Mãe compra boneco para o filho e repercussão assusta: ‘Coisa de menina’

Uma estudante de 23 anos, que vive em Nitéroi (RJ), usou o Facebook na última semana para publicar fotos em que aparecia ao lado do filho e de um boneco comprado para a criança, que tem 1 ano e seis meses. As mesmas imagens foram compartilhadas em um grupo de mães. As reações recebidas pela jovem, no entanto, não foram as melhores. Ela passou a ser criticada por dar um “brinquedo de menina” para o garoto, mas resolveu rebater os apontamentos.

Geórgia Veloso explicou em uma nova postagem que as críticas diziam, principalmente, a respeito de suposta influência provocada pelo boneco na sexualidade do filho. “Eu tô criando um ser humano mais gentil e que vai ser um ótimo pai, a sexualidade dele, ele vai decidir no futuro mas eu tenho certeza que não vai ter nenhuma relação com o fato de ele ter um neném”, escreveu a mãe. O psicólogo Eduardo Lucas Andrade conta, em conversa com o BHAZ, que não há nada que comprove a capacidade de um brinquedo influenciar na sexualidade de uma criança (leia mais abaixo).

A mãe do garoto também conversou com a reportagem nesta segunda (16). Ela disse ter levado um susto ao perceber a repercussão relacionada ao fato de o filho ter um boneco, carinhosamente chamado de “Neto”. “Eu comprei o Neto para o Caio há poucos dias depois de perceber que ele se interessava pelas bonecas nas lojas. Não quis dar uma boneca especificamente, a princípio, por imaginar que poderia ter críticas de pessoas próximas. Decidi comprar um boneco e não foi diferente, mas logo que o vi sabia que deveria comprá-lo”, conta.

“Algumas pessoas me criticaram dizendo que é um brinquedo de menina, que eu estou influenciando a sexualidade do Caio. Eu não esperava por isso, já que acredito ser algo super natural. O que mais me surpreendeu é que essas críticas partiram de mulheres que são mães. Será que os maridos, companheiros delas, ajudam em casa e fazem a parte deles?. Não é uma obrigação só da mulher e é isso que meu filho está aprendendo”, diz.

Apesar dos julgamentos que recebeu, a jovem diz perceber que o comportamento do filho mudou logo que ele ganhou o brinquedo. “Foi uma conexão muito forte e rápida. Ele começou a ter os cuidados que eu tenho com ele com o boneco. Ele sempre foi de dividir as coisas, mas agora percebo outros tipos de cuidado. Chega a ser engraçado”, relata. “Ele nunca mais reclamou pra tomar banho, escovar o dente e até começou a dormir na hora certa. Tudo porque enquanto eu faço com ele, ele também faz com o neném”, explicou, também, por meio do Facebook.

Geórgia ainda diz que o pai de Caio, Bruno Maio, concorda com o posicionamento dela e que o homem é um exemplo para o filho. “O Bruno acha super legal esses cuidados. Ele é um exemplo para o Caio por dividir tudo em casa comigo e por ser responsável junto comigo, lado a lado”, finaliza.

Brinquedo de afeto

Procurado pelo BHAZ para falar a respeito do assunto, o psicólogo mineiro Eduardo Lucas Andrade diz que não há comprovação de que um brinquedo possa interferir na sexualidade de uma criança. “Não, não há nada que comprove. Aqueles que dizem que influencia, dizem mais numa condição de julgamento. Diz mais sobre eles do que da criança que brinca”, pondera.

O especialista relata que o brinquedo tem um papel importante no desenvolvimento das crianças, mas que a escolha dele é algo secundário.”A criança brinca, primeiramente, com a fantasia e não com o brinquedo. Esse brinquedo não vai influenciar a sexualidade de ninguém. Ele reorganiza simbolicamente a criança no mundo, dando recursos para que ela se desenvolva bem. Não há um brinquedo que seja para menino ou para menina, isso é culturalmente definido e não psiquicamente organizado”, diz.

Eduardo ainda ressalta que, culturalmente, a sociedade legitima outros brinquedos mais prejudiciais como réplicas de armas, por exemplo. “A sociedade que critica o brinquedo do afeto, do cuidado, é a mesma que legitima brinquedos de destruição, que favorecem o lastimável machismo contemporâneo”, conta.

Por fim, o psicólogo explica que a sexualidade das pessoas não deveria ser motivo de preocupação, mas sim as relações de ódio. “Não é preocupante se alguém vai ser hétero, homossexual, trans, ou a sexualidade que lhe vier. Preocupante é a falta de ética dos seres humanos. Transexualidade, bissexualidade, homossexualidade, não são doenças”, afirma. “Se temos aqui um problema no âmbito da sexualidade este está nas relações de ódio e não nas variantes do amor”, pondera.

E finaliza: “Brincar é o melhor remédio para a vida das crianças. Então, brincar de boneco ou de outras coisas é mais saudável que o desamparo que o controle sem embasamento e o achismo colocam. Não há padrão na sexualidade, mas se os pais ou familiares têm dificuldade para lidar, podem buscar ajuda. São questões que são mais deles do que das crianças”.

Roberth Costa[email protected]

De estagiário a redator, produtor, repórter e, desde 2021, coordenador da equipe de redação do BHAZ. Participou do processo de criação do portal em 2012; são 11 anos de aprendizado contínuo. Formado em Publicidade e Propaganda e aventureiro do ‘DDJ’ (Data Driven Journalism). Junto da equipe acumula 10 premiações por reportagens com o ‘DNA’ do BHAZ.

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