‘A mulher tem o poder de ser multiplicadora’, diz presidente da Cufa-MG, Marciele Delduque

Marciele Delduque

Recém-empossada presidente da Cufa-MG, Marciele Delduque tem longa trajetória na Central Única das Favelas (Cufa). Há mais de uma década, a mineira participa das ações da organização no estado e, agora à frente da unidade de Minas Gerais, vê como missão desenvolver projetos relacionados ao empreendedorismo feminino. Em conversa com o BHAZ, Delduque fala sobre o projeto de expansão para o interior e o objetivo de cada vez mais empreendedoras serem capacitadas e envolvidas no projeto. “A mulher tem o poder de ser multiplicadora”.

BHAZ: O que a CUFA-MG busca com essa expansão para o interior?

Quando a gente assume essa nova fase da gestão da Cufa aqui em Minas, a gente tem a missão de fazer essa expansão com projetos que de fato já a gente possa executar trazendo impacto e sobretudo resultado. Então, a nossa proposta é abrirmos 60 novas Cufas, entregando um projeto de empreendedorismo feminino porque a gente acredita que a mulher ela tem o poder de ser multiplicadora, e todas as ações que a gente consegue implementar através de projetos com mulheres a gente tem resultado, sobretudo quando a gente fala de economia colaborativa, criativa e por aí vai.

É importante a gente dizer que nessa nova gestão a gente tem essa meta de expansão, e que na pandemia a gente expandiu, porém não como ação pontual de projetos de empreendedorismo, de cultura e de esporte, e, sim, como uma grande ação humanitária. No meio da pandemia conseguimos atingir 732 favelas de Minas com ajuda humanitária. Agora, de fato, a gente vai entregar ações que tenham relevância para o território, para o município começar pelo empreendedorismo feminino e a partir disso a gente entregar outras ações, como esportiva.

BHAZ: Qual a importância da mulher no empreendedorismo?

Acredito que por trazer a paridade de gênero para frentes de liderança de todos os estados. Inclusive, a Cufa está nos 26 estados e no Distrito Federal. Hoje estou como presidente junto com o Zulu que é de Araguari. E aí, a gente fala que o Celso Athayde [presidente nacional da Cufa] vai mandando algumas mensagens subliminares, mas de extrema importância, onde a gente percebe que agora a questão da mulher ser líder e ser a referência para a sociedade, mas sobretudo para o mercado tem tido um valor aí muito importante. Quando novas mulheres, vindo do terceiro setor, pautando com status de presidência, a gente entende, como eu disse na na mensagem anterior, o quão potente a mulher é, mas sobretudo o quão multiplicadora. Então, acredito que a gente vai ter aqui projetos com muito mais sensibilidade, com muito mais afeto e sobretudo acolhimento de mulheres líderes.

A gestão aqui em Minas, através da minha presença, vai ter um objetivo de capacitar mais mulheres, trazer lideranças locais de dentro da favela também com esse olhar feminino, de uma maneira, às vezes inconsciente, a gente vai conseguir trabalhar e convidar muito mais lideranças femininas pra dentro desse novo formato da Cufa. Não que a gente esteja excluindo o homem, mas a gente precisa ressaltar o papel que a mulher vem desenvolvendo dentro das comunidades, uma frente que é absurdamente poderosa porque a gente está falando de uma mulher que empreende em casa, empreende na casa da vizinha, empreende até mesmo com um ex-sogro, uma ex-sogra, cuidando dos idosos dentro da favela. Então, quanto mais áreas possíveis a gente puder, dentro da minha gestão, trazer a figura do feminino, acredito que estarei trabalhando para isso: entregar espaço, voz e vez. É uma oportunidade de também pautar o protagonismo da mulher da favela.

BHAZ: O que que você gostaria de entregar ao final do seu mandato?

