Mãe denuncia racismo em escola que fantasiou filho de três anos com máscara de macaco

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Menino tinha sido fantasiado de palhaço pela mãe e recebeu uma máscara de macaco na escola (Arquivo Pessoal/Stephanie Silva)

Uma mãe afirma que o filho de três anos foi vítima de racismo no CEI (Centro Educacional Infantil) Monte Carmelo II, em Itaquera (SP). O caso foi registrado na sexta-feira (27), quando educadores da escola vestiram o pequeno Murilo, que é negro, com uma máscara de macaco para uma apresentação. Em nota, o instituto manifestou “profunda indignação” quanto à acusação.

No Instagram, Stephanie postou um vídeo chorando e relatou que a festa do filho na escola “era para ser uma divertida lembrança”, mas terminou de forma desagradável. No post, ela contou que os pais e responsáveis receberam um bilhete do CEI sugerindo o envio das crianças fantasiadas de acordo com o tema “circo”.

“Comprei uma calça, escolhi uma camisa que combinasse, comprei gravatinha, tinha nariz de palhaço, as bochechas e até os olhinhos pintados”, disse a mãe do menino. “Estávamos todos muito ansiosos em ver a empolgação dele”, acrescentou. “O Murilo acordou cedo, se trocou feliz, entramos contentes, inclusive tiramos fotos”.

Máscara de macaco

Após mandar Murilo para a escola, Stephanie recebeu um vídeo em que o filho apareceu usando uma máscara de macaco para atuar em uma apresentação musical. Segundo ela, a música que tocava era “Duelo de Mágicos”, cuja letra diz “você virou, você virou um macaco”.

“Ao ver o vídeo me doeu, me doeu como mulher preta, mas me dói como mãe de um filho preto. Como explicar para todas as crianças da escola que viram meu filho com a máscara de macaco e ouviram o trecho da música: – você virou, você virou um macaco! Que era uma atração e não a realidade?”, questionou a mulher.

Ela acrescentou: “Como explicar, após a apresentação, que eles não podem chamar o amiguinho preto de macaco? Até quando pretos, seremos escolhidos ‘equivocadamente’, como disse a escola, para representar um macaco? Meu filho só tem 3 anos e se escuta a música fala: mamãe eu virei um macaco, sou um macaco!”.

Escola bloqueia

Stephanie disse que estava muito triste por não ter defendido o filho no momento e por nenhuma profissional presente ter impedido. A empreendedora também contou que a escola lhe bloqueou e chegou a desativar a conta do Instagram.

“Como vou confiar, a partir de agora, que qualquer outra escola irá acolher, proteger meu filho e tantas outras crianças? Minha vontade neste exato momento é envolvê-lo em uma bolha e evitar tudo de ruim que ele possa sofrer”, lamentou. Confira a postagem completa feita por Stephanie Silva.

Mãe registra boletim de ocorrência

Ao BHAZ, a equipe jurídica de Stephanie informou que ela registrou um Boletim de Ocorrência contra o CEI. A reportagem entrou em contato com a Polícia Civil do Estado de São Paulo para informações sobre a investigação do caso, mas ainda não obteve retorno. Tão logo o órgão se pronunciar, esta matéria será atualizada.

A SME (Secretaria Municipal de Educação) da Prefeitura de São Paulo disse ao BHAZ, por meio de nota, que o caso será apurado. “A Diretoria Regional de Educação (DRE) notificará a Organização da Sociedade Civil (OSC) responsável pela unidade para esclarecimentos, sob risco de penalização, conforme legislação. A DRE está à disposição da responsável pela criança” (leia a nota na íntegra abaixo).

Acusação “injusta e leviana”

O Centro Educacional Infantil Monte Carmelo II publicou uma nota nas redes sociais, neste sábado (4). Na publicação, a Associação Evangélica Carmelo, que faz a gestão da escola, disse estar “profundamente indignada quanto à acusação de crime racial, diga-se injusta, que vem se espraiando nas diversas mídias sociais de maneira leviana e irresponsável”.

“Esta instituição jamais compactuaria com qualquer conduta ou gesto que tenha por objeto o racismo. Desta forma e por oportuno informamos que todas as medidas judiciais já estão sendo tomadas para o devido esclarecimento real dos fatos”, finaliza o comunicado. Leia na íntegra abaixo:

Nota da Secretaria Municipal de Educação na íntegra

A Prefeitura de São Paulo, por meio da Secretaria Municipal de Educação (SME), informa que o caso será apurado e a Diretoria Regional de Educação (DRE) notificará a Organização da Sociedade Civil (OSC) responsável pela unidade para esclarecimentos, sob risco de penalização, conforme legislação. A DRE está à disposição da responsável pela criança.

Andreza Miranda[email protected]

Graduada em Jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e repórter do BHAZ desde 2020. Participou de duas reportagens premiadas pela CDL/BH (2021 e 2022); de reportagem do projeto MonitorA, vencedor do Prêmio Cláudio Weber Abramo (2021); e de duas reportagens premiadas pelo Sebrae Minas (2021 e 2023).

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