Estudante é hostilizado ao pedir uso de máscaras em manifestação em BH

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Samuel Elom Costa costa foi vaiado enquanto pedia uso de máscaras e distanciamento social em manifestação (Reprodução/@Samuel_Elom/Twitter)

Um estudante de jornalismo foi vaiado após, de sua janela, usar um microfone para pedir a manifestantes pró-Bolsonaro que utilizassem máscaras de proteção e cumprissem o distanciamento social. O vídeo do momento foi gravado na casa de Samuel Elom Costa, de 28 anos, no bairro Mangabeiras, região Centro-Sul da capital mineira, na manhã de ontem (14), e já conta com mais de 240 mil visualizações.

Após novo decreto ainda mais restritivo do prefeito Alexandre Kalil (PSD), com medidas rígidas para frear a contaminação da Covid-19, manifestantes foram às ruas de Belo Horizonte contra a decisão. Muitos sem máscaras e aglomerados, eles se reuniram em carreatas e a pé, na avenida Afonso Pena, sentido Praça do Papa, e também na Praça da Liberdade.

Na última sexta-feira (12), a taxa de ocupação de leitos de UTI para pacientes com Covid-19 chegou a 89,2%, em alerta vermelho para Belo Horizonte. Os leitos ocupados de enfermaria estavam em 75,6%, e a taxa de transmissão do vírus alcançou o RT de 1,25. De acordo com boletim epidemiológico da SES-MG (Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais), desta segunda-feira (15), a capital mineira já tem 120.802 casos de Covid-19, com 2.898 óbitos registrados.

Vaias e xingamentos

Samuel mora bem em frente à Praça do Papa, e sempre assiste às manifestações de sua janela. Com um microfone e três amplificadores direcionados aos manifestantes, o estudante fez alertas importantes, mas acabou hostilizado. Ao BHAZ, ele conta que não é a primeira vez que utiliza dessa tentativa de conscientização. “Essas manifestações nacionais, contra o STF, fechamento da cidade e pró-Bolsonaro, já acontecem desde o ano passado. Elas sempre estão perto da minha casa. É impossível não ouvir os barulhos, buzinas, gritos. A gente teve a ideia de ligar som, amplificadores, até berrante compramos. Tem pessoas de todos os tipos lá. Tem gente que não se importa muito, mas tem outras mais agressivas”.

O estudante do 7º período de jornalismo continua e conta que não se trata de provocação, mas de uma tentativa de conscientizar as pessoas. “Do nosso lado não há xingamentos. Sempre gostamos de falar do distanciamento, do uso de máscaras, das boas práticas contra a Covid-19. Estamos em um momento absurdo, uma situação caótica. Existe maneiras melhores de manifestar. As pessoas que ficavam no carro com máscara, eu não concordo, mas respeito. Tem gente morrendo nos hospitais no Brasil inteiro, não é hora disso”.

‘Vamos fazer de novo’

Não é a primeira vez que o estudante – e pessoas que moram com ele – utilizam dessa técnica. “Ou a gente senta e fica ouvindo, ou a gente fala o que a gente tem que falar. O que eu digo é muito básico: a situação que a gente está não permite fazer aquilo. Algumas pessoas até estavam de máscara, mas a maioria sem. Tiramos muitas fotos e gravamos vídeos, a gente fez questão de registrar essas coisas”.

No ano passado, o caso foi parar na polícia. “Ano passado recebi uma ameaça de morte. A pessoa achou meu telefone, mandou fotos e tudo. Registrei boletim de ocorrência na época”, lembra o estudante. Mesmo assim, ele não desanima e promete continuar. “Vamos fazer de novo quando tiver uma próxima manifestação. Ouvir também faz parte. Mesmo que não sejam posicionamentos corretos ao meu ver. Me espantou que foi muita gente. É o momento de também expressarmos o que a gente sente”, completa.

Políticos nas manifestações

Pelo Twitter, o deputado federal Bruno Engler (PRTB) publicou que os atos foram convocados em prol da “liberdade”. Já o vereador Nikolas Ferreira, do mesmo partido de Engler, afirmou que estaria na carreata “pela nossa liberdade”. Não se sabe ao certo a quantidade de pessoas que compareceram nos atos, já que a Polícia Militar de Minas Gerais afirmou que não trabalha mais com estimativa de pessoas presentes nesses movimentos.

Edição: Giovanna Fávero
Vitor Fernandes[email protected]

Sub-editor, no BHAZ desde fevereiro de 2017. Jornalista graduado pela PUC Minas, com experiência em redações de veículos de comunicação. Trabalhou na gestão de redes do interior da Rede Minas e na parte esportiva do Portal UOL. Com reportagens vencedoras nos prêmios CDL (2018, 2019, 2020 e 2022), Sindibel (2019), Sebrae (2021) e Claudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados (2021).

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