Olha, uma pergunta provocativa, porque, por mais que a gente esteja trabalhando com a proposta de transformação socioeconômica, falando realmente do verdadeiro empoderamento, que, para mim, sempre foi por vias econômicas. Não existe nenhum nenhuma pessoa, seja homem ou mulher, que se sinta empoderado, que não seja uma grana para pagar um ônibus, um café, um pacote de sal. O meu desejo é finalizar esse mandato, com um time incrível, até mesmo porque eu não sou a única à frente disso, não faço nada sozinha, com o fortalecimento e o verdadeiro empoderamento por vias econômicas através de grandes parceiros como o Sebrae, que a gente tem parceiros de anos e vem trazendo pra gente uma formação na capacitação extraordinária na vida desses empreendedores. Acredito que finalizaremos o mandato de dois anos com muito mais pessoas capacitadas, muitos jovens transformados a partir das conexões que a gente vem buscando com parceiros que acreditam no propósito da Cufa e, claro, com mais mulheres formadas e capacitadas e se tornando novas lideranças. Que sempre foram, mas nunca tiveram oportunidade de ocupar esses espaços de lideranças. A nossa gestão tem também como objetivo trazer espaço pra formar lideranças e mostrar para elas que de fato existe um lugar aqui que é possível. Mas óbvio que muitas vezes a gente sabe que sozinho não dá. A Cufa vai ser esse braço mesmo de uma expansão acolhedora e sobretudo fortalecedora na vida de jovens, adultos, homens e mulheres.

BHAZ: O segundo semestre é marcado por eventos importantes para a Cufa-MG. A final da Taça das Favelas e o ExpoFavela. O que vem de diferente nos eventos?

Sobre a Taça das Favelas, o diferencial é que a gente sempre teve essas 32 seleções, porém agora a gente tem uma linha que é trabalhar com esses líderes de futebol, trazendo para eles oportunidade de capacitação no universo empreendedor, porque, como a gente acredita na transformação a partir das oportunidades, vamos entregar esse ano para essas lideranças a oportunidade de mudança de mentalidade. Ainda que ele trabalhe a vida toda no social, como ele consegue viabilizar recurso através do social? A gente precisa tratar um pouco essa mudança de mentalidade, mostrar pra ele que ainda que ele trabalhe com futebol, é um grande líder ali dentro, e que ele consegue viabilizar meios de monetização, não só para ele, mas para pessoas que ele emprega no projeto de futebol que ele faz. Vai ter uma capacitação que nunca se ouve na história da Cufa de Minas, com capacitação para esses líderes, vamos formá-los realmente como agentes de transformação, lideranças que a gente chama de empreendedores sociais. Essa é a nossa proposta, numa parceria com o Sebrae.

Pensando na ExpoFavela, é um grande evento que teve uma primeira edição que foi um sucesso. A expectativa para esse ano já começou com a régua muito alta e vai ser um desafio para a gente continuar nessa linha, mas a gente está com uma expectativa de entregar mais. Que a gente possa levar mais parceiros que tem a visão de ser um colaborador dentro desse território, ou seja, empresas privadas ou não, pessoa física, pessoa jurídica que esteja ali que entenda a importância de ser um grande colaborador na vida desse empreendedor, que está disposto a entrar nessa jornada e quem sabe ter um negócio aí referência.

O que não falta em Minas é expo, né? E, quando a gente traz esse recorte de favela, isso alegra o nosso coração, porque mais uma vez a gente está entregando aí visibilidade para uma galera que está num corre, mas que a gente sabe também baseado em pesquisa que a favela já mobiliza e impacta financeiramente mais de R$ 202 bilhões por ano a nível nacional. Mais uma vez a gente reforça a potência que é a favela. A gente está falando de uma galera que já entendeu como é que faz grana e eles entendem que um espaço como esse é um ambiente de um networking absurdo e que ele consegue se potencializar ainda mais.

Pedro Rocha Franco[email protected]

Pedro Rocha Franco é jornalista desde 2007 e estudante de ciências sociais. Foi repórter do jornal Estado de Minas, editor do portal O Tempo e head de digital da Itatiaia. Hoje é gerente executivo do BHAZ. Além disso, colaborou com UOL e Repórter Brasil.

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