Conscientizar e alegrar é a intenção do projeto “PM na Laje”. De cima de uma laje, a banda da Polícia Militar de Minas Gerais levou muita música e animação para o Aglomerado da Serra. O show realizado nessa terça-feira (14) foi o início do projeto da PMMG, que pretende levar alento para comunidades carentes durante a crise da pandemia.
Segundo o porta-voz da corporação, major Flávio Santiago, a ideia é que a as pessoas tenham um pouco de entretenimento num momento de isolamento social e possam confraternizar sem sair de casa. “A ideia é tocarmos para que o som reverbere na comunidade, então cada um lá na sua laje, na sua janela, dançando, curtindo”, explica.
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Prevenção do coronavírus
O major Santiago acrescenta também que o evento teve um intuito de reforçar a prevenção contra o novo coronavírus. “Entre uma música e outra, aproveitamos para falar do asseio, das precauções”, afirma.
Nas redes sociais, algumas pessoas criticaram a ação, já que alguns vídeos mostram um grupo de pessoas aglomeradas em frente à banda. “A PM fazendo um show numa lage lá no Serra aglomerando pessoas… tá brincando com a minha cara só pode”, escreveu uma usuária do Twitter.
Alô, @alexandrekalil, o que a PM está fazendo aglomerando pessoas lá na Serra? Parece brincadeira isso. https://t.co/bHpS5eStaS
— Carol (@loracq_) April 15, 2020
No entanto, o porta-voz da PM afirma que foi tomado todo o cuidado para manter o isolamento social. A rua onde ocorreu o show foi fechada e, segundo o major, as pessoas que aparecem aglomeradas residem na casa de frente e na casa da laje onde ocorreu o show. “Bem-vindos à realidade da favela, aquelas 14 pessoas moram na mesma casa”, afirma.
A recepção da comunidade
Para Éder Rufino, morador do aglomerado, o show foi um sucesso. Ele acredita que é uma ação muito positiva da polícia, que foi bem recebida pela maioria da comunidade. “O coração do nosso aglomerado é a vila santana do cafezal. Lá, a maioria das ruas são nomes ligados à música. Foi justamente um policial, que era músico, que colocou esses nomes”, relembra.
O major Santiago reforça que tem recebido um retorno muito positivo da população. “Estão mandando mensagem, chego a ficar emocionado com a resposta, a comunidade virou positivamente para nosso lado, essa é a polícia que eu quero”, garante.
Ainda assim, nas redes sociais é possível encontrar algumas críticas à ação. “Que m*** é essa?”, escreveu um usuário do Twitter. “Nosso imposto vai pra isso?”, questionou outro.
Hoje toca ,amanhã, tiro,porrada e bomba.
— Antena 1 (@Mediovolante) April 16, 2020
Já Marquim D’Morais, também morador da Serra, acredita que as reações negativas vêm de uma relação complexa, que vai além de uma ação pontual durante a crise. “As críticas vem baseadas na forma que o estado e suas instituições se relacionam com o território, com a favela e os favelados”, afirma.
“O que é construído diariamente há anos, é bem o contrário desse falso lazer que quiseram mostrar e proporcionar. É o alvará que nunca é liberado pra fazer festa das crianças, a festa junina, a rua de lazer ou o baile funk. Ou o movimento popular que de fato é feito por moradores e para moradores, que é interrompido sem diálogo e com truculência”, explica.
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Mas a moradora do aglomerado da Serra e Presidente da Associação do Cafezal, Cristiane Pereira, acredita que dentro do aglomerado a opinião é muito diversa. E mesmo sem ter visto a apresentação, ela defende que isso possa ser uma mudança na relação da corporação com a comunidade.
“No nosso olhar, a PM é muito opressora. Na minha opinião isso mostra que as coisas podem mudar, pode ser diferente, a PM não vem na comunidade só em forma de opressão, vem de outra forma também”, aponta Cristiane.
Para o Major Santiago, a ação é um passo para a melhoria da relação entre a PM e a comunidade. “O projeto vem para ficar, iniciamos em um momento de crise, em que a comunidade precisa da pm não só para coibir a criminalidade, mas sendo um dos órgãos que leva alento, leva paz”, afirma.
“A ideia é levar para outras vilas, outras comunidades. Queremos maior capacidade de ter uma polícia de proximidade, polícia comunitária, presente nesses núcleos, que temos que valorizar muito”, conclui.