Fantasma da febre maculosa permanecerá na Pampulha por mais 15 anos

Animais como as capivaras hospedam os carrapatos

A população de Belo Horizonte deverá conviver com o fantasma da febre maculosa por pelo menos mais 15 anos. Essa é a expectativa de vida de uma capivara. Como, de acordo com o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado entre a Prefeitura de Belo Horizonte e o Ministério Público, não está prevista a remoção dos animais, mas apenas sua esterilização. Assim, até que todos os animais atinjam a idade adulta e venham a falecer, o fantasma da febre maculosa permanecerá.

A doença não é causada pela capivara, mas pelo carrapato estrela, que tem a capivara como hospedeiro. O TAC prevê que no prazo de dois anos, todas as capivaras estarão esterelizadas, ou seja, não irão reproduzir-se mais. Até lá, a população, que atualmente é de 80 a 100 animais, poderá aumentar, começando a declinar em seguida, ao longo dos 15 anos seguintes, quando deixarão de existir na Lagoa da Pampulha

A partir desta sexta-feira (27) acontecerá a captura, cirurgia de esterilização e monitoramento dos animais roedores, que serão recolocados em seu habitat natural após a realização dos procedimentos. Esses serviços acontecerão devido à assinatura de um contrato de manejo das capivaras ocorrido nessa quarta-feira (25).

O medo de contrair febre maculosa retornou após um homem de 42 anos morrer em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, na última semana. Ontem, secretaria Municipal de Saúde de Contagem divulgou laudo confirmando que a morte de Aristeu de Souza Lima, de 42 anos, ocorreu por febre maculosa, contraída após ele ter frequentado o Parque Ecológico da Pampulha.

O Bhaz foi à orla da Lagoa para saber qual a opinião das pessoas que passam pela região. Semanalmente Lina Lopes, Edith Andrade e Marina Diniz realizam atividades físicas nas proximidades da lagoa e, além do bem estar que ambas possuem pela prática esportiva, elas comungam do mesmo medo: o de serem infectadas pelo carrapato estrela. “O grande problema das capivaras ficarem por aqui é o de elas terem que ocupar o mesmo espaço que nós, os humanos. Sem falar que elas são hospedeiras desse carrapato que transmite a doença”, disse Lina.

O trio de amigas acha que a melhor solução é a retirada das capivaras da orla (Maick Hannder/Bhaz)

Moradores insistem na transferência dos animais

Edith é categórica ao dar seu posicionamento sobre a presença dos animais roedores na Pampulha: “Se já foi comprovado que as capivaras abrigam esse carrapato e que a febre maculosa mata, é inviável autorizar a permanência delas por aqui”, afirmou.

Lina afirma já viu muitos turistas tirando fotos próximo dos animais, sem medo. “Como essas pessoas não sabem do perigo que estão correndo elas se aproximam e registram o encontro com o animal. Uma vez eu tirei uma criança que estava praticamente encostando no animal. Isso é muito perigoso”, relembra.

Procurado pelo Bhaz a Secretaria Municipal de Meio Ambiente afirmou que em fevereiro deste ano foi assinado um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o Ministério Público Estadual (MPE), dando à Secretaria de Meio Ambiente prazo de dois anos para fazer o manejo e castração dos roedores. Porém, isso não tem amenizado o receio dos moradores em relação à doença.

A professora Lígia Gomes até acha a capivara um animal “bonitinho”, conforme ela define, mas acredita que ela está em um habitat que não é favorável a ela. “Temos poucas áreas de lazer em nossa cidade e o local que temos para usufruir nos faz ficar com medo, pois sequer podemos estender uma toalha para deitarmos pois temos medo de contrairmos uma doença”, disse.

De acordo com a Fundação Zoo-Botânica, o Parque Ecológico é totalmente cercado para evitar a entrada dos animais. Além disso, frequentemente, a grama é aparada e irrigada, para que seja evitada a proliferação dos carrapatos. Atualmente existem cerca de 85 a 100 capivaras na orla da Lagoa da Pampulha.

Vitor Fórneas[email protected]

Repórter do BHAZ de maio de 2017 a dezembro de 2021. Jornalista graduado pelo UniBH (Centro Universitário de Belo Horizonte) e com atuação focada nas editorias de Cidades e Política. Teve reportagens agraciadas nos prêmios CDL (2018, 2019 e 2020), Sebrae (2021) e Claudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados (2021).

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