Um caso de racismo, em que um homem negro foi acusado de furto em um hospital do Rio Grande do Sul no sábado (18), pode ter resultado em uma morte. Segundo depoimentos, o idoso foi agredido por funcionários do hospital e, ao saber da confusão, sua esposa teve uma parada cardíaca e morreu.
A Polícia Civil investiga o caso de agressão contra Everaldo da Silva Fonseca, de 62 anos, na cidade de Gravataí, na região metropolitana de Porto Alegre. Segundo o G1, o idoso acompanhava a esposa, Maria Gonçalves Lopes, que estava internada no Hospital Dom João Becker por problemas no fígado.
Como ocorreu?
Na madrugada do sábado, ele foi acusado por funcionários do hospital de ter furtado o celular de uma auxiliar de enfermagem. Segundo a publicação, Everaldo acusa os funcionários de o agredirem e proferirem ofensas de conotação racial, e afirma que o celular foi encontrado minutos depois, em uma sala dos empregados da instituição.
“Me revistaram e levaram para um corredor escuro. Apanhei, tomei soco nas costas, um chute do guarda, pisão no pé. Me disseram um monte de palavras de baixo calão. Eu disse pra ele que era um homem de 60 e poucos anos e que eu não ia tá apanhando, passando a maior vergonha. Gritava para me largar e não me largavam”, relatou o homem ao G1.
Uma das filhas do casal contou que, ao saber que o marido estava envolvido em uma briga, Maria Gonçalves passou mal, teve um ataque cardíaco e morreu. Segundo o G1, o corpo da mulher foi enterrado nesse domingo (19).
Ainda no sábado, Everaldo da Silva registrou um boletim de ocorrência na Delegacia de Polícia de Gravataí. O delegado responsável pelo caso afirmou ao G1 que a Polícia Civil já encaminhou um exame de corpo de delito e investiga constrangimento ilegal, injúria racial e lesões corporais.
Em nota enviada ao portal Giro de Gravataí, o Hospital Dom João Becker nega a ligação dos ocorridos. Segundo a Santa Casa, a morte ocorreu horas depois da acusação de furto e não houve agressão ou injúria racial. Leia abaixo a nota do hospital.
Nota do Hospital Dom João Becker
“Com relação aos fatos ocorridos nas dependências do Hospital Dom João Becker na madrugada do último sábado, 18/04, envolvendo familiar de paciente, salientamos que, na manhã deste domingo, 19/4, foi iniciada uma sindicância interna para averiguação do evento, com base no Código de Conduta vigente em todos os hospitais da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre. Assim, com base nos elementos apurados até o momento, cabe informar:
1. A paciente foi levada ao hospital Dom João Becker pela SAMU na manhã do dia 17/4 em estado grave em razão de doença pré-existente. Recebeu todo atendimento médico necessário ao quadro clínico.
2. Por volta de 4h00, houve um episódio de suspeita de furto de celular nas dependências do hospital, no qual lamentavelmente, por circunstâncias, o familiar acabou sendo envolvido. Contudo, a situação foi prontamente esclarecida. A suspeita não decorreu de motivo racial, tampouco houve agressão ou injúria racial conforme especulado indevidamente em redes sociais;
3. No momento do fato a paciente encontrava-se dormindo e não tomou conhecimento do ocorrido. O óbito ocorreu por volta de 9h50 por causas naturais, devido à gravidade de doença crônica pré-existente, não havendo qualquer relação plausível de causa e consequência entre os eventos, conforme atestam todos os documentos de registro assistencial;
4. A Direção do Hospital Dom João Becker lamenta profundamente o ocorrido, que está em total desalinhamento com seus padrões éticos e de conduta e informa que os envolvidos foram afastados de suas funções até à conclusão das apurações.
Por fim, informamos que a apuração, para maior detalhamento dos fatos, ainda está em curso e os resultados serão divulgados oportunamente.
Hospital Dom João Becker
Gravataí, 19 de abril de 2020″
