Modelo grava e denuncia assédio por parte de hóspede em hotel: ‘Tô louco para fazer amor com você’

samen dos santos
Samen dos Santos afirma que funcionário entregou recados do assediador; hotel nega (Reprodução/samendossantos/Instagram)

Uma modelo que vive no Rio de Janeiro, 31, usou as redes sociais, nesta semana, para denunciar ter sido alvo de assédio por parte de um hóspede em um hotel de Araçatuba, em São Paulo. A mulher relata que o homem pediu a um funcionário do Mariá Plaza Hotel para abordá-la, em diferentes ocasiões, e divulgou um vídeo em que é possível ver que o próprio denunciado se dirige a ela de forma inconveniente. “Tô louco para fazer amor com você”, diz o homem, que aparenta ser idoso. A modelo reage e diz que ele está sendo inconveniente e que a abordagem é uma falta de respeito. Ele pede desculpas, mas insiste na ação.

Samen dos Santos estava em Araçatuba para ser fotografada para uma marca. Ela conta que estava tomando sol em uma área externa do hotel quando o homem a abordou e, depois de ouvir o comentário, ficou extremamente desconfortável. Nas imagens (assista abaixo na íntegra), Samen rebate o abuso dizendo que não seria tratada daquela maneira, e pede que o homem se afaste. Ele deixa o local e, indignada, ela começa a chorar. “Não há idade! Não há hora! Não há lugar! Se um homem se achar no direito de assediar uma mulher, ele vai assediar”, desabafou no Instagram.

‘Ele quer saber quanto você cobra’

Em conversa com o BHAZ, Samen conta que tudo começou quando ela retornava de uma corrida para o hotel. O senhor estava sentado em uma mesa externa do restaurante e exclamou: “Nossa, como você é linda!” mais de uma vez. Em um primeiro momento, ela agradeceu e desejou bom dia a todos os hóspedes que estavam ali.

Samen lembra que foi almoçar e, quando chegou no restaurante, o mesmo homem voltou a incomodá-la. “Eu sentei, estava de costas pra ele, a uns três metros, e ele começou a falar oi, a fazer ‘pss, pss’. Eu permaneci de costas. Aí esse senhor pediu para um funcionário do hotel falar comigo”, recorda.

O funcionário teria ido até a modelo e contado que o senhor tinha manifestado interesse nela. “Ele disse: ‘nossa, o hóspede pediu para eu te dizer que ele está a fim de você’. Aí eu deixei bem claro que não tinha interesse e que era uma mulher casada. Logo em seguida, já tinha até iniciado o meu almoço, o mesmo funcionário veio e falou que ele [o senhor] perguntou se eu queria beber alguma coisa”.

Samen destacou que não queria nada do hóspede e salientou que a insistência já estava gerando incômodo. Depois de almoçar rapidamente, subiu para buscar um livro em seu quarto e foi até a área da piscina. O funcionário se aproximou novamente e disparou: “O senhor perguntou ali o que você quer, o que você gostaria”. Já extremamente desconfortável, Samen foi questionada “quanto ela cobrava” para ficar com o idoso.

Modelo sentiu solidão e medo

Depois de mais alguma insistência, Samen afirmou que a situação estava passando dos limites e o rapaz foi embora. Mais uma vez, ele voltou e alegou que “não poderia deixar de falar” com ela, pois o hóspede em questão era “muito importante” e estava na suíte principal do hotel. Disse, ainda, que estava apenas recebendo ordens.

A modelo explica à reportagem que já estava quase se retirando da área externa, tamanho o desconforto que sentiu, quando o senhor a abordou por conta própria. “Logo em seguida, eu voltei para o quarto, estava bem nervosa e chorei bastante. Não reportei para ninguém do hotel naquele momento, porque se aquele senhor estava tão livre e à vontade no hotel, quem ele era? Óbvio que comecei a criar um medo”.

“Havia os funcionários do hotel, inclusive um que ficou o tempo todo me passando recado, e outros que viam toda a questão. Como é que eu vou me sentir segura pra falar com alguém do hotel? Eu não falei com ninguém do hotel, fiquei muito insegura”, recorda Samen. O receio foi tanto que, na hora de dormir, ela colocou cadeiras na porta para impedir a entrada de alguém.

Como estava em uma cidade desconhecida, onde não havia rostos familiares, a modelo não encontrou forças para reportar o ocorrido. “Eu não sabia a quem recorrer. Nem o meu contratante eu conhecia. No dia seguinte, uma pessoa da equipe foi me buscar e, depois que eu conheci todo mundo, eu falei o ocorrido e eles foram incríveis, me deram todo o apoio necessário, me trocaram de hotel”, lembra, com gratidão.

Já advogada da modelo, Andressa Werlang, explica que uma ocorrência foi registrada junto às autoridades para que o idoso seja identificado. Em relação ao hotel, a defensora diz que o local pode ser responsabilizado pela atitude do funcionário que teria feito abordagens a pedido do idoso.

Hotel se pronuncia

Questionada pelo BHAZ, a advogada do Mariá Plaza Hotel, Cláudia Crepaldi, afirma que algumas informações publicadas por Samen não são verdadeiras. Ela afirma, por exemplo, que havia somente um garçom escalado no horário em que Samen teria sido assediada, e que ele nega as acusações de ter passado os recados do idoso.

