‘Mostrei a nota fiscal’: Acusada de furtar caderno, jovem é perseguida e humilhada por segurança de loja

Facebook/Reprodução

“É difícil você ter ciência que sofrerá até a morte apenas por ser quem você é”. Esta frase foi dita por Bruna Ribeiro, de 22 anos, ao BHAZ, após ser acusada de ter furtado um caderno em uma loja em São Paulo (SP).

O relato, feito pela atriz e arte-educadora, traz um desabafo sobre o racismo sofrido por ela na última semana. A jovem registrou um boletim de ocorrência na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância e processará a loja. A postagem em que ela fala sobre o assunto já teve mais de 10 mil compartilhamentos no Facebook.

De acordo com Bruna, ela foi até uma loja para comprar um caderno de desenho, no valor de R$ 6,50, no último dia 13. “Fui ao caixa, paguei com o meu cartão de crédito. Peguei as notas fiscais. A atendente me ofereceu uma sacola, mas eu disse que não precisava. E saí com esse caderno nas mãos”, explica.

A jovem conta que andou cerca de 50 metros, mas que foi puxada com força por um segurança da loja. “Fui pega pela mochila e puxada para trás. Rapidamente fui segurada pelo braço por um homem, que berrava na rua, que eu tinha que devolver o caderno, porque eu roubei”, relata.

Bruna explica que o segurança gritava que a jovem era uma ladra. Ela disse ter ficado sem entender a situação e tentou argumentar que havia pagado pelo caderno e que tinha nota fiscal para provar.

Desespero e indignação

“Ele disse que se eu tivesse comprado, eu estaria com o caderno em uma sacola, sendo assim, não deu a mínima para o que eu estava falando, me puxou pelo braço e começou a me levar até a loja”, desabafa Bruna.

Neste momento, a jovem conta que começou a gritar, dizendo que a nota estava em suas mãos. “Pedi para ele olhar, mas ele não olhava. Não me ouvia. Ele ria. Eu gritava que era um absurdo e que ia chamar a polícia. Ele ria”, conta a jovem.

No caminho, ela ainda tentou explicar que havia dispensado a sacola, contudo, explica que o segurança não acreditou. De acordo com Bruna, todas as pessoas ao redor estavam a olhando, o que tornou a humilhação ainda maior.

Ao chegar na loja, ficou constatado que ela havia, de fato, comprado o caderno. “Cheguei na loja, mostrei a nota para a fiscal, ela viu que eu não havia roubado. Pediu para me acalmar. Disse que ‘não tinha porque eu gritar’ e que ‘o segurança só estava fazendo o trabalho dele’. E que, às vezes, ‘isso acontece'”, conta.

Não é ‘mimimi’

A jovem registrou um boletim de ocorrência na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância e o caso será investigado.

“Jamais deixaria passar isso impune. Isso jamais deveria acontecer com absolutamente ninguém, independente da cor, gênero, ideologia, etc. Jamais. É mais que absurdo. É imperdoável!”, escreveu a jovem em nova postagem.

Bruna ainda faz um alerta para as pessoas que julgam a situação como uma mentira. “Gostaria de dizer às pessoas que disseram que isso é fake, que existe um mundo além da bolha em que vocês vivem. Não é fake news o que mostra nos jornais, a quantidade de negros que morrem aqui no Brasil diariamente. Somos o país que mais mata negros no mundo. Isso é grave!”, desabafa.

A jovem reforça que o racismo não é ‘mimimi’, e sim um crime, algo muito sério. “As pessoas que falam isso, geralmente não passaram por nenhum tipo de constrangimento psicológico ou físico. Não querem ver além do seu mundo. É necessário que abram a mente e apoiem quem passa por isso. A vida é muito mais do que o que acontece na sua própria casa”, disse a jovem ao BHAZ.

Repercussão

Nas redes sociais, os internautas se revoltaram com a história e mostraram solidariedade à Bruna.

“Força! Esse tipo de situação não pode ficar impune! Já passei pela mesma situação, mas por vergonha não fui atrás dos meus direitos”, disse um internauta nos comentários da postagem. “E ainda tem quem diga que é ‘mimimi’. Só quem tem a pele preta sabe o que é racismo. Processo neles!”, escreveu outra pessoa.

A jovem agradeceu pelo apoio de todos. “Gostaria de agradecer profundamente, cada mensagem de carinho que recebi de vocês. Cada palavra. Por tirarem um minuto para ler a minha história e me mandarem luz. Foi a coisa mais linda que eu já vi na minha vida. Me fez acreditar num país bonito”, escreveu.

Vitor Fernandes[email protected]

Sub-editor, no BHAZ desde fevereiro de 2017. Jornalista graduado pela PUC Minas, com experiência em redações de veículos de comunicação. Trabalhou na gestão de redes do interior da Rede Minas e na parte esportiva do Portal UOL. Com reportagens vencedoras nos prêmios CDL (2018, 2019, 2020 e 2022), Sindibel (2019), Sebrae (2021) e Claudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados (2021).

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