Professora acusa PM de tortura em bloco de Carnaval em BH: ‘Minha dor está na alma’

Caso aconteceu durante o cortejo do bloco “Chama o Síndico” (Vitor Fernandes/BHAZ)

Viraliza nas redes sociais a denúncia de uma professora de 54 anos que diz ter sido torturada pela Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) durante o cortejo do bloco Chama o Síndico na região da Pampulha, no último domingo (3) de Carnaval. Um advogado popular, procurado pela vítima, acusa a PM de perseguição política (veja abaixo).

A mulher que estava com um brinco escrito o nome do ex-presidente Lula tinha a companhia de filhos, nora e um neto de 4 anos. Eles estavam sentados no gramado, no entorno do Mineirão, quando uma discussão próxima a eles teve início. Para evitar que algo acontecesse, um dos filhos da mulher orientou que eles saíssem do local.

Devido à confusão, a criança começou a chorar, pois estava assustada. “Do nada, veio o sargento e me algemou arbitrariamente, me prendeu e me jogou dentro do carro”, relata a vítima. “O policial me torturou torcendo meus dedos. A ditadura voltou com força”, disse a mulher, que pediu para não ser identificada, ao BHAZ.

A professora ainda conta que o militar que a abordou também torceu seus ossos da mão, punhos, cotovelo e braços. Antes que isso ocorresse, ela indagou o policial sobre o motivo de estar sendo presa. Após relatar as dores, ela foi levada à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Santa Terezinha.

Durante o trajeto, a professora defecou e urinou na viatura e ao chegar à UPA uma médica perguntou o que ela tinha. “Ela está bêbada e fez uso de entorpecentes”, teria dito um dos militares.

A professora contrapôs a versão do agente destacando que tinha bebido somente três latas de cerveja que os filhos tinham levado. “A polícia não pode prender ninguém porque estava bebendo cerveja ao ar livre”, diz.

Por conta das dores sentidas, a médica da UPA orientou que a professora fosse levada ao Hospital Odilon Behrens para que um raio-x das mãos fosse feito. No entanto, os militares não a levaram, pois receberam ordens para ir até uma delegacia de plantão. Na delegacia, a professora foi colocada em uma “cela escura, sem luz, sem nada”, conforme ela classificou o local.

A professora diz que ficou na cela por algumas horas e que mais tarde foi conduzida à outra delegacia, e que teve sua bolsa confiscada. Dentro de uma sala, ela ficou até que o delegado a chamasse para informar que uma audiência aconteceria na segunda-feira (4).

Passados os momentos de tensão, a professora diz que ainda está “em choque”. “A minha dor está na alma, tenho crises de choro desde o domingo e não consigo dormir tamanha a covardia que sofri. A todo instante estou tremendo”, fala, emocionada.

Procurada pela reportagem, a sala de imprensa da PMMG informou que, segundo o boletim de ocorrência registrado no sistema de segurança do Estado, a professora tinha sintomas de embriaguez e que, ao ser abordada, xingou os policiais, conforme registro. A abordagem aconteceu após patrulhamento da PM nas proximidades do estádio.

Segundo a PM, a prisão da mulher ocorreu por desacato a autoridade, e, enquanto uma viatura era aguardada para conduzir a professora, ela reclamou de fortes dores nas mãos. Por essa razão, foi conduzida à UPA. A ocorrência foi encerrada em uma Delegacia da Polícia Civil.

Sobre a acusação realizada pela professora de que foi torturada, o BHAZ entrou em contato com a assessoria organizacional da PMMG, mas até fechamento desta matéria não recebeu o posicionamento.

Perseguição política

O advogado popular William Santos, que foi procurado pela vítima para orientá-la sobre o procedimentos que deveria tomar, informou ao BHAZ que o ocorrido foi uma “perseguição política por parte da Polícia Militar”. “Como ela estava com brinco escrito o nome de Lula foi realizada essa abordagem”, disse.

A Defensoria Pública de Minas Gerais atuará na apuração do caso, conforme contou William. “Esse caso está sendo acompanhado pela Rede Nacional de Advogado Populares, pela Defensoria Pública e orientamos a professora que procure nesta quinta (7) a Ouvidoria da PM”.

De acordo com o advogado, casos como o da professora também foram registrados em Januária e Montes Claros, no Norte de Minas. Nessas cidades, um advogado e um professor foram agredidos por militares durante Carnaval.

Vitor Fórneas[email protected]

Repórter do BHAZ de maio de 2017 a dezembro de 2021. Jornalista graduado pelo UniBH (Centro Universitário de Belo Horizonte) e com atuação focada nas editorias de Cidades e Política. Teve reportagens agraciadas nos prêmios CDL (2018, 2019 e 2020), Sebrae (2021) e Claudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados (2021).

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