Após cinco dias da reportagem feita pelo médico Drauzio Varella no Fantástico, a detenta trans Suzy Oliveira já recebeu 234 cartas, 16 livros, duas bíblias, maquiagens, chocolate, envelopes e canetas. A história da mulher ganhou repercussão por causa de um momento tocante.
Ela contou ao médico que não recebeu nenhuma visita na cadeia em um intervalo de oito anos. Ele respondeu com um abraço, olhos marejados e o seguinte comentário: “Solidão né, minha filha?”
Veja o momento:
E o Drauzio fez tudo quando ninguém ao menos tentou pic.twitter.com/Xi7bUE6mgk
— program boy, me contrata (@iahumana) March 2, 2020
Conforme matéria publicada pelo G1, as cartas vieram dos mais variados Estados. Além de São Paulo, há correspondências do Distrito Federal, Bahia, Recife, Santa Catarina, Espirito Santo e Rio de Janeiro.
CARTAS PARA SUZY: tendo em vista a repercussão de reportagem exibida no Fantástico com a presa trans Suzy Oliveira, que está na Penitenciária I "José Parada Neto", a SAP recebeu pedidos interessadas em enviar cartas à reeducanda, que há 8 anos sem receber visitas. há 8 anos. pic.twitter.com/nvPZahn9o5
— SAP SP (@sapsp) March 2, 2020
Quem quiser fazer parte dessa corrente do bem, o endereço para o envio de cartas é: rua Benedito Climérico de Santana, 600, Várzea do Palácio, CEP 07034-080, Guarulhos/SP. A Secretaria de Segurança do Estado de São Paulo pede para que o nome dela seja colocado no envelope.
Mulheres trans nos presídios
Só nos presídios paulistas, existem 700 mulheres trans. Há décadas, Drauzio trabalha como médico voluntário em penitenciárias e conhece de perto a realidade nesses locais. Na reportagem, o médico conta que começou a atender mulheres trans quando trabalhava no Carandiru.
“Só que eu não entendia nada. E aí fui estudar um pouco, fui ler um pouco e comecei a dar palestra para as trans. Acho que no fim a cadeia faz um pouco parte da história de vida da trans, porque existe uma pressão da sociedade para que a trans seja marginal”, relatou.
Uma das questões abordadas foi a necessidades de mulheres trans usarem a prostituição para sobreviver nas prisões. Segundo a presidiária Susy Santos, de 30 anos, o preconceito impede qualquer outra saída para as mulheres trans se manterem. “Na cadeia você é obrigada a se prostituir por uma pasta de dente, um sabonete, um prato de comida”, relata.
Outra questão levantada pelo médico foi a convivência com altos índices de contaminação por HIV. O médico disse que testou no Carandiru 82 mulheres trans, das quais 79% eram HIV-positivas. “Um dia eu fui dar uma aula, aí uma menina falou ‘o que nós precisamos é de camisinha’. Eu não esqueço essa história porque foi o dia que estourou o massacre do Carandiru”, narrou.