‘O amor é igual’: Família com dois filhos adota três irmãos em história emocionante

Fabiano e sua família em São Paulo (Arquivo pessoal)

“Não me vejo mais sem meus filhos, daria tudo o que tenho e o que não tenho para permanecer com eles. O amor que tenho pelos meus filhos biológicos é o mesmo que tenho pelos adotivos”, conta o autônomo Fabiano Jesus Santos. Ele tem uma família com cinco filhos, dois biológicos e três adotivos. Ao BHAZ, ele conta que sofreu maus-tratos por parte do pai, racismo pelo padrasto, teve que trabalhar desde novo e se casou cedo.

Fabiano vem de uma família humilde, de Santa Inês, no interior da Bahia. Ele já trabalhou como motoboy, carregador e telemarketing em algumas empresas e, atualmente, é autônomo. Ele chegou a cursar três períodos de comunicação social. “Tive que trancar, por questões financeiras. Aí me formei no curso técnico de transações imobiliárias, para trabalhar como corretor de imóveis”.

Pai violento

O pai do autônomo era uma pessoa violenta, bebia muito, usava drogas e batia nele e em sua mãe com frequência. “Eu me recordo de estar sentado, em uma cadeirinha, com quatro anos de idade, quando meus pais começaram a discutir. Com muita raiva, meu pai jogou uma xícara de café quente no rosto da minha mãe. Acho que ali foi o estopim, e ela fugiu para São Paulo e separou de meu pai”, relata.

“Quando meu pai me batia, era de uma fúria tão grande, que não tenho nem como me explicar. Uma bofetada que poderia dar em um homem, ele dava em mim. Teve uma vez, que o tapa foi tão forte que estourou meus tímpanos. Fiquei muito tempo com o ouvido inchado e desenvolvi um problema de audição”.

Até os sete anos, ele continuou com o pai. As agressões, tanto verbais quanto físicas, persistiram. “Meu pai sempre foi uma pessoa que trabalhou, mas tinha seus deslizes, muitos defeitos. Eu acabei o perdoando depois de alguns anos”, explica.

Fabiano lembra da avó, que foi uma pessoa importante em sua história. “Ela ajudou muito em minha criação, devo tudo que sou hoje a ela. Me deu muito amor e carinho”.

Fabiano em sua moto (Arquivo pessoal)

Mudança para São Paulo e racismo

Após esse período, ele mudou-se para São Paulo para morar com a mãe. “Mesmo distante, minha mãe sempre esteve presente na minha vida. Ela mandava mantimentos, dinheiro, tudo o que eu precisava. Nunca me deixou desamparado”, conta. Chegando na capital paulista, ele conta que a mãe seguiu a vida e se casou novamente.

“Minha mãe casou com um outro homem e teve mais dois filhos. Antes do nascimento deles, meu padrasto me tratava bem, mas depois, as coisas mudaram”. Fabiano explica que o racismo e agressões verbais tiveram início por parte do padrasto.

O autônomo explica que seu padrasto é branco, assim como sua mãe. Já o pai biológico é negro. “Eu sofri muito no tempo que morei com eles. Sempre ouvi piadinhas do meu padrasto. Ele falava que eu tirava dinheiro da carteira dele. ‘Nego quando não caga na entrada, caga na saída’, ele dizia. Isso quando eu tinha apenas 12 anos. Você se sente mal, eu era apenas uma criança e era difícil assimilar tudo isso. Ele dizia que eu não iria dar certo, que eu viraria bandido”.

Início de namoro e casamento

Fabiano conheceu Daniele quando tinha 14 anos, e ela 13. “Nós éramos vizinhos e estudávamos na mesma escola. Começamos a namorar, mas o pai dela não gostava e queria que parássemos de nos ver. Com isso, começamos a namorar escondidos. A mãe dela chegou até a sugerir que fugíssemos juntos, mas eu falei que não queria dessa forma”.

Os dois então, quando Fabiano completou 15 anos, começaram a morar juntos. “Eu queria me casar, mas aí teria que ter a emancipação, que o pai dela não queria permitir. Então, moramos juntos até meus 19 anos e os 18 dela, e aí nos casamos oficialmente. Nesse meio tempo, antes mesmo do casamento, nasceu nossa primeira filha, a Larissa”. Três anos depois veio o Gabriel.

Daniele, Larissa, Gabriel e Fabiano (Arquivo pessoal)

Adoção dos três irmãos

O pai biológico de Fabiano se casou novamente e teve outros dois filhos. Os dois mexiam com drogas. Um deles se envolveu com um mulher e teve o primeiro filho. Ele morava em uma fazenda, de favor. O fazendeiro tentou estuprar a mulher, que revidou dando uma facada no homem, que morreu. Ela foi presa, já grávida de uma menina. A criança nasceu e morou com ela na cadeia durante seis meses. Após isso, o pai de Fabiano buscou e cuidou da menina. A mulher foi solta, cometeu outro delito e foi presa novamente. “Ela já estava grávida de outra menina”, explica.

Em 2016, Fabiano recebeu a notícia que o pai tinha sofrido um AVC e, com isso, foi para Santa Inês buscá-lo, para que morasse com ele em São Paulo. “Larguei tudo e fui cuidar dele. Mesmo com todos os defeitos, é meu pai”. Foi aí que ele ficou sabendo que o irmão estava quase perdendo a guarda dos filhos, por conta das drogas e, como a mãe estava presa, também não poderia cuidar.

O Conselho Tutelar explicou que as crianças iriam todas para um orfanato. Para evitar que isso acontecesse, Fabiano resolveu adotar todos os três. “Eu não poderia permitir. Eu fui para cuidar do meu pai, mas acabei voltando com as três crianças também. Liguei para a Daniele e falei: ‘Estou levando meu pai e mais três filhos para cuidar. Você me ajuda?’. Ela sempre foi muito parceira e topou na hora”.

Ester, Rute e Ezequiel (Arquivo pessoal)

Hoje, Fabiano tem 37 anos e trabalha como autônomo. Daniele tem 35 anos e é dona de casa. Os filhos biológicos são Larissa, de 19 anos e Gabriel, de 16. Os três filhos adotados são Ezequiel, de 5 anos, Ester, de 4 e Rute, de 2. “Sou muito grato pela família que tenho. Todos são meus filhos e faria de tudo por eles”.

Vitor Fernandes[email protected]

Sub-editor, no BHAZ desde fevereiro de 2017. Jornalista graduado pela PUC Minas, com experiência em redações de veículos de comunicação. Trabalhou na gestão de redes do interior da Rede Minas e na parte esportiva do Portal UOL. Com reportagens vencedoras nos prêmios CDL (2018, 2019, 2020 e 2022), Sindibel (2019), Sebrae (2021) e Claudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados (2021).

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