Escola de BH avalia manter aluno que agrediu colega autista estudando em casa

Escola São Tomás de Aquino
Colégio informou que o afastamento temporário foi alinhado com a família do aluno (Reprodução/Google Street View)

A escola Santo Tomás de Aquino avalia manter o aluno que agrediu um colega autista, na última terça-feira (1°), estudando em casa. O estudante já está afastado das atividades presenciais, suspeito de dar um “mata-leão” no adolescente de 13 anos, além de jogar água nele e nos materiais.

Por meio de nota divulgada nesse domingo (6), o colégio informou que o afastamento temporário foi alinhado com a família dele, após o cumprimento dos trâmites processuais de apuração do ocorrido e de acionamento do Conselho Tutelar.

Agora, a instituição estuda a possibilidade de mantê-lo no modelo de educação em casa. O Santo Tomás de Aquino ainda informou que o diretor da escola foi afastado da condução do caso, que passou a ser acompanhado pela direção geral do colégio.

Quando ao jovem autista que foi agredido, a escola informa que ele “retornará à sua rotina escolar com o acompanhamento de um profissional qualificado e contará com o acolhimento de toda a equipe, de acordo com um plano detalhado em parceria com a família” (leia a nota na íntegra abaixo).

Entenda o caso

Uma mãe de 34 anos denuncia a agressão sofrida pelo filho, de 13, por colegas dentro da escola São Tomás de Aquino, no bairro São Bento, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte. Ela também se queixa da conduta da própria instituição ao lidar com o caso.

Segundo a mulher, que prefere não ser identificada, o adolescente sofre bullying dos colegas e já foi agredido e humilhado em outras circunstâncias, levando a um esgotamento emocional neste fim de ano.

Na última terça-feira, com mais uma ocorrência de violência, a mãe registrou um boletim de ocorrência e veio a público para denunciar o caso.

Agressão e humilhação

Ela relata que, naquele dia, os alunos estavam dentro da sala de aula aguardando a chegada de uma professora. Nesse momento, um aluno pegou o adolescente autista pelo pescoço, dando um “mata-leão” e arremessando-o com força ao chão.

O menino caiu de costas e, ao tentar se levantar, o outro estudante teria subido em cima dele, pegando novamente no pescoço e imobilizando os braços e as pernas do jovem.

“Enquanto meu filho estava no chão imóvel, toda a turma ria da situação, meu filho também ouviu palmas de pelo menos 2 alunos. Se sentiu extremamente humilhado e preso”, lamenta a mãe. Ainda conforme o relato, quando a professora entrou na sala, ela pediu para o aluno sair de cima da vítima, mandou cada um para o seu lugar e iniciou a aula normalmente.

Atingido por água na sala

O menino de 13 anos teria tentado se distrair e brincar, mas, ao perceber que não estava bem e que entraria em crise, resolveu dormir. Na hora do recreio, ele seguiu dormindo na sala de aula sem supervisão de adultos, quando três alunos entraram no local.

O colega que já havia agredido o estudante teria jogado uma grande quantidade de água na cabeça do menino, molhando também os materiais dele. A vítima fingiu não acordar, mas escutou as vozes e os risos dos três.

Quando o sinal tocou, um disciplinar da escola o encontrou na sala, molhado e em crise, e o encaminhou à coordenação. A coordenadora da escola São Tomás de Aquino, no entanto, teria pedido somente que o adolescente retornasse à sala de aula.

Durante a aula depois do recreio, uma aluna avisou ao professor que o menino estava olhando fixamente para a parede, sem piscar e imóvel, sem conseguir se comunicar. O professor solicitou que outro estudante o acompanhasse à coordenação, e os dois foram acompanhados por um disciplinar até lá.

Ainda segundo o relato da mãe da vítima, os três permaneceram por 15 minutos em frente à sala da coordenação, que estava com a porta fechada. O disciplinar, então, desistiu de esperar e encaminhou o menino autista à enfermaria.

A enfermeira da escola ligou para a mãe, que chegou em 10 minutos e encontrou o filho com um hematoma no rosto, em crise.

Bullying ao longo do ano

A mãe do adolescente ainda listou várias reclamações do filho durante o ano: ele já teria sido cercado e estrangulado por alunos; perseguido em um jogo de “queimada”; chutado na canela ao andar; levado tapas; obrigado a beber 9 litros de água em um desafio; além de ser zombado e humilhado em grupo de WhatsApp.

O fone de ouvido que o menino usa para abafar barulhos, já que tem sensibilidade a sons por conta do Transtorno do Espectro Autista (TEA), também já teria sido retirado e jogado para longe por alunos.

Procurada pelo BHAZ, a Polícia Civil informou que apura o ocorrido e que os envolvidos serão ouvidos para prestar esclarecimentos. “Mais informações serão repassadas em momento oportuno para não atrapalhar os trabalhos investigativos”, esclarece a corporação.

Nota da escola São Tomás de Aquino

“A Escola Santo Tomás de Aquino esclarece que o diretor da instituição foi afastado da condução do caso, que passou a ser acompanhado pela direção geral do colégio.

A escola reforça sua consternação e solidariedade com o aluno e seus familiares. O aluno autor da ação foi afastado das atividades presenciais, segundo um plano alinhado com sua família e após o cumprimento dos trâmites processuais que passam pela apuração dos fatos e o acionamento do Conselho Tutelar.

É importante destacar que a instituição tem como política o acompanhamento de cada um dos alunos neurodiversos, por meio de um Plano de Desenvolvimento Individual. O aluno neurodiverso envolvido no conflito retornará à sua rotina escolar com o acompanhamento de um profissional qualificado e contará com o acolhimento de toda a equipe, de acordo com um plano detalhado em parceria com a família.

Por fim, a Escola Santo Tomás de Aquino reforça que repudia qualquer tipo de agressão ou violência e, ao longo dos seus 68 anos, sempre teve a reputação de acolher e incluir alunos diversos, com a convicção de que a escola deve ser um ambiente para todos. A escola assume, com amor e profissionalismo, os desafios inerentes à inclusão, sem fazer distinção ou escolhas na admissão dos seus alunos e reafirma seu compromisso de continuar lutando diariamente para realizar esta missão”.

Sofia Leão[email protected]

Repórter do BHAZ desde 2019 e graduada em jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Participou de reportagens premiadas pelo Prêmio Cláudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados, pela CDL/BH e pelo Prêmio Sebrae de Jornalismo em 2021.

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