Jovem relata racismo e agressões por parte de seguranças em show de Alok em Nova Lima

salathiel meneses
Jovem contou que sofreu racismo e agressões durante show de Alok, nesse fim de semana (Arquivo Pessoal/Salathiel Meneses)

Um jovem de 26 anos relatou ter sofrido racismo e agressões durante o show do DJ Alok que aconteceu em Nova Lima, região metropolitana de BH, neste sábado (27). Salathiel Meneses, que é do Amapá e mora em BH há 4 anos, conta que seis seguranças do evento bateram nele e o colocaram para fora do local.

Ao BHAZ, o rapaz diz que ganhou ingressos sorteados pelo próprio evento, o Alok Infinite Experience. Salathiel conta que foi junto com um amigo e uma amiga brancos e que, já no início da experiência, não estava se sentindo à vontade pela presença majoritária de pessoas brancas.

“Nisso já tinham seguranças perto de mim, e por volta das 4h, cheguei a comentar com meus amigos ‘vamo pra outro lugar, tá cheio de seguranças aqui’, e aí a gente andou para outro lugar, mas eles foram de novo atrás da gente”, relembra Salathiel, que é cozinheiro.

Jovem sofre racismo e agressão durante show de Alok

Segundo o rapaz, em determinado momento, os seguranças pediram para que ele os acompanhasse. O amapaense questionou o motivo, mas os seguranças não responderam e o levaram para um lugar afastado de onde o show estava acontecendo.

Os amigos de Salathiel chegaram a ir atrás para saber para onde ele estava sendo levado, porém, não conseguiram ajudar. “Eles me levaram para uma escadaria e já tinham quatro rapazes lá sendo agredidos, e detalhe, eram todos pretos. Tinha por volta de 20 seguranças”, conta.

“Eles começaram a perguntar se as pessoas que estavam lá eram minhas amigas, e eu disse que não, que eu não conhecia, só que nisso eles começaram a me bater, dar tapa na cara perguntando ‘cadê a droga?'”, relembra.

‘Jogaram a gente para fora a pontapés’

O jovem conta que os seguranças o revistaram e, mesmo não encontrando nada, continuaram agredindo ele. “Eu perguntava o que estava acontecendo e eles mandavam calar a boca e me davam porrada”.

“Eu falava ‘eu não sei quem é esse cara, quem são essas pessoas, estou apanhando aqui sem saber’, e eu apanhando e apanhando. Em determinado momento, eles jogaram a gente para fora do show a pontapés”, relata Salathiel.

O cozinheiro diz que registrou um boletim de ocorrência no dia seguinte, e que fez exame de corpo de delito nessa segunda-feira (29). Ele conta que pretende ir até a delegacia de Nova Lima dar seu depoimento.

Rapaz está em estado de choque

“Eu passei o dia inteiro chorando depois disso, ontem eu não consegui me concentrar no trabalho”, desabafa o rapaz, que diz estar muito mal e em estado de choque. “Eu já passei por algumas situações de racismo, mas um racismo mais velado, ninguém tocou em mim”, afirma.

“Só que, a partir do momento que me tocaram e me agrediram exatamente pelo fato de eu ser preto, isso me mexeu tanto, me doeu tanto que eu não sei o que vai acontecer, não sei como eu vou reagir com isso no decorrer do tempo”, lamenta Salathiel.

“Estava dançando e me divertindo com meus amigos e do nada aconteceu isso. Eu me vejo como um nada, nem parece que eu sou humano, porque eu fui tratado como um animal. Fui jogado no chão, fui batido, não me deixaram falar, não me deixaram responder e eu não fiz nada”.

Evento não responde rapaz

O jovem diz que entrou em contato com o evento pelo Instagram para relatar o ocorrido, mas que teve apenas sua mensagem visualizada. “Logo depois me mandaram mensagem no WhatsApp dizendo que era o assessor do Alok e que queria conversar sobre o que tinha acontecido, só que a pessoa não retornou”.

Rapaz mandou mensagem para o evento, mas não obteve respostas (Arquivo Pessoal/Salathiel Meneses)

Em nota, a Polícia Civil informou que “estão sendo realizadas as atividades de polícia judiciária a fim de apurar a motivação e as circunstâncias que envolveram o crime”. A corporação vai ouvir os envolvidos nos próximos dias.

O que diz o local do show?

A casa de shows Star415, local onde ocorreu a apresentação de Alok no último sábado, disse que “é inadmissível que qualquer pessoa seja tratada da maneira que foi noticiada”. O espaço informou que “aguarda a elucidação dos fatos pelas autoridades policiais”.

“A casa shows Star415 não compactua com nenhum tipo de preconceito e discriminação. As iniciativas produzidas pela empresa sempre buscam valorizar a diversidade e promover a inclusão”, declarou o espaço para eventos por meio de nota.

Além disso, a Star415 disse repudiar “qualquer tipo de agressão e práticas criminosas e informa que se coloca à disposição das autoridades para contribuir no que for necessário e disponibiliza a sua estrutura jurídica ao Salatiel para que possa acompanhá-lo e orientá-lo”.

Evento está ciente do ocorrido

Procurado pela reportagem, o Alok Infinite Experience informou que “buscou junto ao parceiro local e a casa de eventos Star415, que são os responsáveis pela contratação e gestão da segurança e do espaço, todas as informações sobre o ocorrido”.

“A AIE repudia todo tipo de agressão ou práticas criminosas e está empenhada em buscar a verdade para que os responsáveis respondam pelos atos. Solicitamos às autoridades policiais todo o empenho para a elucidação dos fatos e deixamos à disposição do Salatiel, toda nossa estrutura jurídica para acompanhá-lo”, reiterou o evento.

O Alok Infinite Experience destacou que é um evento “inclusivo e traz valores que não compactuam com nenhum tipo de preconceito e discriminação por gênero, raça, etnia, orientação sexual, pessoas com deficiência, entre outros grupos sociais”.

Andreza Miranda[email protected]

Graduada em Jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e repórter do BHAZ desde 2020. Participou de duas reportagens premiadas pela CDL/BH (2021 e 2022); de reportagem do projeto MonitorA, vencedor do Prêmio Cláudio Weber Abramo (2021); e de duas reportagens premiadas pelo Sebrae Minas (2021 e 2023).

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