Novo vírus é descoberto na Lagoa da Pampulha: ‘Não se parece com nada descrito na Terra’

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Vírus foi descoberto na Lagoa da Pampulha (Universidade Federal de Minas Gerais/bioRxiv + Reprodução/StreetView)

Um novo vírus de origem ainda desconhecida foi descoberto por uma equipe de pesquisadores na Lagoa da Pampulha, em Belo Horizonte. Ele foi chamado de Yaravirus em homenagem a Iara, a mãe das águas no folclore brasileiro. O professor Jônatas Abrahão, do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), é um dos responsáveis pelo estudo. Ele conversou com o BHAZ sobre o assunto nesta segunda (10).

Além de Jônatas, a pesquisa conta com participação do virologista Bernard La Scola, da Universidade Aix-Marselha, na França. A revista Sciencie Alert publicou um artigo sobre a descoberta com o título “Cientistas descobrem vírus misterioso no Brasil sem genes conhecidos que possam identificar” (em tradução literal). Uma versão prévia do artigo também foi disponibilizada no site de outra revista científica, a bioRxiv. Ele pode ser lido em inglês.

Novo vírus foi descoberto na Lagoa da Pampulha, em BH (Divulgação/bioRxiv)

O Yaravirus mede cerca de 80 nanômetros, ou seja é muito pequeno, e não tem as mesmas capacidades dos chamados vírus gigantes também investigados por Abrahão. Além de muito grandes, eles são mais complexos e podem sintetizar proteínas e executar ações como reparo, replicação, transcrição e tradução do DNA.

Segundo os pesquisadores, o Yaravirus (Yaravirus brasiliensis) constitui “uma nova linhagem de vírus amebal com origem e filogenia intrigantes”. É que mais de 90% dos genes do Yaravirus nunca haviam sido documentados. “O que chama mais atenção nessa descoberta é que o Yaravirus é uma entidade, um organismo, que não se parece com nada que foi descrito no planeta Terra”, contou Jônatas ao BHAZ.

Abrahão explica que o estudo do vírus está bem avançado e que diversos testes já foram realizados. “O que a gente faz [a equipe] é procurar vírus em biomas brasileiros e a Lagoa da Pampulha é um ponto de coleta muito conveniente. Fizemos a coleta das amostras perto do Zoológico”, diz. “No laboratório, a investigação é uma maneira de entender o passado e a origem da vida, já que nossa origem se confunde com a origem dessas células”, explica o pesquisador.

Pesquisadores coletaram amostras na Lagoa da Pampulha (Amanda Dias/BHAZ)

O estudioso também frisa que, até onde se sabe, o novo vírus não tem capacidade para infectar humanos. “Esse vírus não infecta nenhuma célula humana, ele é difícil de se propagar até mesmo em amebas. Até onde sabemos, ele não tem capacidade para ser transmitido às pessoas”, explica.

A descoberta do Yaravirus mostra que ainda há muito a aprender e propõe, segundo Abrahão, dois questionamentos centrais: “Até onde a gente conhece o que existe no planeta em termos biológicos e como podemos utilizar genomas e proteínas nunca descritos antes para o bem da humanidade?”, reflete.

De acordo com o pesquisador, um dos próximos passos da pesquisa é buscar apoio de entidades públicas e privadas. O objetivo, segundo ele, é “explorar o que esses genomas e proteínas novas podem oferecer e como podem ser aplicados”.

Roberth Costa[email protected]

De estagiário a redator, produtor, repórter e, desde 2021, coordenador da equipe de redação do BHAZ. Participou do processo de criação do portal em 2012; são 11 anos de aprendizado contínuo. Formado em Publicidade e Propaganda e aventureiro do ‘DDJ’ (Data Driven Journalism). Junto da equipe acumula 10 premiações por reportagens com o ‘DNA’ do BHAZ.

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