Douglas Souza sofre homofobia em aeroporto de Amsterdã e desabafa sobre espera de 15 horas

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“Foi um dos piores dias da minha vida”, disse o jogador (Reprodução/@douglasouza/Instagram)

O jogador de vôlei Douglas Souza desabafou sobre a homofobia sofrida em aeroporto de Amsterdã, na Holanda, enquanto viajava para se apresentar ao novo clube, Vibo Valentia, na Itália. O atleta passou pelo controle de imigração holandês e contou sobre a mudança de tratamento depois que disse ao policial que estava sendo acompanhado pelo namorado. Douglas, declaradamente gay, conquistou os internautas durante as Olimpíadas de Tóquio, quando jogou pela seleção brasileira.

O atleta saiu do Brasil na segunda-feira (6), às 20hrs, e chegou na Itália apenas na quarta-feira (8), por volta de 14hrs. A demora para chegar no destino aconteceu depois que ele ficou, junto com o namorado, mais de 15 horas no aeroporto esperando pela liberação da imigração. “Era para ter chegado na terça-feira, era para ter sido uma viagem bem mais tranquila do que foi”, disse Douglas na rede social.

O jogador postou vários vídeos, ontem, detalhando o que aconteceu. Ele estava viajando com o namorado, Gabriel Campos, que vai morar com ele na Itália. “Estava eu e o Gabriel, meu namorado. A gente pegou um voo de São Paulo, Guarulhos, até Amsterdã, aí de Amsterdã a gente precisaria passar pelo controle de passaporte para vir para Roma, para depois pegar um voo e ir para Vibo”, explicou.

Segundo o atleta, a viagem estava tranquila, até que disse ao controle de imigração que estava se mudando com o namorado. “Quando eu disse para ele que era o meu namorado, a fisionomia dele já mudou na hora. E o tratamento dele também. Aí ele perguntou o que o Gabriel ia fazer lá, aí eu falei, ‘ele é meu namorado, nós temos aqui um documento de união estável, ele vai me acompanhar lá, trabalhar lá'”, relatou.

Horas de espera

Douglas disse que foi levado para outro lugar depois dessa conversa. “Levaram a gente para outro lugar, ali do lado da fila mesmo do controle de passaporte, onde tinha mais umas vinte pessoas. Largou a gente ali durante simplesmente umas cinco horas mais ou menos, não dava nenhum tipo de satisfação”, disse. O jogador chegou a perguntar diversas vezes qual era o problema, e se precisavam do telefone do clube italiano, mas não teve resposta.

Depois de aproximadamente cinco horas, chamaram o atleta para uma salinha. Novamente, a conversa corria bem, até insistirem em questionar sobre a relação de Douglas com Gabriel. “Eu achei muito estranho. Aí depois disso, depois de umas cinco, seis horas, eles me chamaram numa salinha e fizeram toda uma entrevista para perguntar o que eu ia fazer lá. Até então achei super normal. Até então tranquilo. Para você saber o que você vai fazer no país. Só que aí chegou e bateu na tecla novamente”, contou.

“Eu tentava explicar que era meu namorado, eles tinham muita ‘dificuldade’ de entender esse termo, para eles era companheiro. Eles não falavam de jeito nenhum que era namorado. E a gente tinha uma documentação falando que a gente tinha união estável, mas eles insistiam no companheiro e não queriam de jeito nenhum deixar o Gabi passar”, relatou.

As autoridades ainda perguntaram se o clube sabia que Gabriel moraria com Douglas e se estavam bem com a situação. “Eu falei que estava, aí me liberou, me deixou ali num canto por mais algumas horinhas maravilhosas”.

Padrão de tratamento

“Eu comecei a perceber um certo padrão no tratamento deles, porque como eu falei no começo, a gente foi colocado lá com mais 20 pessoas, dessas, 18 pessoas eram pessoas pretas ou latinas e duas era eu e Gabi”, observou.

Douglas disse que outro homem percebeu o mesmo que ele e se revoltou com as autoridades. “Ele ficou super revoltado porque uma moça passou na frente dele. Ela ficou uns 15 minutos no máximo, foi atendida, uma loirinha de olho azul. Ele se revoltou e começou a gritar e perguntar: ‘Por que vocês estão atendendo ela e não estão atendendo a gente, o que aconteceu? É por que ela é branca?”, relatou.

