Em voos rasantes, agentes sacrificam a tiros animais atolados na lama da Vale

Bárbara Ferreira/BHAZ

Animais debilitados e em locais de difícil acesso estão sendo sacrificados a tiros em meio à lama da barragem da Mina Córrego do Feijão, de responsabilidade da Vale, em Brumadinho, na região metropolitana de Belo Horizonte.

Uma reportagem feita pelo fotógrafo André Borges, do jornal O Estado de São Paulo, garante que execução tem sido realizada por meio de fuzis, em voos rasantes de helicópteros da Polícia Rodoviária Federal. Segundo o repórter, na tarde de segunda-feira (28), mais de 20 tiros foram disparados numa ação de abate. “Um agente armado com fuzil mirava de dentro do helicóptero locais onde enxergava animais na lama. E disparava”, relata o jornalista.

Em entrevista ao BHAZ, a atriz e defensora da causa animal Luisa Mell demonstra perplexidade com a informação sobre a execução dos animais por arma de fogo. “Ontem à tarde, eu até achei que fosse mentira, mas o repórter do Estadão registrou um flagrante e todos os presentes puderam ouvir tiros. Em vez der usarem os helicópteros para fazerem um mapeamento sobre a situação dos animais, estão usando para executá-los. Sabemos que será necessário realizar eutanásia em alguns animais, mas até pra isso é preciso dignidade. O que está acontecendo é inaceitável, um triste absurdo”.

O presidente do Conselho Regional de Medicina Veterinária de Minas Gerais, Bruno Divino, confirmou ao BHAZ que dois animais, um bovino e um equino sofreram eutanásia por arma de fogo. Segundo Divino, o primeiro procedimento é sempre resgatar. Na impossibilidade de resgate, é feita a eutanásia por injeção letal. No caso específico, a eutanásia só foi realizada a tiros porque os animais estavam em extremo sofrimento e não havia acesso seguro para que os socorristas descessem do helicóptero para aplicar o anestésico. “Para quem não é da área, o método parece assustador, mas o disparo é feito onde o animal não sente dor”, afirma Bruno.

“Uma junta de médicos veterinários avaliou a situação e optou por recomendar à Polícia Rodoviária Federal o método, autorizado pelo Guia Brasileiro de Boas Práticas para Eutanásia em Animais. A PRF está a disposição da equipe de resgates dos animais, e já salvou 26 deles, 13 saudáveis e 13 feridos. A Vale se comprometeu com o CRMV-MG a montar, hoje ainda, um hospital referência em campo, para o atendimento aos animais”.

Já o coronel Evandro Ferreira Borges, chefe da Defesa Civil de Minas Gerais, declara que sacrifício dos animais a tiros não foi autorizado pelo Gabinete de Crise. “Até mesmo por questão de segurança, isso jamais teria sido permitido dessa forma. O procedimento, acompanhado pelas entidades fiscalizadoras, está sendo o seguinte: os animais em condição de serem resgatados, são levados para um sítio em Brumadinho, onde recebem cuidados. Os que estão feridos, em locais de difícil acesso, estão recebendo água e alimentação até que o resgate possa ser realizado. Apenas os animais que estão agonizando, sem a menor condição de resgate, estão sendo sacrificados por meio de injeção letal realizada por técnicos do Ibama. Se isso foi feito de outra maneira, definitivamente, não foi autorizado pelo Gabinete de Crise”.

O coronel destaca ainda, o pesar de não poder resgatar todos eles. “A gente queria já ter resgatado todos, mas a prioridade são vidas humanas e içar alguns desses animais requer a mobilização de muitos agentes e equipamentos. Enquanto não for possível, o Ibama e outros órgãos de proteção estão responsáveis pelos cuidados desses animais”.

Na manhã de hoje, a redação do BHAZ entrou em contato com a assessoria de imprensa da Polícia Rodoviária Federal, que ficou de enviar uma nota sobre o assunto, mas até o momento, não respondeu à solicitação. Caso a PRF envie nota, a matéria será prontamente atualizada.

A Defesa Civil informou que vai divulgar uma nota com maiores informações sobre o caso.

Sinara Peixoto

Formada em Comunicação Social com Ênfase em Jornalismo no Centro Universitário de Belo Horizonte e com pós-graduação na PUC Minas em Língua Portuguesa e Literaturas de Língua Portuguesa. Atuou como editora na CNN Brasil, desde a estreia do veículo no país, e na edição do Portal BHAZ. Também despenhou várias funções ao longo de 7 anos na TV Record Minas, onde entrou como estagiária.

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