Mulher trans, sobrinha cadeirante e irmão Down sofrem humilhação em ônibus na Grande BH

Rey, Vitória e Lara, na tarde de domingo, no shopping, horas antes do ocorrido (Facebook/Reprodução)

Uma mulher trans, de 36 anos, desabafou num longo post nas redes sociais a respeito de um caso ocorrido com ela, uma sobrinha e um irmão, ambos de coração, nesse domingo (7), na Grande Belo Horizonte.

Segundo Lara S., que pediu para não ter o nome completo divulgado temendo represálias, ela foi humilhada pelo motorista de uma linha de micro-ônibus em Contagem, quando saía de um shopping na região com a sobrinha cadeirante, de 13 anos, e o irmão, de 43, portador de Síndrome de Down.

“Saímos da exposição O fantástico mundo marinho, no Itaú Power Shopping, onde nossa programação foi ótima. Esperávamos o ônibus fora do shopping para pegarmos o metrô na Estação Eldorado e o motorista parou, locomoveu minha sobrinha Vitória adequadamente. Até aí foi tudo certo. Quando subimos, o motorista solicitou o cartão de gratuidade dela e do irmão, Rey. Informei que eu não portava os cartões e que, em Belo Horizonte, circulava com eles, sem a necessidade de apresentar o documento”, conta a faxineira e garota de programa.

A partir daí, contou Lara ao BHAZ, o motorista começou a dar várias justificativas, atestando que não poderia fazer o transporte dos três, que era contra as regras da empresa.

“Afirmei a ele que poderia pagar pelas nossas passagens, que não havia problemas. Ele continuou afirmando que não poderia nos levar, que a situação saia fora das regras da empresa. Quando percebi que o problema do motorista não era com minha sobrinha e meu irmão, mas comigo, por ser uma mulher travesti, fiquei com raiva e triste por toda essa situação que esse lixo de motorista transfóbico teve comigo e com as pessoas de necessidades preferenciais que estavam sob minha guarda. Achei a situação uma injustiça, pois eu queria pagar e precisava do transporte até o Eldorado. Ele, então, disse que chamaria a Polícia Militar. Não entendi, pois estávamos agindo da maneira mais correta: não tínhamos os documentos, mas eu queria pagar a passagem”, revela Lara.

Segundo ela, a situação se tornou ainda pior quando a sobrinha começou a chorar. “Eu tentei contornar a situação, tentei conversar com o motorista, que não me ouvia. O pior de tudo foi que nenhum dos tantos passageiros que estavam no coletivo me ajudou a contornar a situação para que viagem seguisse. Uma passageira até defendeu a injustiça do motorista”, lembra.

Lara conta que na hora da raiva e do desespero, não pensou em pegar a placa do ônibus para abrir um processo contra o motorista. “Por fim, acabamos seguindo viagem, e ele não quis aceitar o dinheiro. Se houver uma câmera, as imagens vão provar que estou falando a verdade. Quando chegamos ao destino final, no Eldorado, ele, na hora de descer minha irmã, usou o controle para travar a escada várias vezes, fazendo com que a irmã quase caísse do coletivo. Ele ficou provocando uma reação minha, mas não conseguiu. Foi muito ruim. O tempo todo eu estava preocupada com meus meninos, com o impacto que essa humilhação teria neles”, acrescenta.

Piadas e transfobia diária

Lara conta que situações de transfobia são comuns no seu dia a dia. “Sofro isso todos os dias: são risadas na minha cara, piadas, comentários na rua. É muito difícil ser travesti no Brasil e aguento calada. O que essas pessoas esperam é que a gente revide e brigue, mas eu não entro nessa onda. Deus me dá sabedoria e paciência para não cometer uma burrada e ser presa. Faço acompanhamento psicológico para aprender a não perder a paciência. Minha luta vai continuar com mulher travesti e nunca vou deixar de levar para passear minha sobrinha cadeirante e meu irmão com Síndrome De Down. Nossa luta continua e vamos ocupar nossos espaços, porque somos iguais perante a Constituição brasileira, inclusive no direito de ir e vir”, acrescenta Lara.

Ela faz acompanhamento psicológico oferecido pelo projeto-pedagógico TransVest, fundado em 2016 com o objetivo de combater a transfobia e incluir travestis, transexuais e transgêneros na sociedade.

Lara conta ainda que depois do ocorrido a sobrinha disse a ela que não quer mais sair na sua companhia, pois teme que uma situação similar possa ocorrer. “Ela não quer mais passar por essa situação de humilhação. É muito triste. Eu disse a ela que isso pode ocorrer, sim, mas que ela não deve temer”.

Com o intuito de chamar a atenção da sociedade para o preconceito vivido pelas pessoas trans e também ampliar o debate sobre cadeirantes e demais deficientes, ela fez um post-desabafo no Facebook. Veja trecho:

Facebook/Reprodução

Procurada pelo BHAZ, a BHTrans, que gerencia o transporte na capital mineira, informou que o cartão de gratuidade de portadores de deficiência é exigido pelos motoristas de todos os coletivos que circulam em Belo Horizonte.

O BHAZ procurou também a Transcon, que gerencia o transporte e trânsito na cidade de Contagem, para saber se a empresa chegou a ter conhecimento sobre o caso. Até o fechamento desta matéria, a empresa não retornou.

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