Após repercussão negativa, prefeitura recua e tenta recontratar médicos de UPA em Neves

Google Street View/Reprodução

A Prefeitura de Ribeirão das Neves, na região metropolitana de Belo Horizonte, resolveu recuar e tentar recontratar os médicos demitidos no início desta semana. A medida ocorreu após a repercussão da reportagem publicada pelo Bhaz na segunda-feira e os problemas gerados pelas demissões. A administração municipal chegou a publicar na página oficial que os cortes se tratavam de “boatos”, o que gerou desinformação aos moradores daquela cidade.

Na última segunda-feira, ao menos 20 médicos da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Acrízio Menezes, em Justinópolis, distrito de Neves, foram demitidos por telefone. A medida gerou falta de profissionais de saúde naquela unidade e protesto do Sindicato dos Médicos de Minas Gerais (Sinmed-MG). A entidade afirmou, na ocasião, que “repudia tais ações, ilegais e desastrosas já ocorridas em passado recente no mesmo município”. O órgão ainda explicou que “é vedado ao médico, assumir emprego, cargo ou função para suceder médico demitido ou afastado em represália à atitude de defesa de movimentos legítimos da categoria”.

Questionada sobre o motivo das demissões, o modo como elas foram feitas e os serviços oferecidos à população, a prefeitura se limitou a responder “que está sendo realizado um processo de requalificação nos atendimentos de ortopedia e cirurgia na Unidade de Pronto Atendimento – UPA Acrízio Menezes com o objetivo de promover uma assistência pontual e precisa. A gestão está trabalhando de forma incisiva para que não haja o desabastecimento dos atendimentos”.

Minutos depois, no entanto, a mesmo administração publicou na página oficial do Facebook que as demissões se tratavam de “boatos”. “Boatos sobre a demissão em massa de médicos de forma ilegal são falsos. A Secretaria Municipal de Saúde está requalificando o atendimento à população”. Logo, a publicação recebeu comentários questionando o posicionamento da prefeitura de Neves. “Requalificar deve ser outra forma de falar demitir, porque conheço médicos que foram demitidos, pq conheço médicos que foram demitidos”, escreveu Eudi Junior. “Vão lá na UPA de Justinópolis e pergunta se tem ortopedia? Tirem vocês mesmo suas conclusões”, disse Anderson Araújo.

Informações truncadas

Após ter ciência do posicionamento pública da prefeitura, o Bhaz voltou a falar com médicos demitidos e com a própria administração. Segundo os profissionais da saúde, eles foram procurados pela superintendente de urgência e emergência, Adaiana Rodrigues, logo após a repercussão da matéria publicada pelo Bhaz. “Eles [prefeitura] nos convocaram para voltar ao trabalho. Isso se deu pela matéria e também pelo alto volume de atendimentos que não foram prestados na segunda-feira. Como fomos demitidos só por telefone, algo não formal, pudemos voltar ao trabalho. Porém, alguns não aceitaram retornar”, explica uma das médicas demitidas e agora recontratada, que não quis se identificar. Ainda de acordo com a médica, a população ficou sem atendimento de urgência e emergência de ortopedia e cirurgia, na última segunda-feira.

Procurada ainda ontem, a prefeitura afirmou que “a gestão está trabalhando de forma incisiva para que não haja o desabastecimento dos atendimentos. Ressaltamos que o atendimento das especialidade de ortopedia e cirurgia está normalizado e que no plantão de hoje [ontem], 02/10/18, (somente hoje [ontem]) não houve plantão para cirurgia. Ressaltamos ainda que mesmo sem o repasse do Estado, a gestão tem cumprido o compromisso com o pagamento de todos os servidores”.

Preocupada com a falta de precisão sobre as demissões e possíveis recontratações, a reportagem insistiu com a prefeitura daquela cidade e conseguiu conversar hoje, por telefone, com o secretário de Saúde do município, José Jacinto da Mota Júnior. O gestor nega taxativamente que houve demissão e que os médicos deverão “provar”. No entanto, trata-se de uma demissão informal, por telefone, portanto, sem registro.

José Jacinto ainda garante que o objetivo da administração pública é melhorar o atendimento. “Desde o dia 29 de agosto abrimos a modalidade para contratação por Pessoa Jurídica (PJ), com o objetivo de qualificar o atendimento e otimizar recursos. O Estado deve R$ 28 milhões para a área da saúde em Ribeirão das Neves e, com isso, precisamos fazer com que os gastos fiquem mais em conta”, explica.

Ainda de acordo com o secretário, o que estaria sendo feito é uma substituição de profissionais que não quiseram passar para a modalidade de PJ. E, sobre não ter tido atendimento na segunda-feira, o Jacinto disse se tratar de uma mentira. “Na parte da tarde não tivemos o atendimento da ortopedia, pois o profissional não teve interesse em aderir a PJ, mas a noite já havia sido normalizado. Em momento algum deixamos a população desamparada”, completa. Os médicos e o secretário têm uma reunião marcada para esta quinta-feira (4), para resolver as questões.

Vitor Fernandes[email protected]

Sub-editor, no BHAZ desde fevereiro de 2017. Jornalista graduado pela PUC Minas, com experiência em redações de veículos de comunicação. Trabalhou na gestão de redes do interior da Rede Minas e na parte esportiva do Portal UOL. Com reportagens vencedoras nos prêmios CDL (2018, 2019, 2020 e 2022), Sindibel (2019), Sebrae (2021) e Claudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados (2021).

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