Empresários anunciam corte de viagens após Kalil vetar reajuste de passagem: ‘O povo tem voz’

Maira Monteiro/BHAZ + Amanda Dias/BHAZ

Os empresários de empresas de ônibus em Belo Horizonte informaram, nesta quinta-feira (19), que vão cortar viagens do transporte público coletivo a partir de amanhã. A medida é uma reação ao veto do prefeito da capital mineira, Alexandre Kalil (PSD), ao aumento de tarifa. Os donos dos coletivos queriam aumentar a passagem dos atuais R$ 4,50 para R$ 4,75, o que foi negado pelo chefe do Executivo municipal, que garantiu manter a tarifa atual até 2021.

“Acho que duvidam do que a prefeitura é capaz de fazer, não devem fazer isso com o prefeito. O prefeito tem muitos defeitos, mas quando ele fala que vai fazer alguma coisa ele cumpre”, afirmou Kalil, em entrevista coletiva nesta tarde. “Não haverá mais uma vez a tarifa, o reajuste, porque o povo sofreu, o povo reclamou, o povo gritou e enquanto eu for prefeito dessa cidade o povo tem voz. A gente tem que escutar o que a rua fala”, disse.

O prefeito se refere ao reajuste da tarifa concedido nos últimos dias de 2019, quando o valor passou de R$ 4,05 para R$ 4.50. A medida foi fortemente criticada pela população da capital mineira, especialmente porque a “abertura da caixa-preta” estava entre as promessas de campanha de Kalil.

‘Vai ter demissão’

O presidente do Setra-BH (Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte), Jorge Paschoalin, não poupou críticas ao prefeito logo após o fim da reunião, classificada por ele como uma das piores da história. “Irresponsabilidade da prefeitura, prefeito não quer dar [o reajuste da] tarifa. A prefeitura está simplesmente rasgando nosso contrato”, disse o empresário.

Paschoalin afirmou, ainda, que a oferta de viagens de ônibus em BH sofrerá impacto já a partir de amanhã, quando o Setra-BH também entrará com ação judicial. “Eu não posso exigir do empresário o cumprimento de serviço porque ele me cobra a tarifa e eu não estou conseguindo a tarifa. Com certeza vai ter demissão porque começa a cortar viagem. A conta não fecha”, afirmou.

Sobre o contrato Kalil foi enfático. “Existe um contrato sim, mas um contrato é feito por ambas as partes, todo mundo tem que cumprir. Se alguém não quiser cumprir o contrato, que chame a outra parte e vamos negociar. Agora, aqui é o seguinte: quem cumpre o contrato, o contrato é cumprido dos dois lados. Quem não cumpre, ele é descumprido dos dois lados”.

Sem cobrador

O descumprimento no contrato citado por Kalil é a falta de cobrador nos coletivos de BH. Apenas neste ano, entre janeiro e novembro, foram registradas 14.980 infrações, o que resulta em mais de R$ 10 milhões. Segundo o prefeito, a tendência é que a função seja substituída, mas não na velocidade imposta pelos empresários.

“Olha, esse negócio de cobrador é um assunto que não é simples como tá todo mundo tratando. Em várias capitais o trocador tá acabando, é uma realidade assim como o fax acabou, como o telex acabou, o mundo vai andando, mas não pode andar da forma que eles querem”, afirmou.

Sobre essa irregularidade, Paschoalin desconversou e atribuiu à falta de dinheiro. “Tem que pagar as contas, não adianta. Algumas empresas, em alguns horários, não conseguem colocar trocador. Ou corta a viagem a inteira, ou uma hora ou outra, fica sem cobrador”, afirmou.

‘Sem valorização’

O presidente do Setra-BH ainda desabafou: para ele, a população de BH não valoriza o trabalho dos empresários. “As pessoas não têm olhado e valorizado o que a gente tem feito pelo transporte. A gente colocou os veículos com ar, 45% da frota com ar. Não consta no nosso contrato, não fomos obrigados a colocar. São veículos que consomem muito óleo diesel, mas a gente entende que é um conforto para a população”, afirmou.

Por fim, disse que os atuais responsáveis pelo transporte público venceram uma licitação cujo contrato não está sendo cumprido. “Confio muito no nosso judiciário. A gente pagou R$ 220 milhões há 11 anos, o que hoje dá R$ 600 milhões corrigidos, fora a frota. Foi uma licitação, quem pagava mais. Nós pagamos mais e hoje eles rasgaram o contrato”, reclamou.

Queda de braço

A tarifa dos coletivos, portanto, ficam com o mesmo valor – a não ser que tenha alguma decisão judicial desfavorável:

Tarifa principal: R$ 4,50

Linhas alimentadoras: R$ 3,15

Vilas e favelas: R$ 1

Táxi-lotação: R$ 5

Em janeiro de 2017, primeiro mês de governo de Kalil, a tarifa era de R$ 4,05. Na virada entre aquele ano e 2018, o prefeito não concedeu reajuste da passagem – uma das promessas de campanha do prefeito era abrir a “caixa-preta” da BHTrans e reduzir o valor da passagem.

No entanto, em 2018, uma auditoria feita a pedido da PBH (Prefeitura de Belo Horizonte) chegou à conclusão de que a tarifa na capital deveria ser de R$ 6,35. A comissão de vereadores que acompanhou os trabalhos chegou a sugerir o valor de R$ 5,05, mas, após reuniões, a PBH chegou ao valor de R$ 4,50.

O movimento Tarifa Zero BH, por sua vez, divulgou um estudo que afirma que o valor da passagem na capital deveria ser de R$3,85. O levantamento levou em conta o lucro indevido de R$ 200 milhões que as empresas de ônibus tiveram com a retirada dos agentes de bordos das linhas.  

Rafael D'Oliveira[email protected]

Repórter do BHAZ desde janeiro de 2017. Formado em Jornalismo e com mais de cinco anos de experiência em coberturas políticas, econômicas e da editoria de Cidades. Pós-graduando em Poder Legislativo e Políticas Públicas na Escola Legislativa.

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