Os hospitais de Belo Horizonte, tanto da rede municipal quanto estadual, estão na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Nas últimas semanas, acompanhamos a situação do Hospital Júlia Kubitschek, localizado na região do Barreiro, que ameaçou fechar as portas por conta da falta de material para atendimento médico da população. Fato que também atinge o Hospital Sofia Feldman, onde faltam materiais básicos, como toucas e luvas de procedimentos.
Outra situação crítica é a do Hospital João XXIII, na Região Centro-Sul da capital. Os médicos da unidade estão em greve por conta da falta de estrutura para operação. O maior hospital do estado está atendendo urgência e emergência e fazendo triagem dos pacientes para outros hospitais.
Em meio à crise, a demanda sobrecarrega as unidades de pronto-atendimento (UPA) de Belo Horizonte, onde pacientes chegam a esperar por até 12 horas para atendimento.
Com a restrição no atendimento nos hospitais administrados pela Rede Fhemig, a demanda aumentou nas nove UPAs da capital. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, houve um aumento do atendimento na UPA Centro-Sul, de 22,7% e na UPA Odilon Behrens (UPA Noroeste), o aumento foi de 12% nos últimos dias.
Entretanto, os médicos da rede municipal também ameaça parar. A categoria da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) decidiu, em assembleia realizada nesta quinta-feira (21), fazer uma paralisação de alerta na próxima terça-feira (26). A reivindicação é por melhoria no salário, no plano de carreira, nas condições dos hospitais e centros de atendimento e da segurança.
Inclusive, o aspecto segurança é um dos que mais incomoda a categoria. De acordo com Sindicato dos Médicos de Minas Gerais (Sinmed-MG), no primeiro semestre de 2018, mais de 340 casos de violência foram registrados nos pontos de saúde da PBH. São casos de roubos, ameaça e agressões físicas e psicológicas. Só nesta semana, foram mais dois registros na capital.
Uma nova assembleia dos médicos municipais será realizada no próximo dia 4 de julho. Caso as demandas não sejam atendidas e a PBH não apresente uma solução para os problemas, a categoria promete entrar em greve.
Tapar o sol com peneira
De acordo com a diretora administrativa do Sinmed-MG, Maria Mercedes Zuckeratto, a situação de todos os hospitais da capital colocam a saúde no município à beira de um colapso total. “O sindicato está fazendo um levantamento de todas as unidades da capital para levar ao Estado a situação de cada hospital. Não há nenhum com a situação positiva, todos estão com problemas de insumos, equipamentos e condições precárias”, afirma.
Ainda segundo a diretora, a situação não é uma novidade. “Nós estamos alertando a Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig) e a PBH há muito tempo. Agora, a situação beira o insuportável e reflete em toda a população. Não podemos fingir que a situação está boa”, ressalta.
Na capital, os hospitais com situações mais críticas, segundo o Sinmed, são o Hospital João Paulo II, Maternidade Odete Valadares, Hospital Júlia Kubitschek e João XIII.
“O que a Fhemig tem feito é tapar o sol com a peneira. Estão retirando materiais de outras unidades de saúde para colocar no Júlia Kubitschek, por exemplo. Porém, uma hora, vai faltar em todos os lugares e aí teremos o fechamento por falta de condições de atendimento. Nossa luta não é só pelos salários. Cada dia mais, é possível ver que os hospitais sofrem com falta de leito e vagas, aumento da fila de espera etc”, diz a diretora.
Colapso
Para a diretora, a situação chega à beira de um colapso. “Os hospitais grandes estão repassando o atendimento para as UPAs, que também estão ficando sem condições. As unidades da PBH já tinham uma demanda própria, por isso, elas não têm condições de atender o mesmo público que o de hospitais de grande porte, como os da rede estadual”.
Ela ainda complementa que a crise do Estado respinga na rede municipal e, com isso, pode gerar a paralisação total. “Se continuarmos assim, a situação vai chegar ao impossível e, com isso, não haverá condições de manter o atendimento em nenhuma rede. Quem sofre com isso é a população”, completa.
Fhemig
Uma nova reunião entre o Sinmed e a Fhemig será realizada na próxima terça-feira (26) para discutir soluções para os problemas, tanto da categoria médica quanto da estrutura dos hospitais.
Em nota, a Fhemig disse que: “A direção da Fhemig está providenciando a liberação de recursos junto à Secretaria de Estado de Fazenda e Secretaria de Estado de Saúde para garantir a assistência ao usuário do SUS”.
A fundação também garante que nenhum paciente em situação grave deixou de ser atendido no Hospital de Pronto-Socorro João XXIII e, também, que a situação de abastecimento do Júlia Kubitschek está normalizada desde segunda-feira. “Foram efetuados pagamentos a fornecedores, que voltaram a fazer a entrega de materiais. O abastecimento de insumos está regularizado e sob a vigilância da direção do hospital”, diz a Fhemig.
PBH
A prefeitura, por meio da Secretaria Municipal de Saúde, informou que desenvolve ações em parceria com a Secretaria de Segurança, visando qualificar a segurança nas unidades de saúde e resolver o problema da violência.
“Houve ainda o fortalecimento do patrulhamento da Guarda Municipal no entorno das unidades de saúde, elaborado a partir de um diagnóstico realizado entre a própria pasta da Saúde e a Secretaria Municipal de Segurança e Prevenção e baseado na vulnerabilidade de cada região. Trata-se do Programa Patrulha SUS. Esta ação foi iniciada no final de 2017, nas regionais Oeste, Barreiro, Noroeste e em 2018 nas regionais Pampulha, Leste, Nordeste, Norte e Venda Nova
Quanto ao desabastecimento e crise nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAS) de Belo Horizonte, o secretário de saúde, Jackson Machado e o prefeito Alexandre Kalil, conseguiram em articulação junto ao governador de Minas, Fernando Pimentel, um repasse no valor de R$ 60 milhões para a saúde via fundo Municipal de Saúde. Os primeiros R$ 20 milhões foram depositados no início da semana, viabilizando a compra de medicamentos e insumos básicos”, diz a secretaria, por meio de nota.