Enfermeira e filho prestam depoimento por suposta vacinação ilegal para políticos e empresários

Enfermeira e filho ouvidos pela PF
A Polícia também cumpriu mandados e busca e apreensão na casa dos envolvidos (Divulgação/Polícia Federal)

A enfermeira envolvida no caso de vacinação ilegal foi levada hoje (30) pela Polícia Federal para prestar esclarecimentos sobre a suposta venda de imunizantes contra a Covid-19. A mulher e o filho estão sendo investigados pela polícia por supostamente comercializarem vacinas para empresários e políticos de Belo Horizonte. O filho da suspeita também foi levado para ser ouvido na Superintendência da PF de Minas Gerais.

A polícia também cumpriu dois mandados de busca e apreensão na residência da enfermeira, do filho e também em uma clínica. Os investigadores trabalham com três possibilidades: as vacinas terem sido importadas ilegalmente, desviadas do Ministério da Saúde ou de serem falsificadas. A mulher, que tem passagem por furto, também teria comercializado as vacinas ilegais para outras pessoas, além dos políticos e empresários investigados na operação.

A aplicação das vacinas irregulares ocorreu em uma garagem de ônibus comandada pela empresa mineira de transportes, a Saritur. Os empresários da empresa de transporte de passageiros admitiram, em depoimentos prestados de forma espontânea, ontem (29), a aquisição dos medicamentos de procedência ilícita.

‘É muita revolta, tanta gente precisando’

Os vídeos que registram pessoas sendo vacinadas contra a Covid-19, à noite, no pátio de uma empresa em Belo Horizonte, foram registrados por um grupo de vizinhos que moram em uma rua próxima ao local, no bairro Alto Caiçaras, e que foram os responsáveis pela denúncia anônima à Polícia Militar.

O caso da vacinação às escondidas foi revelado na quarta-feira pela revista piauí que afirma que um grupo de empresários e políticos de Minas Gerais, a maioria ligada ao setor de transportes, teria pago R$ 600 pelas duas doses do imunizante da Pfizer. Eles teriam adquirido a vacina por iniciativa própria, sem fazer doações ao SUS, como previsto em lei até então – uma decisão da Justiça federal derrubou a obrigatoriedade das doações por entidades privadas nesta quinta, mas cabe recurso. Ainda segundo a revista, cerca de 50 pessoas receberam a primeira dose na vacinação em BH.

O Ministério Público Federal em Minas Gerais abriu procedimento para apurar o caso e a PF abriu inquérito. A Pfizer, por meio de nota, negou “qualquer venda ou distribuição da sua vacina contra a Covid-19″ fora do âmbito do Programa Nacional de Imunização” e afirma que seu imunizante não está disponível em território brasileiro.

Vídeo causa revolta

Uma das pessoas que testemunhou a vacinação às escondidas, na terça-feira (23), é uma mulher que perdeu o emprego depois que o hotel onde trabalhava como camareira fechou na pandemia. Ela prefere não se identificar por temer represálias. Sem receber auxílio emergencial, ela disse ter ficado revoltada com o episódio. Os pais dela só terão acesso ao imunizante a partir desta sexta-feira, pelo cronograma por faixa etária divulgado pela prefeitura de BH.

“Eu preciso voltar a trabalhar, estou desempregada. Os bonitões ficam vacinando e os que precisam mesmo, não tem como. É muita revolta, tanta gente precisando. Isso quer dizer que só quem tem dinheiro, tem poder pode ter direito à vacina? E os pobres, os que precisam?”, disse ela à reportagem. As imagens foram divulgadas pelo portal R7 e outros veículos de comunicação durante o dia.

Edição: Roberth Costa
Jordânia Andrade[email protected]

Repórter do BHAZ desde outubro de 2020. Jornalista formada no UniBH (Centro Universitário de Belo Horizonte) com passagens pelos veículos Sou BH, Alvorada FM e rádio Itatiaia. Atua em projetos com foco em política, diversidade e jornalismo comunitário.

SIGA O BHAZ NO INSTAGRAM!

O BHAZ está com uma conta nova no Instagram.

Vem seguir a gente e saber tudo o que rola em BH!