Cria do bairro Esplanada, na região Leste de Belo Horizonte, a multiartista Janamô estreou recentemente nas telinhas como a funkeira Vanessa, na novela das 19h da TV Globo, Vai Na Fé. Em conversa com o BHAZ, a atriz revela que, nesta semana, a personagem volta para a reta final da trama com o objetivo de provocar grandes reflexões ao público.
“A Vanessa foi princesa no baile funk assim como a protagonista [Sheron Menezes] e não teve uma vida fácil. A presença dela coloca em cheque o que é a ética. Ela questiona a hipocrisia de alguns valores. Qual a ética de uma pessoa que passa fome? Qual o limite pela busca da sobrevivência”, explica Janamô.
Um dos principais desafios encontrados pela multiartista para dar vida à personagem passa, também, pelo papel dela na peça “Marielle Presente”, que esteve em cartaz no início deste mês no Rio de Janeiro. Na obra, Janamô interpreta a arquiteta Mônica Benicio, ex-mulher de Marielle Franco.
“Tive um grande desafio para interpretá-la, que foi a questão do sotaque. Eu sou super mineira e no meu trabalho eu sempre presei por uma neutralidade para me manter a serviço da arte, da personagem que vier. Preencher com o sotaque carioca foi um desafio, porque não é muito familiar a mim. Fiquei estudando bastante”, relembra.
Apesar das dificuldades, Janamô reforça que os dois papeis andam lado a lado com alguns conceitos importantes que ela tem trabalhado há alguns anos, já que ambos trazem referência às subjetividades das pessoas negras.
“Para mim foi um prazer poder conectar essas diásporas todas: ser mineira, estar no Rio, falando sobre o funk e representando uma princesa do baile, que é tão tradicional. Fiquei bem contente de poder mergulhar nesse universo. E a peça da Marielle é uma ópera-funk, então esses dois trabalhos estão bem alinhados”, observa a artista.
Contato múltiplo com as artes
O contato de Janamô com o teatro e com a televisão esbarra em uma criação já cercada de arte. Desde a avó fazendo crochê até o grupo musical Arco-Íris, que marca sua estreia nos palcos, a belo-horizontina encontrou no fazer artístico uma forma bastante única de descobrir o mundo a sua volta.
“Vim de uma origem humilde, periférica. Eu sou de Belo Horizonte, mas minha família é toda da Bahia. A minha mãe é uma mulher originária do Sul da Bahia. Tive muitos enfrentamentos e a arte me auxilia muito nesse aspecto, de conhecer a mim mesma, a minha história, as minhas potências”, explica.
Aos 14 anos, Janamô estreou o primeiro espetáculo em temporada, através de um programa do SESI (Serviço Social da Indústria). Logo em seguida, a atriz se formou em teatro e também fez aulas de circo. “Paralelo a isso, também estudei educação artística na UEMG. Sempre tive um contato muito múltiplo com as artes”, comenta ela.
Música como resgate de ancestralidades
Além da trajetória já reconhecida nos palcos e na televisão, Janamô também canta e compõe as próprias músicas. Em 2014, ela lançou seu primeiro disco e atualmente trabalha no segundo EP, o Código Ancestral.
Ainda sem data de estreia, a obra traz referências essenciais para a música brasileira, como Gilberto Gil e Elza Soares. A artista adianta que o trabalho é fruto de um estudo profundo sobre a própria história e sua ancestralidade.
“Comecei a estudar filosofia sob uma perspectiva africanizada para entender um pouco desses processos de aproveitamento e apagamento da nossa história. Começo a escrever composições e buscar referenciais até chegar em Código Ancestral, que é o trabalho que estou colocando no mundo agora”, explica a artista.
