Deputada do PSL é execrada ao relatar que trabalhou na infância para pagar aulas de tênis

Twitter/Reprodução + Ministério do Trabalho + Governo de São Paulo/Divulgação

Após o presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL), defender o trabalho infantil e afirmar que não descriminalizaria a prática para não ser “massacrado”, o tema ganhou novo capítulo nesta semana. Desta vez, uma deputada federal do PSL recorreu ao Twitter para relatar que se sentia “criativa e produtiva” quando trabalhou aos 12 anos para pagar aulas de tênis. Ao BHAZ, a parlamentar disse que suas palavras foram distorcidas.

“Aos 12 anos de idade eu fazia brigadeiros para vender na minha escola. E o mais interessante era que eu não precisava mas eu sentia uma enorme satisfação de pagar as minhas aulas de tênis com o esse dinheiro”, afirmou a deputada federal do PSL e ex-procuradora do Distrito Federal, Bia Kicis, por meio de publicação na rede social.

O relato ocorreu nesta segunda, após o debate ser levantado por Bolsonaro e esclarecido por autoridades e estudiosos do tema. “A sociedade brasileira tem se mostrado bastante tolerante em relação ao trabalho infantil. Acredito que essa tolerância se deve a uma falta de conhecimento ou de uma reflexão mais aprofundada sobre todos os impactos negativos do trabalho infantil nas crianças”, afirmou ao UOL a coordenadora nacional da Coordenadoria Nacional de Combate à Exploração do Trabalho da Criança e do Adolescente (Coordinfância) do MPT, Patrícia Sanfelici.

“Não acredito que, tendo tudo isso em mente, alguém possa insistir que o trabalho infantil pode ser algo positivo. O argumento de que trabalhar não faz mal ou de que ele é uma alternativa viável é o que a gente busca todos os dias combater e sensibilizar a sociedade para pensar diferente”, complementou (leia mais abaixo).

Críticas

Logo a publicação foi inundada de críticas. Usuários fizeram uma thread (ou um fio, em português, quando vários tuítes sobre um mesmo assunto são publicados) rebatendo a relativização do trabalho infantil – definição de todo e qualquer tipo de trabalho desempenhado por crianças abaixo de 14 anos – com imagens. Confira:

Outras críticas pesadas foram publicadas por outras pessoas. “Sério mesmo que você tá comparando a sua realidade privilegiada com trabalho infantil? Toma vergonha nessa cara antes de postar um absurdo desse, totalmente fora da realidade”, afirmou Patrícia Lelis.

‘Resiliência’

A deputada federal Bia Kicis disse, ao BHAZ, que deixou claro que não precisava trabalhar, mas que se sentia feliz por fazê-lo. “Eu não quero chamar o que eu passei de trabalho infantil. Eu era uma criança que estudava e que tive condições, graças a Deus. O que eu falei é que, como criança, eu busquei trabalho. Me fez bem, me realizava”.

“Não quer dizer que a criança não vá para a escola. Mas ela aprender um ofício desde cedo, pode ser uma coisa muito boa. Várias pessoas começaram a colocar experiências, que trabalhavam não por necessidade, mas somente para aprender”, continuou a deputada.

De acordo com a deputada, as pessoas estão distorcendo o que ela falou e dizendo “baboseiras”, para tentar dar um outro contexto. “Estamos criando pessoas sem resiliência para a vida. Nada pode ser feito. Se você ensina para uma criança um ofício, já vem todo mundo fiscalizar, dizer que não pode. Acho errado isso, que está havendo um grande exagero. Sou contra o trabalho escravo, e meu tuíte não tem nada a ver com isso”, continuou.

“Tem aquela criança que está trabalhando para sobreviver, e é melhor deixá-la trabalhar, do que deixá-la morrer. Agora, óbvio que isso não é o ideal. Mas nosso país tem vários problemas sociais. Têm crianças que vendem balas no sinal, mas é melhor isso, do que a criança sair por aí drogada, sendo prostituída”, completou.

Trabalho infantil

Para reforçar a luta contra esse tipo de trabalho, o MPT lançou, em junho, a campanha nacional “Toda Criança é Nossa Criança. Diga Não ao Trabalho Infantil”.

A campanha, que conta com um filme de animação, questiona os adultos: “você acha difícil imaginar o quanto é ruim para uma criança ficar vendendo coisas na rua? Comece imaginando que é o seu filho.”

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), quase 2,5 milhões de crianças e adolescentes entre 5 e 17 anos estão trabalhando no Brasil. Dados do Observatório Digital do Trabalho Escravo, desenvolvido pelo MPT em cooperação com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), mostram que entre 2003 e 2018, 938 crianças foram resgatadas de condições análogas à escravidão.

Para a coordenadora nacional da Coordenadoria Nacional de Combate à Exploração do Trabalho da Criança e do Adolescente (Coordinfância) do MPT, Patrícia Sanfelici, muitas vezes ao oferecer trabalho para crianças e adolescentes, as pessoas acham que estão ajudando-os a sair da rua, a ter um futuro, mas não é o que ocorre.

“Na verdade estão contribuindo para a perpetuação de um ciclo de miséria, podendo até trazer prejuízos graves à formação física, intelectual e psicológica desse jovem ou criança”, disse a coordenadora.

O MPT reforça que só a partir dos 14 anos os jovens podem exercer atividades de formação profissional, apenas em programas de aprendizagem, e com todas as proteções garantidas. A campanha foi desenvolvida pelo MPT de São Paulo se estenderá às redes sociais do MPT em todo o país.

Com Agência Brasil

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