A defesa ainda afirma que o hotel não é conivente e repudia qualquer tipo de assédio, definindo o ocorrido como um fato isolado entre a modelo e o hóspede que a assediou. O momento da abordagem, tanto do funcionário quando do senhor, não foram captados por câmeras de segurança, já que o fato ocorreu na piscina.

Em contato com a reportagem, a advogada do hotel narra que compareceu à delegacia e registrou um boletim de ocorrência para preservar os direitos do funcionário. Em nota (leia abaixo na íntegra), o hotel informa que o hóspede que assediou Samen já deixou o local e está proibido de fazer novas hospedagens.

Abuso pode levar a traumas

A psicóloga e sexóloga Enylda Motta explica ao BHAZ que casos como os de Samen podem gerar traumas, fobias e inseguranças. Ainda que as mulheres estejam condicionadas ao tratamento discriminatório desde a infância, essa realidade não minimiza os impactos de um assédio ou abuso sexual.

“Isso pode afetar a vida da pessoa tanto no aspecto sexual quanto de relacionamento. E, por mais que denuncie, a mulher ainda fica se perguntando o que fez de errado. Escuto muito essa preocupação nos meus atendimentos. Foi minha roupa? Algo que falei? Sendo que a culpa não é dela. Acaba levando à retração e dificuldade de se relacionar”, diz.

Enylda destaca que nunca acreditamos que algo do tipo acontecerá conosco. Acreditamos que as pessoas são boas e, portanto, a primeira reação do cérebro é a de proteção. “Quando esbarramos naquilo, questionamos como lidaremos e ficamos paralisadas. Temos muito receio do que ainda pode acontecer, então o efeito do medo nos protege”.

Onde conseguir ajuda?

Ao BHAZ, a psicóloga salienta que não existe só um tipo de violência sexual. Além do abuso físico, existem a violência patrimonial, o assédio e outras tantas. Se acontecer com você, o ideal é buscar acompanhamento psicológico e, em certos casos, até mesmo o apoio de medicamentos.

Caso você seja vítima de qualquer tipo de violência de gênero ou conheça alguém que precise de ajuda, pode fazer denúncias pelos números 181, 197 ou 190. Além deles, veja alguns outros mecanismos de denúncia:

  • Delegacia Especializada em Atendimento à Mulher
  • av. Barbacena, 288, Barro Preto | Telefones: 181 ou 197 ou 190
  • Casa de Referência Tina Martins
  • r. Paraíba, 641, Santa Efigênia | 3658-9221
  • Nudem (Núcleo de Defesa da Mulher)
  • r. Araguari, 210, 5º Andar, Barro Preto | 2010-3171
  • Casa Benvinda – Centro de Apoio à Mulher
  • r. Hermilo Alves, 34, Santa Tereza | 3277-4380
  • Aplicativo MG Mulher: Disponível para download gratuito nos sistemas iOS e Android, o app indica à vítima endereços e telefones dos equipamentos mais próximos de sua localização, que podem auxiliá-la em caso de emergência. O app permite também a criação de uma rede colaborativa de contatos confiáveis que ela pode acionar de forma rápida caso sinta que está em perigo.

Seja qual for o dispositivo mais acessível, as autoridades reforçam o recado: peça ajuda.

Nota do Mariá Plaza Hotel na íntegra

“O MARIÁ PLAZA HOTEL INFORMA QUE REPUDIA TODO E QUALQUER ATO DE ASSÉDIO, DE QUALQUER NATUREZA.
O HÓSPEDE QUE APARECE NO VÍDEO JÁ DEIXOU O HOTEL E ESTÁ PROIBIDO DE FAZER NOVAS HOSPEDAGENS.
POR FORÇA DA LEI 13.709/2018, QUE DISPÕE SOBRE A PROTEÇÃO DE DADOS PESSOAIS, AS EMPRESAS DO RAMO HOTELEIRO SÃO OBRIGADAS A MANTER O SIGILO SOBRE AS INFORMAÇÕES DOS HÓSPEDES. ESSAS INFORMAÇÕES SERÃO REPASSADAS ÀS AUTORIDADES POLICIAIS ASSIM QUE FOREM REQUISITADAS.
O HOTEL INFORMA AINDA QUE TODOS OS SEUS COLABORADORES SÃO TREINADOS E ORIENTADOS A RESPEITAR A PRIVACIDADE DOS HÓSPEDES.
O FATO TAMBÉM ESTÁ SENDO APURADO INTERNAMENTE E, CASO FIQUE COMPROVADA A PARTICIPAÇÃO DE ALGUM FUNCIONÁRIO NO OCORRIDO, A EMPRESA TOMARÁ AS MEDIDAS CABÍVEIS.

A EMPRESA LAMENTA E REPUDIA O FATO OCORRIDO, E INFORMA QUE ESTÁ COLABORANDO COM AS INVESTIGAÇÕES E SE SOLIDARIZA COM A VÍTIMA.
ARAÇATUBA, 20 DE JULHO DE 2022.”

Edição: Roberth Costa
Nicole Vasques[email protected]

Jornalista formada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), escreve para o BHAZ desde 2021. Participou de reportagem premiada pela CDL/BH em 2022.

SIGA O BHAZ NO INSTAGRAM!

O BHAZ está com uma conta nova no Instagram.

Vem seguir a gente e saber tudo o que rola em BH!