Parque Municipal ganha estátuas de Lélia Gonzalez e Carolina Maria de Jesus neste domingo

(Croqui/Leo Santana)

Belo Horizonte vai ganhar estátuas das grandes escritoras mineiras Lélia Gonzalez e Carolina Maria de Jesus. A cerimônia de inauguração das esculturas será neste domingo (30), às 10h, em frente ao Teatro Francisco Nunes, no Parque Municipal Américo René Giannetti.

Segundo a PBH, as obras foram confeccionadas em bronze e em tamanho real pelo artista Léo Santana, cujas mãos eternizaram também as esculturas dos escritores integrantes do Circuito Literário de Belo Horizonte e de personalidades brasileiras por todo o país. Homenagem a duas personalidades que deixaram um legado indelével na cultura e na sociedade brasileira, idealizada a partir de representantes dos movimentos de mulheres negras de Minas Gerais, como Etienne Martins, as esculturas oferecem ao público uma oportunidade única de conhecer e refletir sobre a contribuição de vozes essenciais para a nossa história e cultura.

O evento, aberto ao público, terá a presença de autoridades locais, familiares das homenageadas, representantes de movimentos sociais e culturais. Conforme a prefeitura, foi programada uma apresentação cultural para celebrar a cultura afro-brasileira, como a participação especial da organização Yiaminas, integrante do Bloco Afro Magia Negra, formada por mulheres pertencentes a Reinados e Candomblés que tem como objetivo quebrar paradigmas e preconceitos, promovendo uma afrobetização na sociedade. As mulheres Yiaminas Yalorixá Nocelia de Oxum, Ekedy Lissa de Nanã, Ekedy Ziza de Oxumarê e Ekedy Kely de Osun farão uma cerimônia de purificação das estátuas com pipocas e água de cheiro. 

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Lélia Gonzalez e Carolina Maria de Jesus farão parte do conjunto cultural de BH (Reprodução/Fundação Cultural Palmares +Agência Brasil/Audálio Dantas)

Lélia Gonzales

Lélia Gonzalez, Intelectual, autora, ativista, professora, filósofa e antropóloga nasceu em Belo Horizonte no dia 1º de fevereiro de 1935. Referência nos estudos e debates de gênero, raça e classe no Brasil e no mundo, é considerada um dos principais nomes do feminismo negro no país.

Foi pioneira em pesquisas sobre cultura negra no Brasil e cofundadora do Instituto de Pesquisas das Culturas Negras do Rio de Janeiro (IPCN-RJ) e do Movimento Negro Unificado (MNU). Lélia teve uma importante presença tanto na academia quanto no mundo político, denunciando o racismo e o sexismo como formas de violência que subalternam as mulheres negras.  

Sua obra é composta por ensaios e artigos publicados em livros, revistas acadêmicas e periódicos de movimentos sociais e de partidos. Um de seus primeiros trabalhos foi o artigo “Mulher negra: um retrato”. Na década de 1980, publicou seu primeiro livro, “Lugar de negro”, em parceria com o sociólogo argentino Carlos Hasenbalg. Seus trabalhos abordaram perspectivas interseccionais quando o conceito em si ainda não havia sido criado.

Lélia morreu no Rio de Janeiro, em 1994, e suas ideias continuam a ressoar e a influenciar os debates contemporâneos sobre questões raciais e de gênero em todo o mundo. 

Maria Carolina de Jesus

A escritora, compositora, cantora e poetisa Carolina Maria de Jesus nasceu em Sacramento, região Sudoeste de Minas Gerais, em 14 de março de 1914. Sua obra mais famosa é “Quarto de Despejo: Diário de Uma Favelada” (1960).

Desde cedo, enfrentou as dificuldades da vida nas favelas de São Paulo, onde se estabeleceu em 1947. Apesar das limitações educacionais, em função da escassez de recursos, Carolina Maria demonstrou notável habilidade literária, capturando em suas páginas a realidade cruel e, muitas vezes, ignorada das camadas mais marginalizadas da sociedade brasileira.

“Quarto de Despejo: Diário de uma favelada” é um relato autobiográfico, que revela as duras condições de vida e a luta diária pela sobrevivência enfrentadas por ela e sua família. A obra foi produzida com o auxílio do jornalista Audálio Dantas e tornou-se um sucesso internacional, sendo traduzida em 13 idiomas e distribuída em mais de 40 países.

Uma das primeiras escritoras negras do Brasil, Carolina é lembrada como uma das vozes mais autênticas e importantes da literatura brasileira, e que trouxe à tona as vozes silenciadas das favelas e das comunidades marginalizadas.

Carolina Marua viveu grande parte da vida na Favela do Canindé, na Zona Norte de São Paulo, sustentando a si mesma e seus três filhos como catadora de papéis. Morreu na capital paulista, em 1977.

Estátuas em BH

A iniciativa da homenagem às escritoras Lélia Gonzales e Carolina Maria de Jesus partiu da jornalista Etiene Martins e da presidenta do Psol BH, Jozeli Rosa, com apoio da deputada estadual Bella Gonçalves (Psol).

Por meio do Instagram, Etiene Martins explicou que a ideia nasceu no início de 2023, mas que só foi tomar forma no fim do ano passado. “Belo Horizonte agora vai sediar a memória através de duas estátuas de mulheres pretas”, declarou.

“Carolina Maria de Jesus que foi a maior escritora desse país. Sua obra foi traduzida para treze idiomas e distribuída em mais de quarenta países. Lélia Gonzalez, uma antropóloga que lutou pelos direitos das mulheres mundo afora sendo a principal referência da América Latina”, escreveu.

A jornalista acrescentou que o epistemicídio tenta apagar a história das pessoas pretas. “Mas seguimos sendo resistência, promovendo a visibilidade das nossas, construindo memórias, homenageando quem merece ser homenageada, conhecida e lembrada”, acrescentou.

“Belo Horizonte também é preta e nossa negritude pode e deve fazer parte desse enredo”, concluiu Etiene. Ainda não há data de quando as estátuas serão implementadas em Belo Horizonte.

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