Jornalistas deixam entrevista após Bolsonaro estimular apoiadores a ofenderem imprensa

jornalistas deixam entrevista
O presidente incentivou um apoiador a hostilizar repórteres (Facebook/Reprodução)

Os jornalistas que fazem a cobertura diária da Presidência da República, no Palácio da Alvorada, deixaram o local da entrevista nesta terça-feira (31) após o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) incentivar seus apoiadores a hostilizarem a imprensa.

Quando um repórter fez uma pergunta sobre as orientações do Ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que contrariam o posicionamento do presidente, um apoiador gritou: “Ninguém aguenta mais vocês (imprensa) jogando os ministros contra o presidente. Isso é uma canalhice”.

O homem prosseguiu dizendo que a imprensa “colocava o povo contra o presidente”. Jair Bolsonaro incentivou a atitude do homem mandando os jornalistas ficarem “quietos” e respondeu a eles: “É ele que vai falar, não são vocês não”.

Depois dos ataques, alguns jornalistas se retiraram do local. O presidente ironizou a atitude dos repórteres e gritou: “Ué, vai embora? Mas vão abandonar o povo? Nunca vi isso, a imprensa que não gosta do povo”.

Fala distorcida da OMS

Depois que os repórteres deixaram o Palácio da Alvorada, Jair Bolsonaro continuou conversando com seus apoiadores. Em resposta à pergunta da imprensa sobre Mandetta, ele havia respondido que o diretor-geral Organização Mundial da Saúde, Tedros Adhanom Ghebreyesus, concordava seu posicionamento contrário ao isolamento social, o que não é verdade.

“Eu não sei o que ele (Mandetta) falou. Não se esqueça que eu sou o presidente. Vamos seguir orientação da OMS. A OMS falou o quê? O que o diretor-presidente falou? Que esse povo humilde fica o dia todo na rua pra levar um prato de comida à noite em casa. E ele falou isso, que ele era africano, sabe o que é passar dificuldade. A fome mata mais que o vírus, tá certo?”, afirmou o presidente.

Bolsonaro reproduziu o discurso do filho, Eduardo, que compartilha nas redes sociais um vídeo editado do diretor-geral da OMS fala sobre o impacto do isolamento social para os mais pobres. No entanto, na versão completa do vídeo, Tedros Adhanom garante que a estratégia “é a única opção que temos para derrotar esse vírus”.

“É vital respeitar a dignidade do próximo. É vital que os governos se mantenham informados e apoiem o isolamento. Os governos precisam garantir o bem-estar das pessoas que perderam sua renda”, afirma o diretor-geral no pronunciamento.

Sofia Leão[email protected]

Repórter do BHAZ desde 2019 e graduada em jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Participou de reportagens premiadas pelo Prêmio Cláudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados, pela CDL/BH e pelo Prêmio Sebrae de Jornalismo em 2021.

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