Professora diz que atravessa a rua ao ver homem negro e alunos de escola em BH se revoltam

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Às autoridades, uma aluna informou que a docente ministrava uma aula de matemática quando começou a abordar o tema (Reprodução/Google Street View)

Estudantes da Escola Estadual Djanira Rodrigues de Oliveira, no bairro Jardim dos Comerciários, em Venda Nova, protestaram na manhã de hoje (19) contra a fala de uma das professoras do local feita em sala de aula. Segundo eles, a educadora teria dito que se visse um homem negro na rua, “atravessaria para o outro lado”. Por conta da confusão, a Polícia Militar foi acionada no local pela diretora escola.

Às autoridades, uma aluna informou que a docente ministrava uma aula de matemática nessa segunda-feira (18) quando começou a abordar o tema “feminismo”. Uma estudante teria afirmado que o feminismo não aceita bem mulheres pretas e gordas, quando a docente justificou que isso era um traço do racismo estrutural.

“A professora falou que pessoas da sua geração têm racismo estrutural e perguntou para os alunos se eles vissem um negro andando na rua a noite, se não iriam atravessar. Eles responderam que não e ela disse que, infelizmente, sim”, diz um trecho da ocorrência policial.

A estudante também afirmou ter gravado um trecho da aula, mas nega ter divulgado as imagens. Segundo ela, o assunto se espalhou de forma espontânea pela escola, gerando revolta nos demais alunos.

Professora foi escoltada

Aos policiais, a professora assume ter dado a declaração em sala de aula, mas explica que não passou de um exemplo de como o racismo estaria enraizado na sociedade. A educadora ainda afirmou ter sugerido aos alunos um bate-papo com professores de história e sociologia para aprofundarem o tema.

“Ela explicou que a sua geração cresceu ouvindo os pais e avós falando de maneira racista e que, por esse motivo, são racistas estruturais (…) a professora exemplificou que a criação de sua filha é totalmente diferente e que ela inclusive participava de movimentos raciais”, diz outro trecho do registro policial.

Ao retornar para a sala de aula hoje e tentar retomar a discussão, a professora afirmou que os alunos não quiseram se manifestar sobre o assunto novamente. No recreio, no entanto, eles teriam se reunido e começado a chamá-la de racista.

Na visão da educadora, os alunos não souberam interpretar o exemplo que ela levou para a sala de aula. Por se sentir intimidada, a profissional foi escoltada pela Polícia Militar na saída da escola.

Caso será investigado

Ao BHAZ, a SEE-MG (Secretaria de estado de Educação de Minas Gerais) disse que apura o caso. “A equipe de inspeção escolar irá apurar a situação, ocorrida na manhã desta terça-feira (19/4), e um relatório será elaborado para avaliar quais medidas poderão ser tomadas”, disse, em nota (leia na íntegra abaixo). 

“A SEE/MG reitera que repudia quaisquer atitudes e manifestações de discriminação, preconceito e racismo. A escola é um espaço sociocultural que deve respeitar e, sobretudo, discutir amplamente a pluralidade cultural, como uma forma de desconstruir preconceitos”, garante a pasta.

Nota da SEE-MG na íntegra

A Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais (SEE/MG) informa que a Superintendência Regional de Ensino (SRE) Metropolitana C, cuja a Escola Estadual Djanira Rodrigues de Oliveira, em Belo Horizonte, é circunscrita, está acompanhando o caso envolvendo uma professora da unidade. A equipe de inspeção escolar irá apurar a situação, ocorrida na manhã desta terça-feira (19/4), e um relatório será elaborado para avaliar quais medidas poderão ser tomadas. 

A direção da escola acionou a Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) para registrar um boletim de ocorrência e ouvir as partes envolvidas. A direção também ressaltou que a unidade sempre desenvolveu atividades pedagógicas sobre o combate ao racismo para que haja discussões e disseminação de conhecimento sobre o tema.

A SEE/MG reitera que repudia quaisquer atitudes e manifestações de discriminação, preconceito e racismo. A escola é um espaço sociocultural que deve respeitar e, sobretudo, discutir amplamente a pluralidade cultural, como uma forma de desconstruir preconceitos. Além disso, a pasta realiza constantemente a política estadual de promoção da paz nas escolas, como o Programa de Convivência Democrática.

Edição: Roberth Costa
Larissa Reis[email protected]

Graduada em jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e repórter do BHAZ desde 2021. Vencedora do 13° Prêmio Jovem Jornalista Fernando Pacheco Jordão, idealizado pelo Instituto Vladimir Herzog. Também participou de reportagem premiada pela CDL/BH em 2022.

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