“Eu já tinha pensado nisso, só que eu pensei: ‘não, será que é coisa da minha cabeça?’. Só que realmente foi o que aconteceu. Eu e o Gabi chegamos lá tinham 20 pessoas na nossa frente, eles atenderam todas essas 20 pessoas, depois chegaram pessoas depois de mim e do Gabi, aí resolveu o problema de todo mundo, e não resolvia o problema da gente”, disse.

“Deixou a gente ali, eu perguntava quanto tempo que a gente ia ter que esperar, por que a gente ia ter que esperar, não falavam nada. A gente ficou literalmente o dia inteiro lá sentados esperando”, contou. O casal recebeu a liberação apenas às 23h, quando não tinha mais voos para a capital italiana. “Eles liberaram a gente e mais esse moço que estava ali reclamando”, disse.

O próximo avião para Roma saía apenas dali oito horas. “A gente teve que ficar dormindo dentro do aeroporto porque a gente teve que passar pela aquela parte do controle de passaporte, e não tinha como a gente ir pro hotel, a gente teve que ficar literalmente ali sentado, jogado no chão até às 7h que era o próximo voo para Roma”.

‘Eu sei o que eu vivi’

“Foi o que eu senti. Foi uma situação muito estranha. Foi muito difícil porque a gente se sente fragilizado nessa situação, porque a gente não pode fazer nada, era contra a polícia”, disse. Segundo o jogador, ele ficou no aeroporto durante 15 horas, sendo que deveria ter ficado em Amsterdã, no máximo, três horas.

“Infelizmente foi o que aconteceu, e eu não achei normal essa situação. Aí as pessoas vão falar: ‘ah Amsterdã é super liberal’. Mas, meu anjo, não é assim que funciona. Eu vivi aquilo, eu sei o que eu vivi, o olhar, eu sei o jeito que trataram eu e o meu namorado na frente de todo mundo, foi uma situação muito constrangedora”, lamentou.

Douglas, conhecido pelo seu alto-astral, disse que não quer prolongar o assunto, mas que precisava denunciar o caso. “Eu não quero ficar prolongando esse assunto, ficar falando sobre isso, porque vocês me conhecem, sabem que eu gosto de passar coisas boas para vocês, mas infelizmente é importante a gente falar isso e mostrar que existe”, explicou.

O jogador sempre viajava para outros países com o uniforme da seleção brasileira. De acordo com ele, da primeira vez que não usou a vestimenta, já foi vitima de homofobia. “Eu sempre fui acostumado a viajar fardado de seleção brasileira, foi minha primeira viagem internacional e foi a primeira vez que acontece isso comigo”, contou.

‘A gente tem que lutar’

“Eu só tô falando sobre isso porque óbvio que é importante a gente ter voz e expor esse tipo de situação que aconteceu com a gente. Porque é real e as pessoas tentam colocar para debaixo do tapete e falar ‘não, não aconteceu, nada a ver, foi coisa da sua cabeça’. Mas tinham mais pessoas ali que perceberam esse padrão de tratamento diferente das pessoas”, disse.

“Eu espero que ninguém passe por isso. Eu sei que vai passar, infelizmente vai passar, mas a gente tem que lutar contra isso”, finalizou o jogador.

É crime no Brasil!

O Brasil é o país que mais mata LGBTs no mundo. Vale reforçar que homofobia e transfobia são crimes previstos por lei. Eles entram na lei do racismo, já existente há 30 anos e, com isso, as punições são semelhantes. O STF (Supremo Tribunal Federal) criminalizou a homofobia em junho de 2019.

Veja o que é considerado crime:

  • “praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito” em razão da orientação sexual da pessoa poderá ser considerado crime;
  • a pena será de um a três anos, além de multa;
  • se houver divulgação ampla de ato homofóbico em meios de comunicação, como publicação em rede social, a pena será de dois a cinco anos, além de multa;
Edição: Vitor Fernandes

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