Médico pede desculpas após filmar trabalhador acorrentado: ‘Foi uma zoeira’

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O médico Marcio Antonio Souza Junior pediu desculpas após publicação do vídeo (Reprodução/@dr_marcim/Instagram)

Após filmar um trabalhador negro acorrentado em uma fazenda, um médico de Goiás voltou às redes sociais para explicar a situação e se desculpar. Segundo Marcio Antonio Souza Junior, tudo não passou de uma “brincadeira”. Ele está sendo investigado pela Polícia Civil. O caso gerou indignação na web.

Um médico de Goiás tornou-se alvo de críticas nas redes sociais, ontem (16), depois que um vídeo publicado por ele no Instagram ganhou repercussão no Twitter. Nas imagens, é possível ver que o homem chega a um espaço, parecido com uma fazenda, e mostra outro acorrentado, pelas mãos, pés e até mesmo no pescoço.

“Falei para estudar, não quer, agora vai ficar na minha senzala”, diz o médico logo no começo das imagens. “Vamos ver se não estuda”, continua enquanto puxa a corrente presa ao pescoço do homem e dá risada. “Tenta fugir, pode ir embora”, completa. Nas imagens, é possível ver que, embora acorrentado, o homem interage tranquilamente com o médico.

Nas redes sociais, o registro é repudiado por todo o contexto, mas principalmente pelas falas do médico e o fato de acorrentar uma pessoa negra. “Inacreditável um absurdo desse, alguém está esperando o que pra tomar uma providência?”, questionou um internauta. “Revoltante, estou sem palavras”, comentou outro. “Depois dizem que não existe racismo”, ponderou um terceiro.

‘Foi uma zoeira’

Após a grande repercussão negativa do caso e a “brincadeira” ir parar na polícia, o médico voltou às redes sociais, junto com o trabalhador, para tentar explicar a situação. “Em relação a peça fictícia, que eu e meu amigo Camarão fizemos, gostaria de deixar bem claro que a gente fez um roteiro juntos, a quatro mãos”, começou o homem pelos stories do Instagram.

“Foi como se fosse um filme, foi uma zoeira, não teve intenção nenhuma de magoar, irritar, nenhuma apologia a nada. Gostaria de deixar bem claro que o Camarão é meu amigo, e pedir desculpas se alguém se sentiu ofendido. Foi uma encenação teatral, desculpas”, prosseguiu o médico.

Identificado como Camarão, o trabalhador que aparece no vídeo também defende o médico. “Ele é como o meu pai, não tenho nem como falar nada, sem palavras. Ele que me ajuda em tudo. Quem colocou as correntes fui eu, foi uma brincadeira. As argolas também fui eu. Não foi para magoar ninguém, e peço desculpas para todo mundo”.

Em nota enviada ao BHAZ (leia abaixo na íntegra), a Polícia Civil disse que “irá apurar se o fato se trata apenas de uma brincadeira de profundo mau gosto ou de possível prática de constrangimento ilegal e injúria racial”.

Racismo x Injúria racial

A injúria racial consiste em ofender a honra de alguém valendo-se de elementos referentes à raça, cor, etnia, religião ou origem. Já o racismo atinge uma coletividade indeterminada de indivíduos, discriminando toda a integralidade de uma raça. O crime de racismo é inafiançável e imprescritível.

Por meio de nota, a Polícia Civil explica que o vídeo do homem acorrentado foi recebido na Delegacia da Cidade de Goiás. Segundo a corporação, as imagens teriam sido feitas em um colégio na zona rural da cidade. Tanto o médico quanto o homem acorrentado serão intimados para prestar explicações. O BHAZ também fez contato com a PM, e com o médico, mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem. A matéria será atualizada se as demandas forem atendidas.

Nota da Polícia Civil na íntegra

Um vídeo foi recebido na Delegacia da Cidade de Goiás, onde é mostrado um jovem amarrado com correntes de artesanato. A filmagem teria sido feita em um colégio na zona rural da Cidade, por nome Holanda. Em outras postagem feitas pelo titular do perfil, é possível ver autor e vítima conversando em tom de brincadeira.

A Delegacia da Cidade de Goiás irá apurar se o fato se trata apenas de uma brincadeira de profundo mau gosto ou de possível prática de constrangimento ilegal e injúria racial.

O jovem filmado, assim como o autor da postagem, serão intimados para comparecer a esta delegacia ainda hoje para esclarecer o ocorrido. Até o momento, não está esclarecido se o jovem filmado é funcionário ou amigo do autor do post”.

Edição: Roberth Costa
Vitor Fernandes[email protected]

Sub-editor, no BHAZ desde fevereiro de 2017. Jornalista graduado pela PUC Minas, com experiência em redações de veículos de comunicação. Trabalhou na gestão de redes do interior da Rede Minas e na parte esportiva do Portal UOL. Com reportagens vencedoras nos prêmios CDL (2018, 2019, 2020 e 2022), Sindibel (2019), Sebrae (2021) e Claudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados (2021).

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