Mineiro é intimidado diante de canto homofóbico de torcedores do Palmeiras: ‘Bolsonaro vai matar veado’

Reprodução/Facebook

Um mineiro natural de Pouso Alegre, no Sul do Estado, flagrou torcedores do Palmeiras entoando um canto homofóbico na Estação da Sé, em São Paulo, no domingo (30). Vídeos que mostram o episódio circulam pelas redes sociais desde o início desta semana e dão o que falar. Na quinta-feira (4), a Secretaria de Justiça e Defesa da Cidadania de São Paulo recebeu a denúncia sobre o caso, e os autores poderão ser multados.

O episódio ocorreu quando o jovem se preparava para pegar o metrô quando foi intimidado por um dos homens que fazia coro à música improvisada: “Ô bicharada, toma cuidado, o Bolsonaro vai matar veado”. Na última semana, o Atlético foi multado pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) depois que a torcida entoou um canto parecido no dia 16 de setembro, no Mineirão, em jogo contra o Cruzeiro.

Luis Othavio Nunes, de 18 anos, foi a São Paulo a passeio e para participar do ato em repúdio a Jair Bolsonaro (PSL), já que é um dos administradores de um grupo de LGBT’s contra o presidenciável, que reúne mais de 450 mil membros no Facebook. Ele conta que havia saído de uma festa e que estava com parte do rosto coberto por glitter quando passou a perceber uma movimentação estranha na estação. O jovem falou ao Bhaz sobre o episódio nesta quinta (4).

“Eu estava decidindo se voltaria para Pouso Alegre ou se iria para a avenida Paulista encontrar meus amigos quando cheguei à estação. Tinha um grupo de eleitores do Bolsonaro do outro lado do metrô quando os palmeirenses chegaram. Eles começaram a gritar algo com ‘veado’ e só depois eu entendi. Um rapaz passou por mim e fez sinal de arma com a mão, fiquei assustado”, explica. Ele atribui o sinal ao fato de estar com o rosto ainda “marcado” pela purpurina. Atos pró-Bolsonaro ocorreram em São Paulo no mesmo dia em que as imagens foram gravadas.

“Depois que os torcedores chegaram, o canto ficou ainda mais alto e eu resolvi gravar. Mas gravei meio escondido por ter medo de fazerem algo comigo. Tinha um rapaz negro do lado e eu fui comentar, já que todos assistiam e ninguém falava nada. Ele respondeu que não podia ‘fazer nada’ e que alguns [gays] mereciam ‘morrer mesmo'”, relata. “Depois disso, resolvi voltar direto para Pouso Alegre, não tinha clima de continuar em São Paulo, fiquei arrasado”, conta.

Luis estava com parte do rosto coberto de purpurina e foi intimidado por um torcedor (Arquivo Pessoal)

Ainda de acordo com o rapaz, que é professor de línguas estrangeiras, a situação o fez pensar sobre qual seria a motivação para querer a morte de alguém. “Eu mereço morrer por me relacionar com outra pessoa do mesmo sexo? Fiquei muito triste, não tinha sentido cantarem aquilo. Se fosse no estádio poderiam justificar que era o ambiente, o contexto – o que não concordo -, mas fiquei surpreso com a naturalidade daquele ato de ódio gratuito”, disse.

Nunes explica que postou o vídeo quando chegou em casa e que estranhou o fato de não haver repercussão a respeito do ocorrido, já que várias pessoas na estação registram o fato. “Fui para casa chorando, peguei o primeiro ônibus. Fiquei espantado, me parece que as pessoas não se importam com a vida dos outros, dos que são diferentes deles. É um ódio gratuito”, pondera. “Tinha crianças perto e eles falando em matar as pessoas, como pode um candidato que diz defender família e segurança ser referência para a morte?”, questiona.

Lei contra homofobia em SP

Em 2001, passou a valer em São Paulo uma lei estadual contra a homofobia. Ela diz que qualquer cidadão pode ser punido por atos discriminatórios em razão de orientação sexual e identidade de gênero. Para que um processo seja aberto, no entanto, é necessário fazer denúncia junto à Secretaria de Justiça e Defesa da Cidadania. Além de receber uma advertência, o autor pode ser punido com multa de R$ 1 mil, que pode ser aumentada para R$ 3 mil em caso de reincidência. O mesmo vale para comércios e estabelecimentos diversos. Saiba mais.

A Secretaria de Justiça e Defesa da Cidadania informou ter recebido nessa quinta-feira (4), em sua ouvidora, uma denúncia relacionada ao episódio, feita pela Comissão da Diversidade Sexual da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em São Paulo.

“A partir do recebimento da denúncia é aberto um expediente que é remetido à Coordenação de Políticas para a Diversidade Sexual, que dá um parecer sobre o caso. Em seguida, o expediente é encaminhado ao secretário da Justiça e da Defesa da Cidadania, que decide sobre abertura ou não de processo administrativo. Se houver determinação pela abertura, a Comissão Processante Especial instrui um processo com base na Lei 10.948/01”, explicou o órgão.

Palmeiras não se posiciona

No dia em que as imagens foram gravadas, o Palmeiras havia jogado contra o Cruzeiro. O Verdão venceu por 3 a 1 em partida realizada no Estádio Pacaembu, pela Série A do Brasileirão. Procurado pelo Bhaz, ainda nessa quinta (4), para comentar o canto homofóbico da torcida na Estação da Sé, o clube não deu retorno até a publicação desta reportagem.

Roberth Costa[email protected]

De estagiário a redator, produtor, repórter e, desde 2021, coordenador da equipe de redação do BHAZ. Participou do processo de criação do portal em 2012; são 11 anos de aprendizado contínuo. Formado em Publicidade e Propaganda e aventureiro do ‘DDJ’ (Data Driven Journalism). Junto da equipe acumula 10 premiações por reportagens com o ‘DNA’ do BHAZ.

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