Os jornalistas que fazem a cobertura diária da Presidência da República, no Palácio da Alvorada, deixaram o local da entrevista nesta terça-feira (31) após o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) incentivar seus apoiadores a hostilizarem a imprensa.
Quando um repórter fez uma pergunta sobre as orientações do Ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que contrariam o posicionamento do presidente, um apoiador gritou: “Ninguém aguenta mais vocês (imprensa) jogando os ministros contra o presidente. Isso é uma canalhice”.
O homem prosseguiu dizendo que a imprensa “colocava o povo contra o presidente”. Jair Bolsonaro incentivou a atitude do homem mandando os jornalistas ficarem “quietos” e respondeu a eles: “É ele que vai falar, não são vocês não”.
Depois dos ataques, alguns jornalistas se retiraram do local. O presidente ironizou a atitude dos repórteres e gritou: “Ué, vai embora? Mas vão abandonar o povo? Nunca vi isso, a imprensa que não gosta do povo”.
Fala distorcida da OMS
Depois que os repórteres deixaram o Palácio da Alvorada, Jair Bolsonaro continuou conversando com seus apoiadores. Em resposta à pergunta da imprensa sobre Mandetta, ele havia respondido que o diretor-geral Organização Mundial da Saúde, Tedros Adhanom Ghebreyesus, concordava seu posicionamento contrário ao isolamento social, o que não é verdade.
“Eu não sei o que ele (Mandetta) falou. Não se esqueça que eu sou o presidente. Vamos seguir orientação da OMS. A OMS falou o quê? O que o diretor-presidente falou? Que esse povo humilde fica o dia todo na rua pra levar um prato de comida à noite em casa. E ele falou isso, que ele era africano, sabe o que é passar dificuldade. A fome mata mais que o vírus, tá certo?”, afirmou o presidente.
Bolsonaro reproduziu o discurso do filho, Eduardo, que compartilha nas redes sociais um vídeo editado do diretor-geral da OMS fala sobre o impacto do isolamento social para os mais pobres. No entanto, na versão completa do vídeo, Tedros Adhanom garante que a estratégia “é a única opção que temos para derrotar esse vírus”.
“É vital respeitar a dignidade do próximo. É vital que os governos se mantenham informados e apoiem o isolamento. Os governos precisam garantir o bem-estar das pessoas que perderam sua renda”, afirma o diretor-geral no pronunciamento.