

Vitor Fórneas[email protected]

Repórter do BHAZ de maio de 2017 a dezembro de 2021. Jornalista graduado pelo UniBH (Centro Universitário de Belo Horizonte) e com atuação focada nas editorias de Cidades e Política. Teve reportagens agraciadas nos prêmios CDL (2018, 2019 e 2020), Sebrae (2021) e Claudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados (2021).

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